Autor: Lusa/AO Online
Numa mensagem
divulgada a propósito do Dia Mundial do Médico de Família, que hoje se
assinala, Miguel Guimarães considera que a efeméride é “uma oportunidade
para reconhecer o papel central dos médicos de família na prestação de
cuidados de saúde para toda a população”. “É
igualmente ocasião para celebrar o progresso feito na Medicina Geral e
Familiar, enaltecendo a qualidade, preponderância e o papel
indispensável destes especialistas”, disse o bastonário, lembrando a
qualidade dos médicos de família portugueses e elogiando a sua
capacidade de “resiliência, humanismo e solidariedade”, mesmo "nos
momentos mais difíceis que têm atravessado nos últimos anos de
pandemia". Na mensagem, Miguel Guimarães
avisa que “não haverá Serviço Nacional de Saúde sem médicos de família” e
lamenta que o mais recente balanço de dados da ACSS [Administração
Central do Sistema de Saúde] indique que existem 1,3 milhões de
portugueses sem médico de família atribuído. “Um número que tem vindo a crescer sistematicamente, em rumo contrário às promessas políticas”, sublinha. O
bastonário alerta que “a situação pode, ainda, piorar”, lembrando que
“cerca de 1.000 médicos de família podem pedir a reforma este ano”. “A
estes, somam-se 400 que podem vir a reformar-se em 2023 e quase 300 em
2024. Se todos os médicos em idade de reforma decidirem efetivamente
sair a situação ficará ainda mais crítica”, acrescenta. Defende
que a escassez de médicos de família no SNS “não se explica por uma
alegada falta de acesso à formação”, recordando que todos os anos,
durante a última década, “terminaram a especialidade de Medicina Geral e
Familiar cerca de 500 médicos”. “O
problema é que, destes, só cerca de 350 (70%) ingressam nos concursos
abertos e muitos deles acabam por sair do SNS nos anos subsequentes”,
insiste o bastonário, sublinhando que a migração para o setor privado e
para o estrangeiro é alta pois são oferecidas condições mais atrativas
de trabalho. “Neste momento há cerca de
1.500 médicos de família a trabalhar exclusivamente no setor privado ou
social e bastariam mais 700 no SNS para existir cobertura para todos os
utentes”, insiste. Miguel Guimarães diz
também que, enquanto o SNS não se tornar competitivo, a escassez de
médicos de família vai continuar: “Para fixar médicos são necessárias
condições diferentes de trabalho”. “Não se
trata apenas de remunerações justas e de acordo com o nível de
conhecimento e formação destes profissionais, trata-se, também, de
acesso à tecnologia, de incentivos locais, de desburocratização do
trabalho do médico, de oferecer uma expectativa de carreira e de
valorizar o seu trabalho e papel a todos os níveis no nosso sistema de
saúde público”, enumera. O responsável
recorda igualmente que no último concurso para médicos de Medicina Geral
e Familiar no SNS, aberto em dezembro de 2021, para um total de 235
vagas, com 241 candidatos, foram apenas preenchidas 160 vagas. “Ou
seja, 81 médicos que concorreram ao concurso optaram por não escolher
qualquer vaga, o que mostra que a oferta não é suficientemente
atrativa”. “É uma questão de justiça e de
sobrevivência do SNS: valorizar, de uma vez por todas, as
características únicas que fazem parte do ser médico”, conclui o
bastonário.