Autor: Ana Carvalho Melo
“De Natura Maris” é o nome da exposição de Urbano que inaugura hoje no Arquipélago - Centro de Artes Contemporâneas.
Uma exposição que traz novas perspetivas de temas já apresentados pelo artista, combinadas com uma nova reflexão artística que espelha a liberdade dada pelo espaço do Arquipélago e que dá o título a esta mostra.
Assim, ao longo de três áreas do Centro de Artes Contemporâneas, podem admirar-se obras desde 1996 até à atualidade. Sendo desta forma possível revisitar ou ficar a conhecer-se a obra do artista que agora assinala 40 anos da sua primeira exposição individual, sendo esta a sua 50ª exposição.
“Uma retrospetiva não é uma repetição, e todas as peças que estão aqui vieram do meu atelier ou de casa de família”, revela o artista ao Açoriano Oriental numa visita à exposição.
Como recorda Urbano, para cada série de trabalhos que apresentou ao longo da sua carreira foram realizadas muitas outras obras que nunca foram expostas.
“O que tem sido apresentado é a ponta do icebergue, porque dentro de água há muitos trabalhos que também devem ser vistos”, afirma o artista, referindo-se aos muitos trabalhos que nunca apresentou publicamente, razão pela qual lhe é permitida a possibilidade de exibir obras pela primeira vez em cada mostra que realiza.
No caso da exposição que hoje é inaugurada no Arquipélago, a escolha dessas obras foi realizada num trabalho conjunto com o diretor do Centro de Artes Contemporâneas, João Mourão, que é o curador da mostra.
Um diálogo entre artista e curador, que Urbano descreve como “ótimo”, pela empatia que se estabeleceu entre os dois durante todo o processo de conceção e montagem desta exposição.
Assim, ao chegar ao espaço do Centro de Artes Contemporâneas, o visitante é convidado a seguir para a sala 1, na qual surge um conjunto de obras criadas entre 1996 e 2019, que exploram as Origens.
“Nesta sala temos um conjunto de obras sobre as Origens com diferentes perspetivas, que refletem sobre de onde viemos e o que fazemos aqui. São trabalhos que assentam em leituras sobre astrofísica, entre outras”, explicou.
Na sala 2, são apresentadas 18 novas peças, que inspiraram o nome da exposição “De Natura Maris”, que significa “A Natureza do Mar”.
“Nos trabalhos desta sala questiona-se se somos capazes de reconhecer a dádiva extraordinária que é a vida, se somos capazes de a merecer, e usar da melhor forma o planeta que nos é dado de modo a deixá-lo para quem vem a seguir”, afirma sobre um impactante conjunto de obras, que sobressaem ao olhar do visitante quer pela dimensão, como pela cor.
“São obras que alargam o leque do meu trabalho que não é só de reflexão teórica. Eu percebi ao longo do tempo que as obras sobre as origens e as baseadas em leituras e reflexões eram monocromáticas, enquanto as que são sobre experiências minhas têm uma paleta mais colorida”, confessa.
Já ao passar para as células, o visitante é convidado a explorar outras peças de arte que apresentam diferentes experiências , através de trabalhos que refletem as suas vivências e que integram o mundo, como é o caso dos trabalhos sobre Veneza, e também sobre a interação da humanidade com o mundo, com trabalhos como os realizados sobre a gripe das aves em 2005.
“Nas 12 células, as obras apresentadas alargam os temas desenvolvidos o que permite a quem não me conhece perceber que o meu trabalho não é apenas sobre as Origens”, conta sobre este conjunto de obras que comporta também a gravura, o livro e a tridimensionalidade na pintura.
A visita às células culmina com a apresentação de uma peça de cerâmica realizada para esta exposição e por isso nunca antes exibida, onde o artista explora a cerâmica como outro meio para a pintura.