Açoriano Oriental
De uma caixa de sapatos saiu um livro sobre romarias

“Por M.I.M. - O livro de Manuel Inácio de Melo que ficou 60 anos fechado numa caixa de sapatos” é apresentado quinta-feira,14 dezemebro. Reúne artigos publicados na imprensa e fotografias inéditas, e orações antigas recolhidas nos anos 60 junto dos mestres dos romeiros de São Miguel

De uma caixa de sapatos saiu um livro sobre romarias

Autor: Paula Gouveia

Ficaram guardados durante 60 anos numa caixa de sapatos. Despojada da sua antiga função, nela havia fotografias, negativos fotográficos, questionários e jornais antigos, cuidadosamente reunidos por Manuel Inácio de Melo entre 1958 e 1981.

Da caixa de sapatos que recebeu de um dos netos deste empreendedor e filantropo, Luís  Bettencourt Reis fez um livro. E, amanhã, “Por M.I.M. - O livro de Manuel Inácio de Melo que ficou 60 anos fechado numa caixa de sapatos” é apresentado, pelas 18h30, na Igreja de Santo André - Museu Carlos Machado, pelo Padre Dr. Luís Miguel Proença Leal.

A primeira publicação da Escritor Edições revela os dias do fundador da Agência de Viagens Melo e cofundador do Clube União Sportiva como romeiro em 1961, no rancho da sua terra natal, pelos  artigos que publicou na imprensa de então e pelas suas fotografias, e divulga ainda a recolha que fez das orações que os ranchos de  romeiros de São Miguel diziam durante as romarias, mas que ainda não estavam em papel, entre outros factos narrados em artigos diversos da sua autoria.

No primeiro capítulo, o leitor encontra as orações que este filantropo recolheu juntos dos ranchos de romeiros da ilha de São Miguel.  Em 1961, explica o autor, Manuel Inácio de Melo enviou um questionário a todos os mestres romeiros da ilha, pedindo orações que não estivessem escritas, com o intuito de fazer um livro. E o resultado é surpreendente: das 34 respostas ao questionário, não há uma oração repetida, o que demonstra bem a diversidade de orações que existia entre os ranchos, salienta Luís Bettencourt Reis.

Por estas respostas ao questionário, Luís Bettencourt Reis diz que se percebe que muitos mestres são pessoas iletradas - “as pessoas escreviam da forma como falavam, com erros ortográficos, e há orações escritas por outras pessoas a pedido de mestres que não sabiam escrever”. E há também um outro aspeto que se destaca: “a humildade como se dirigem a Manuel Inácio - são gente do campo”. 

Por outro lado, “há orações que indicam situações como a guerra do Ultramar ou a influência comunista, tida na altura como perniciosa”.

O segundo capítulo do livro é dedicado às suas crónicas e que o próprio Manuel de Inácio de Melo reuniu, amarradas por um cardaço, com o título manuscrito em papel  “Os dias da minha romaria”. Incide sobre o seu diário e as fotografias da romaria que fez, já com 63 anos, integrado no rancho de romeiros da Salga. “São 10 publicações que saíram semanalmente na imprensa, e que são o diário da sua romaria de 1961”, complementadas pelas fotografias inéditas dessa mesma romaria, explica.

E no terceiro capítulo - “Do jornal para uma memória do povo” - republicam-se os artigos que assinou nos jornais, entre 1958 e 1981, com “Por M.I.M.”, a sigla do seu nome. Publicações sobre romeiros e as romarias de São Miguel, e onde fala, por exemplo, da criação do primeiro rancho de romeiros da Ribeira Grande ou até da possível criação de um rancho de romeiros em Ponta Delgada.

Luís Bettencourt Reis explica que, quando recebeu o espólio, “não tinha por intuito uma publicação. Sou mestre do rancho de romeiros de São José e pensei que talvez encontrasse alguma oração que pudesse utilizar. Mas quando percebi que o seu objetivo seria publicar um livro, entendi que se poderia honrar essa vontade e a sua memória, e dar um contributo para a história das romarias quaresmais”.


O empreendedor, criativo e filantropo

Manuel Inácio de Melo nasceu a 25 de fevereiro de 1898 na freguesia da Salga, no Nordeste.

Iniciou a sua formação na escola da Achadinha, até vir para Ponta Delgada onde desempenhou várias atividades como marçano. Ingressou no exército, terminou o 3.º ano do secundário, o curso comercial e foi funcionário do Banco Micaelense. 

Foi fundador da Agência de Viagens Melo e cofundador do Clube União Sportiva. Entre poesia, prosa, jornalismo e artigos de opinião, a escrita fez sempre parte da sua vida. 

Escreveu para os jornais Açoriano Oriental, Correio dos Açores e Diário dos Açores, e, durante 31 anos assinou com o pseudónimo ALJAVA uma secção sobre caça no jornal A Ilha. Em 1948, publicou o livro “A passagem por São Miguel da imagem de Nossa Senhora de Fátima”.

Foi distinguido com a atribuição do seu nome a uma rua e à Escola Primária da Salga. Faleceu a 31 de agosto de 1986.


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