Açoriano Oriental
15 milhões de euros é quanto o governo regional afeta ao desporto em 2019

António Gomes, o diretor regional do Desporto, fez ao jornal Açoriano Oriental uma radiografia da realidade do desporto nos Açores, sublinhando aquelas que são as principais prioridades do executivo em matéria de promoção da atividade física e desportiva na Região

15 milhões de euros é quanto o governo regional afeta ao desporto em 2019

Autor: Arthur Melo

A época 2018/2019 ainda não terminou, é certo, mas já é possível aferir o número total de atletas federados na Região e a respetiva taxa de participação desportiva?

Como é sabido existem diferentes épocas desportivas de acordo com as opções e as especificidades próprias de cada modalidade. Tradicionalmente os desportos coletivos e algumas modalidades individuais possuem épocas que abrangem dois anos civis, mas existe um número muito elevado de modalidades individuais que organizam a sua época de acordo com o próprio ano civil. Tal facto origina que quando uns terminaram a sua época, outros estão ainda a meio da mesma. Esta realidade leva a que os elementos de caracterização da prática desportiva federada apenas fiquem disponíveis na sua globalidade sempre com algum desfasamento temporal.

Neste momento estamos em fase de conclusão dessa caracterização relativamente às épocas desportivas de 2017/2018 (nas modalidades que abrangem partes de 2 anos civis) e 2018 (nas modalidades com época coincidente como ano civil).

Este é um processo sempre relativamente lento uma vez que para além da disponibilização dos elementos da designada demografia federada por cada associação de modalidade processa-se sempre uma validação dos mesmos junto da respetiva federação.

Esta consistência dos dados entre os relatórios associativos e os relatórios federativos tem sido uma preocupação constante dos últimos anos no sentido de garantir que os elementos de caracterização que são apresentados pela Direção Regional do Desporto são coincidentes com os que se apresentam a nível nacional.

Este processo de validação tem sido muito útil do ponto de vista da afirmação das nossas associações no contexto nacional uma vez que ele tem permitido identificar lapsos e resolver questões pendentes com federações, bem como um melhor conhecimento mútuo da realidade.

Neste momento os dados não estão ainda totalmente fechados, o que se espera possa ocorrer bem como a sua habitual divulgação, durante o mês de maio.

De qualquer das formas, convém não esquecer que a Região tem conseguido divulgar bem mais rapidamente estes elementos relativamente ao que ocorre a nível nacional e esta prática de tornar pública a realidade da prática desportiva federada é seguramente um fator de valorização do trabalho desenvolvido pelas nossas modalidades.

Pelos elementos já disponíveis o número de atletas federados deverá estar em linha com os últimos anos e com a tendência prevista de ligeira redução.


Estes números têm registado grandes oscilações nos últimos anos ou têm-se mantido?

A DRD possui recolha de dados relativos à demografia federada desde há cerca de 25 anos se bem que de uma forma consistente e formalmente melhor adaptada à realidade do desporto federado desde 2003.

Esta sistematização permite-nos ir acompanhando a evolução das diferentes modalidades e nas diferentes vertentes o que é um contributo enorme para a tomada de decisão sobre o desporto seja por parte das entidades públicas seja do próprio associativismo desportivo.

No fundo é um contributo de conhecimento para a história e a evolução do desporto nos Açores.

Podemos identificar claramente um primeiro momento até ao final dos anos 90 do século passado em que a prática embora competitiva era muitas vezes efetuada em contexto fora das estruturas federativas.

Um segundo momento no início do século onde se cimenta a lógica e a coerência com a integração federativa e se promovem de forma acentuada o aumento do número de praticantes federados.

Desde 2007 que a Região possui mais de 20.000 praticantes federados e desde 2011 acima ou muito perto de 23.000 o que nos permite entender os últimos 10 anos como de equilíbrio e estabilidade.

Não podemos no entanto deixar de olhar para este números de uma forma conjugada com as variações demográficas da nossa sociedade, genericamente caracterizada por um envelhecimento da população e nos últimos anos por uma redução do número de crianças. É também sobejamente conhecido e assumido por um lado que a sociedade está a transformar-se de forma rápida onde se acentuam estilos de vida pouco propiciadores da atividade física e por outro despontam a utilização de outras formas do Desporto que não apenas o desporto federado.

É por este contexto e nesta previsibilidade que para o presente Ciclo Olímpico se desejou fundamentalmente a manutenção do número de praticantes federados, admitindo alguma regressão, mas por outro lado se pretende valorizar a atividade física desportiva, a qual não se expressa através das federações.


O que tem aumentado nos últimos anos é o número de atletas femininos e respetiva taxa de participação? Que motivos encontra para explicar este aumento?

Desde 2008 que a proporção Mulheres/Homens no total de atletas federados tem variado muito ligeiramente sendo cerca de 30% a prática feminina. As variações absolutas do número de licenças não são significativas para serem consideradas. São em cada ano variações que não parecem ter significado para se poder apontar uma tendência diferenciada por género. Pelo contrário, julgamos que estamos em ambos os casos perante cenários de estabilidade com ligeiras flutuações anuais.

Outro dos bons indicadores que o desporto açoriano tem registado é o aumento de atletas no desporto adaptado, com relevo nas prestações desportivas alcançadas a nível nacional e internacional. O trabalho desenvolvido pela Direção Regional do Desporto junto das associações de modalidades está a dar o resultado esperado?

O projeto de desenvolvimento do Desporto Adaptado foi lançado em 2002/2003 e desde a primeira hora que teve, felizmente, o acolhimento das instituições que se dedicavam ao trabalho com a população deficiente.

Desde essa primeira hora que imaginámos que o desenvolvimento do desporto adaptado passaria em primeiro lugar pela criação de mais e melhores oportunidades de prática abrangentes e variadas e que a pouco e pouco, de uma forma natural, se verificaria progressivamente a entrada no mundo das competições oficiais, visando o rendimento desportivo, mas sem que essa participação competitiva formal fosse um entrave à prática da atividade física desportiva regular como forma de promover a qualidade de vida dos cidadãos e a sua cada vez maior e mais plena integração.

Foi dessa forma e com naturalidade que se deu o movimento de participação em competições regionais e nacionais, seguida até de brilhantes participações internacionais que a todos devem encher de orgulho.

Não podemos deixar de relevar a participação nos últimos jogos Paralímpicos de uma atleta formada nos Açores, treinada por uma conceituada treinadora da Região e representando um clube Açoriano! Esse foi sem dúvida um momento de elevado orgulho e satisfação.

Felizmente e atualmente, várias das nossas associações vêm com naturalidade e organizam de forma totalmente integrada as competições dos nossos atletas oriundos do atletismo adaptado no seu calendário competitivo.

Orgulha-nos ainda, e muito, que no atletismo se verifique a cada vez maior adesão a este projeto de desenvolvimento por parte de jovens, dando assim lugar a um percurso verdadeiramente formativo de atletas. Teremos certamente no futuro um desporto adaptado integrado e com percursos formativos e participações competitivas de relevo e de acordo com as suas capacidades e potencialidades.

Mas nunca tivemos e não teremos no futuro uma visão condicionada pela vertente competitiva e pelos resultados. Pretendemos, isso sim, que haja oportunidades de prática para todos, num ambiente de qualidade e que seja naturalmente reconhecido e valorizado pela sociedade açoriana. O Desporto é importante na vida de todos independentemente das suas maiores ou menores e capacidades.

Por fim gostaríamos de acrescentar a tudo isto, o momento muito especial para todos que foi a Gala do Desporto Açoriano realizado em 2018 na Ilha Terceira em que foi entregue o galardão do “Atleta que no ano de 2017” à atleta Ana Filipe que foi considerada pelo conjunto dos órgãos de comunicação social como sendo aquela que mais se evidenciou pelos resultados de excelência obtidos.


‘Desporto para todos’ é mais do que um slogan nos Açores: é uma realidade, atendendo a que a promoção de hábitos de vida saudável com a prática de exercício físico é o principal objetivo do governo. De que forma é feita esta aposta?

A lógica de desenvolvimento desportivo que temos expressa no Programa de Governo aponta claramente para que haja um reforço da atenção para com a atividade física desportiva, mas sem se descurar o desporto federado. Deseja-se que se possa contribuir para a existência de oportunidades e condições de prática ao longo de toda a vida.

Assume-se como de particular incidência a prática desportiva nas crianças e jovens, pois são idades fundamentais para a aquisição de hábitos. Acreditamos que as crianças que forem competentes, confiantes e motivadas para a atividade desportiva serão, seguramente adultos mais ativos e autónomos.

Para além dos programas de promoção da atividade junto de crianças e jovens e que vão desde as Escolinhas do Desporto, ao apoio ao treino e competição, não deixando de apoiar aqueles que não pretendem entrar no mundo da competição, relevamos o importante papel de divulgação que o Desporto Escolar possui, não só como complemento da atividade curricular e contributo para o “Prosucesso”, mas também pelas primeiras experiencias de atividade organizada que possibilita.

Ao nível das instalações desportivas propriedade da Região e mesmo em momentos de grande densidade de utilização por parte do desporto federado, tentamos sempre encontrar oportunidade de cedência para atividade informal e mais importante, criamos e incentivamos outros a criar novas valências, oportunidades e espaços adequados para atividades individuais por parte da população em geral, como é por exemplo a “rede regional de estações de atividade física de ar livre” e a criação de espaços especificamente destinados à atividade física desportiva nas nossas instalações.

Incentivamos a organização de grupos integrados ou não, nas estruturas associativas cedendo instalações gratuitas através do programa Açores Ativos.

E acompanhando uma nova realidade, que cada vez mais se afirma na Região, e que abrange um número cada vez maior de clientes, procedemos à regulação do mercado de prestação de serviços desportivos, seja nos vulgarmente designados “Ginásios”, “health clubs” ou outras designações, emitindo os licenciamentos necessários, seja para os seus Diretores Técnicos, seja para os seus Técnicos de Exercício Físico e vigiamos o seu funcionamento nos termos da lei.

Finalmente e numa faceta por vezes pouco valorizada, através dos nossos Serviços de Desporto, acompanhamos e incentivamos essa prática, seja através de organizações diretas de atividades, seja na colaboração técnica com diversas entidades.


Anualmente, no Plano e Orçamento da Região, que fatia do orçamento cabe ao desporto açoriano?

O valor afeto à DRD corresponde em média anual e ao longo da presente legislatura a 0,96% do orçamento global da Região.

Em concreto e relativamente ao ano de 2019 o valor ascende a um total de 15.053.400,00 euros dos quais 10.975.000,00 correspondem a investimentos e 4.078.400,00 são relativos ao funcionamento dos serviços centrais e de todos os Serviços de Desporto de ilha, incluindo as instalações desportivas geridas diretamente por estes.


Ao nível das infraestruturas desportivas, os Açores estão dotados dos melhores equipamentos? Que tipo de investimentos podem e devem ser realizados no futuro?

O aumento do número de instalações desportivas disponíveis na Região tem sido absolutamente considerável, fruto também do investimento efetuado, fundamentalmente, entre 1998 e 2016. Em 1998 contávamos com cerca de 400 instalações desportivas artificiais, verificando-se um aumento superior a 100%, até 2016, ultrapassando, neste momento, as oito centenas.

Para além da construção de novas instalações desportivas, foram efetuadas beneficiações e requalificações que permitiram manter um nível de qualidade das instalações desportivas que tem respondido à totalidade do espetro desportivo açoriano, desde o Desporto para Todos até ao Desporto de Alto Rendimento.

Assim, e independentemente da evolução generalizada ao nível do número das diferentes tipologias de instalações, o aumento da sua qualidade e da sua adequação às condições de prática é, também, inegável.

Esta evolução e no que respeita às instalações propriedade do Governo teve origem nas opções de política das construções desportivas escolares que na sua conceção foram pensadas para servirem não só a comunidade escolar, mas também para ficarem ao serviço da população, quer para o treino e competição, quer para a promoção da atividade física desportiva.

Tal não significa que estejamos satisfeitos ou que não necessitemos de mais instalações desportivas. A questão é que o volume financeiro envolvido quando falamos de infraestruturas é sempre elevado e o facto de para o atual quadro comunitário de apoio não estarem disponíveis verbas para este tipo de investimentos condiciona a que as novas construções sejam suportadas exclusivamente pelo orçamento da Região.

Por isso os recursos estão direcionados fundamentalmente para garantir intervenções de qualidade que visem melhorar as condições de operacionalidade através de ações de manutenção, de beneficiação e de melhoria da eficiência energética, o que tem sido uma constante.


O projeto Ética no Desporto Açores foi implementado há alguns anos na Região e ainda recentemente foi atribuído o primeiro troféu de Ética Desportiva nos Açores, em concreto ao Sporting Clube Ideal. Mudar mentalidades requer tempo e paciência, mas nesta fase, já são visíveis frutos desta aposta no desporto açoriano?

Efetivamente todas as mudanças que passem por alteração de comportamentos sociais são reconhecidamente lentas.

O que pretendemos é fundamentalmente despertar consciências, alertar para um conjunto de comportamentos que embora não sejam caracterizadores do Desporto Açoriano ou da nossa vivência social, começam e até por efeito de arrastamento com outras áreas territoriais, a ter alguma expressão entre nós.

Queremos um desporto centrado em valores, um Desporto que assegure o reconhecimento social do mesmo sublinhando a sua importância no desenvolvimento humano, valorizando os seus princípios de ética, de integração, de tolerância e de colaboração.

Queremos um Desporto Açores que seja o reflexo e a imagem da sociedade Açoriana, organizada, tolerante, resiliente e cada vez mais moderna e ganhadora.

A luta pelos valores éticos do desporto é uma luta que deve ser assumida por todos e não só pela estrutura governativa! Os clubes, as associações, a comunicação social e fundamentalmente cada um de nós enquanto cidadãos, seja como atletas, seja como Pais ou como simples espetadores temos o dever de contribuir para este objetivo.


A finalizar, como caracteriza o desporto açoriano e quais as suas principais virtudes.

O Desporto nos Açores como em qualquer parte do mundo é e deve ser o reflexo da organização da sociedade.

O Desporto Açores é solidário, aberto a todos, mas também cada vez mais competitivo.

Muito variado, pelo enorme conjunto de oportunidades de prática à disposição.

É cada vez mais uma forma de afirmação da nossa identidade e fruto de uma relação muito próxima entre entidades e instituições.

O Desporto Açores é um valor social, e creio que a maioria da nossa população nele se revê.

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