Açoriano Oriental
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We Sea: música contemporânea com alma açoriana

“Cisma” é o mais recente álbum dos açorianos We Sea. A banda começou com um som minimalista e experimental, mas a reunião com velhos amigos fez o som crescer e ficar polido.

We Sea: música contemporânea com alma açoriana

Autor: João Cordeiro

Temos a tendência de andar sempre à procura do próximo ícone através da comparação com referências do passado. E isso pode fazer-nos perder a noção do que se está a passar mesmo à nossa frente. Não vale a pena procurar pelo novo Zeca Medeiros, o novo Luís Gil Bettencourt ou o novo Aníbal Raposo (até porque os “originais” ainda estão em grande forma). O que os fez alcançar o estatuto de referência da música açoriana não foi serem exímios instrumentistas ou cantores imaculados. O que os colocou para sempre no imaginário açoriano foi, em primeiro lugar, a capacidade para colocar os Açores – as tradições, as vivências, os objetos, os hábitos, a história, os lugares – de forma verosímil nas suas canções.
Não quero estabelecer uma comparação entre os We Sea e estes ícones da música açoriana. Seria injusto para uns e para outros. Mas, hoje, os We Sea talvez sejam o melhor exemplo de quem transporta a “alma” açoriana para a música contemporânea. O facto de se inspirarem na sonoridade dos anos 80 não lhes retira a modernidade, até porque este é um revivalismo generalizado na pop produzida atualmente em Portugal.

“Pára o Tempo no Canal”, a canção de abertura de “Cisma”, o mais recente álbum da banda, invoca de imediato o clássico “Mau Tempo no Canal”, de Vitorino Nemésio, o homem que cunhou a expressão “açorianidade”. Mas não é só nas palavras que se sente os Açores. Há outros sinais, como o sotaque micaelense, que Rui Rofino não exacerba, mas que também não esconde. Há a temática do mar (até no nome da banda), a viagem, e há muita melancolia. Enfim, muitas músicas até parecem estar carregadas de humidade.

A caminhada dos We Sea começou quando chegou ao fim o caminho dos Broad Beans. Com a partida do guitarrista e do baterista para estudar no continente – ah... o fado das bandas açorianas – Rui Rofino e Clemente Almeida continuaram a juntar-se para criar música, e assim nasceram os We Sea, de que agora fazem parte também Rómulo San-Bento e Pedro Rodrigues, precisamente os músicos que compunham os Broad Beans.

Se, no início, We Sea era um projeto experimental com arestas pouco limadas, agora, neste segundo álbum, com a entrada do guitarrista e do baterista, o som da banda é cheio e polido. Isto já não é uma “experiência”, isto é um produto final.

Se tivesse que apontar uma referência para aquilo que os We Sea estão a fazer, talvez apontasse para os GNR, na sua fase mais experimental, até nas letras porque tal como Rui Reininho, Rui Rofino também gosta utilizar as palavras para criar labirintos que nos encaminham para significados inesperados. E não tem medo de usar palavras que dificilmente encontraremos em qualquer outra canção. Rui Reininho nunca usaria a palavra “Atoleimado” numa canção (talvez só porque deve desconhecer o seu significado) mas Rofino tem essa ousadia. E isso também é eternizar as nossas raízes culturais, sem complexos.

Os We Sea estiveram recentemente no Festival Mil, em Lisboa, e voltaram de lá com o sentimento de terem conseguido agarrar a atenção e a simpatia de muita gente.

No próximo dia 26 de novembro podem vê-los no Arquipélago, na Ribeira Grande. A banda está também na final do concurso “One Step 4 Music Fest”.

Procurem online e votem porque os projetos mais votados terão a possibilidade de tocar no Meo Sudoeste ou no Super Bock Super Rock.

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