Autor: João Cordeiro
“Pára o Tempo no Canal”, a canção de abertura de “Cisma”, o mais recente álbum da banda, invoca de imediato o clássico “Mau Tempo no Canal”, de Vitorino Nemésio, o homem que cunhou a expressão “açorianidade”. Mas não é só nas palavras que se sente os Açores. Há outros sinais, como o sotaque micaelense, que Rui Rofino não exacerba, mas que também não esconde. Há a temática do mar (até no nome da banda), a viagem, e há muita melancolia. Enfim, muitas músicas até parecem estar carregadas de humidade.
A caminhada dos We Sea começou quando chegou ao fim o caminho dos Broad Beans. Com a partida do guitarrista e do baterista para estudar no continente – ah... o fado das bandas açorianas – Rui Rofino e Clemente Almeida continuaram a juntar-se para criar música, e assim nasceram os We Sea, de que agora fazem parte também Rómulo San-Bento e Pedro Rodrigues, precisamente os músicos que compunham os Broad Beans.
Se, no início, We Sea era um projeto experimental com arestas pouco limadas, agora, neste segundo álbum, com a entrada do guitarrista e do baterista, o som da banda é cheio e polido. Isto já não é uma “experiência”, isto é um produto final.
Se tivesse que apontar uma referência para aquilo que os We Sea estão a fazer, talvez apontasse para os GNR, na sua fase mais experimental, até nas letras porque tal como Rui Reininho, Rui Rofino também gosta utilizar as palavras para criar labirintos que nos encaminham para significados inesperados. E não tem medo de usar palavras que dificilmente encontraremos em qualquer outra canção. Rui Reininho nunca usaria a palavra “Atoleimado” numa canção (talvez só porque deve desconhecer o seu significado) mas Rofino tem essa ousadia. E isso também é eternizar as nossas raízes culturais, sem complexos.
Os We Sea estiveram recentemente no Festival Mil, em Lisboa, e voltaram
de lá com o sentimento de terem conseguido agarrar a atenção e a
simpatia de muita gente.
No próximo dia 26 de novembro podem vê-los no
Arquipélago, na Ribeira Grande. A banda está também
na final do concurso “One Step 4 Music Fest”.
Procurem online e votem
porque os projetos mais votados terão a possibilidade de tocar no Meo
Sudoeste ou no Super Bock Super Rock.