Autor: Lusa/AO Online
“A atual estrutura de capital da Lotaçor não é compatível com o nível de atividade da empresa”, refere o documento, a que a Lusa teve hoje acesso, adiantando que, da análise efetuada à capacidade de geração de 'cash flow', se pode "concluir que a Lotaçor necessitaria de um prazo superior a 45 anos para reembolsar a dívida atual, o que não é sustentável”.
De acordo com a auditoria, que incidiu no período entre 2016 e 2020, altura em que o executivo do socialista Vasco Cordeiro ainda governava na região, a empresa de lotas dos Açores tinha uma dívida superior a 30 milhões de euros (24,9 milhões de euros de “dívida não sustentável” e 5,9 milhões de “dívida sustentável”).
“Caso não seja possível o saneamento total da dívida não sustentável, deverá ser desenhado um plano intermédio, tendo por base o que será o plano de negócios a Lotaçor, a sua capacidade de geração de ‘cash-flow’ e a disponibilidade do acionista incluir verbas que possam suportar o serviço de dívida adicional”, adiantam os auditores.
A análise ao plano de negócios da empresa de lotas dos Açores revela também que as dificuldades de tesouraria resultam, em parte, do reduzido montante de transferências do acionista, o Governo Regional, que obriga a empresa a uma grande ginástica financeira.
“Esta situação, aliada ao facto de, por um lado, os custos não serem financiados a 100% e, por outro, o contrato-programa (com a região) não prever a comparticipação do serviço de dívida na íntegra, cria constrangimentos de tesouraria sucessivos”, refere o documento.
Mas, segundo a auditoria agora revelada, as principais dificuldades financeiras da Lotaçor resultam dos prejuízos registados na fábrica de conservas de Santa Catarina, que desde 2010 estava sob a alçada da empresa de lotas, mas que passou, entretanto, a ser explorada por privados.
“Em julho de 2021, o montante em dívida de Santa Catarina à Lotaçor ascendia a 19,5 milhões de euros”, e além disso, “a Lotaçor é avalista de 7,8 milhões dos financiamento de Santa Catarina”, pode ler-se no relatório da auditoria, que conclui que “é crítico aferir a viabilidade de Santa Catarina em cumprir com o reembolso dos saldos em dívida”.
A auditoria lembra que, até ao final deste ano, estão previstos investimentos na empresa de lotas da região no valor global de 13,4 milhões de euros, sendo 60% financiados através de fundos comunitários e 30% através de fundos regionais, que serão investidos em obras de requalificação de entrepostos frigoríficos.
A Lotaçor é responsável pelas operações de primeira venda de pescado descarregado e pela prestação de serviços de apoio ao setor das pescas, como a exploração de equipamentos de congelação e vendas de gelo.