Autor: Carlota Pimentel
Com árvores repletas de luzes cintilantes a adornar as casas e ruas
iluminadas a preceito, nos dias que correm, ninguém imagina um Natal sem
luz. Mas poucos se lembram de quem garante que tudo permaneça ligado. É
este o caso dos trabalhadores da EDA (Eletricidade dos Açores) que têm a
responsabilidade de assegurar que milhares de famílias possam celebrar
sem interrupções.
Para José Falcão, técnico de despacho dos Sistemas
Elétricos de São Miguel, e André Carreiro, encarregado de Central na
Central do Caldeirão, trabalhar na Consoada ou no Dia de Natal é mais do
que um dever – é uma missão.
Ao Açoriano Oriental, José Falcão afirma que “há um sentido de missão em assegurar que, pela nossa parte, todos terão luz, ar condicionado e sobretudo wi-fi”.
O técnico de
despacho dos Sistemas Elétricos de São Miguel lembra alguns Natais do
seu tempo de criança passados “sem luz”, sobretudo, devido “a avarias
decorrentes do mau tempo. Era muito chato naquela altura, mas hoje em
dia isso é impensável”.
José Falcão trabalha por turnos há 16 anos
e, por isso, “já foram alguns os Natais de serviço”, algo que diz ser
“sempre um pouco triste, principalmente quando temos filhos pequenos”.
No
entanto, “temos de ser flexíveis”, sustenta. Este ano, “tive de
convencer a família a fazer o almoço de Consoada, em vez do tradicional
jantar”.
Além disso, “é obrigatório brincar com os miúdos quase até à
hora de ir trabalhar. Os telemóveis ajudam a estar um pouco mais
presente nesse dia e, depois de sair à meia-noite, ainda posso estar com
a família, porque os mais pequenos ficam acordados até tarde, graças ao
Pai Natal”, conta, acrescentando que “havendo saúde, amigos e família,
qualquer dia deve ser encarado como uma dádiva e este mais ainda”.
José
Falcão refere que, nesta época, em situações de avaria no contacto com
clientes, “há de tudo”, desde “pessoas extremamente empáticas com o
facto de estarmos a trabalhar, enquanto elas, mesmo estando sem energia
em casa, estão com a família”, existindo, por outro lado, “quem seja
completamente alheio a esse esforço e queira apenas que seja reposta a
eletricidade o mais rapidamente possível, para poder retomar a sua
celebração”.
“Quando temos avarias, a pressão de repor a energia é
sempre maior, seja a clientes particulares, empresas ou mesmo entidades
públicas que prestem serviços nesse dia. No contacto com esses clientes,
é preciso uma sensibilidade especial, seja para explicar uma possível
demora na resolução da avaria ou mesmo para informar quando o problema
não é da responsabilidade da EDA e que o cliente terá de reparar a sua
instalação, recorrendo a outros serviços”, elucida.
O técnico de
despacho recorda um episódio em particular de um cliente “que estava
muito chateado por estar sem energia em casa, e ao telefone mostrou-nos
toda a sua indignação”, mas “depois dos nossos colegas do piquete
repararem a avaria, o difícil foi sair de casa do cliente que lhes
queria oferecer comida e bebida”.
André Carreiro, encarregado na Central do Caldeirão, realça que “passar o dia de Natal ou a véspera de serviço acaba por ser mais um dia de trabalho normal, sempre com sentido de responsabilidade elevado como em todos os outros dias, embora esse tenha um caráter especial”. Contudo, avança, “temos a noção de que são dias diferentes e sendo a eletricidade um bem essencial, fazemos os possíveis para que corra tudo bem”.
Para André Carreiro, que conta com 18 anos de carreira no currículo, bem como “muitas vésperas e dias de Natal de serviço”, o maior desafio “é fazer com que as coisas corram bem até ao final do turno, para depois regressar a casa e aproveitar um pouco com a família, mas sempre com o pensamento de dever cumprido”, reforça.
Este ano, André Carreiro está de serviço no turno da
meia-noite às 08h00 do dia de Natal, pelo que a Consoada é passada com a
família. “Fazemos a troca dos presentes ligeiramente mais cedo e depois
vou trabalhar para render o meu colega, para que ele também aproveite
com a sua família”, explica.
O encarregado da Central considera que o seu trabalho é valorizado pelas pessoas, especialmente por “aqueles que têm familiares afetos a esses regimes de trabalho”, assim como por quem tem “alguma noção de como funciona o processo de fornecimento de energia”.
André Carreiro conclui, salientando que “a equipa é sempre
unida e apoia-se mutuamente, sendo que nesses dias a união é ainda mais
acentuada”.