Autor: Lusa
“Vejo com preocupação [crise política nos Açores], embora isso seja uma espécie de crónica de uma morte anunciada, se não fosse o caso desta geringonça a cinco ainda dar sinais de vida. O PSD devia ter marcado terreno desde o início, e não o fez. Agora é bastante tarde”, afirma em declarações à agência Lusa o antigo eurodeputado e reitor da Universidade dos Açores.
O Governo dos Açores, de coligação PSD/CDS-PP/PPM, perdeu na quarta-feira o apoio do deputado único da Iniciativa liberal (IL) e do parlamentar independente, deixando de ter maioria absoluta na Assembleia Legislativa Regional.
Vasco Garcia considera que, por essas razões, o PSD “provavelmente não desejará eleições”, enquanto o PS de Vasco Cordeiro “também não está seguro do resultado caso haja eleições antecipadas, achando que é cedo para ir às urnas”.
“Nenhum deles, no fundo, está interessado em contribuir ainda mais para a incerteza”, afirma Vasco Garcia, que aponta as dificuldades resultantes da reestruturação do grupo SATA, a necessidade de executar o Plano de Recuperação e Resiliência e a crise inflacionista e consequentes dificuldades para as famílias e empresas.
Vasco Garcia considera que este “é um tempo de grande incerteza, e eleições prejudicam todos, como os partidos, as pessoas e as empresas e a própria autonomia” dos Açores.
De acordo com o também comentador político, a solução “terá que ser sempre parlamentar”, sendo que esta situação política “vai conduzir ao arrastar de uma situação semi-pântanosa para uma solução pastosa, pelo menos até outubro, senão mesmo até às eleições europeias”.
Para Vasco Garcia, “por detrás da atitude de Nuno Barata (IL) existem outro tipo de situações que terão que ver com a forma como o poder está distribuído dentro da geringonça a cinco”, com o PSD “desproporcionado, para menos, dentro do poder que tem nesta coligação”.
O militante histórico do PSD considera que “é evidente e exagerado o peso que um partido como o CDS-PP tem dentro desta coligação” e que atribuir a Artur Lima o cargo de vice-presidente do Governo dos Açores “é evidentemente dar-lhe um poder que, do ponto de vista eleitoral, manifestamente não tem”.
Vasco Garcia apela ao bom senso e diz que “há que repensar a forma como o poder está distribuído dentro da coligação”.
O deputado da IL rompeu o acordo de incidência parlamentar que tinha assinado com o PSD após as eleições de outubro de 2020, ganhas pelo PS, justificando a decisão com o incumprimento dos sociais-democratas, tendo sido seguido pelo deputado independente (ex-Chega) Carlos Furtado, que também se desvinculou do acordo que tinha com a coligação.
Os três partidos que integram o Governo Regional (PSD, CDS-PP e PPM) têm 26 deputados na assembleia legislativa e contam agora apenas com o apoio parlamentar do deputado do Chega, José Pacheco, somando assim 27 lugares num total de 57, pelo que perdem a maioria absoluta.
A oposição tem agora 30 deputados, quando antes tinha 28.