Autor: Cristina Pires - Açores TSF/Susete Rodrigues - Açoriano Oriental
No seu entender, estas eleições podiam ter sido evitadas, em nome da estabilidade e do superior interesse do país?
Estas eleições deviam de ter sido evitadas se os nossos políticos, principalmente aqueles que têm responsabilidades governamentais, estivessem cientes que há questões de ética e de transparência, que são necessárias cumprir. O que se passou é que, mais um vez, questões de ética e a falta de transparência levaram à queda do Governo. Pensamos que estão a colocar num patamar inferior aquilo que queremos que seja a dignificação da política e estamos aqui para fazer o contrário. Estamos aqui a querer defender, cada vez mais, a responsabilidade, a dignidade, a empatia. É para isso que o PAN está aqui, para dizermos que queremos melhores políticas e melhores políticos.
O governo de Luís Montenegro, e nomeadamente o PSD e o CDS, partidos que formam a AD, são os únicos responsáveis por esta crise política?”
Todos temos telhados de vidro. O que se passou com o Governo da AD foi semelhante ao que se passou no Governo anterior (PS). Penso que é preciso ter a noção de que quem vai para a política tem de se dedicar à causa política e dispensar o interesse económico, quer seja individual, familiar, dos amigos, dos grupos económicos. É preciso introduzir medidas na Assembleia da República que obrigue os políticos a serem melhores políticos e a responsabilizarem-se.
Porque é que aceitou ser novamente candidato a deputado pelo círculo eleitoral dos Açores ?
O nosso partido é pequeno, mas queremos que cresça. Queremos ter mais pessoas a ‘embrenhar-se’ na política na defesa de boas causas e acho que devo dar um pouco de mim. Se eu quiser ver a sociedade melhorar tenho que dar um pouco de mim. Não podemos aceitar de forma passiva aquilo que nos dão. Muitas vezes protestamos, mas não fazemos mais nada. Portanto, estou aqui a fazer a minha parte, a representar o meu partido. Espero que as pessoas entendam que é necessário assumirmos a nossa responsabilidade na política.
Quais são os vossos compromissos eleitorais?
Temos um lema que é saúde ambiental, animal e humana, em que está patente a defesa das nossas causas, nomeadamente a causa humanista, a causa da defesa do ambiente e a causa da defesa dos animais. A saúde, a habitação, a educação e a economia, também são causas importantes a defender e não podemos defender estas questões de forma isolada, com medidas políticas avulsas. O que vemos é que estas questões não estão a ser resolvidas de forma, nem célere nem racional, nem mesmo planeada. Por isso, devemos questionar o que é necessário para que o nosso país seja um país melhor, economicamente e socialmente...
… e o que é que é preciso efetivamente?
Precisamos de melhores políticos e melhores políticas.
E a escolha desses futuros políticos não deve ser mais rigorosa por parte dos partidos políticos?
Exatamente. É preciso perceber o que é que as pessoas têm a dar de positivo para o partido, mas também, em termos de partidos políticos, é preciso ver os antecedentes dessas pessoas. Será que essa pessoa está realmente relacionada com poderes económicos de grandes sociedades económicas? Será que não há ‘lobbies’ a defender? Também é preciso clarificar a questão do financiamento dos partidos. Portanto, é preciso ponderar todas estas questões.
A revisão da Lei de Finanças Regionais não está na ‘gaveta’, mas pouco ou nada avançou no último ano. Do seu ponto de vista, o que é que é preciso acautelar e com que rapidez?
Mais uma vez, as questões não estão resolvidas e é preciso acautelar o cumprimento de todas as questões económicas e financeiras para avançarmos enquanto Região Autónoma. É preciso resolver estas questões na Assembleia da República com urgência.
Os Açores elegem cinco deputados. Ideologias à parte , no seu entender não deveria haver mais diálogo e cooperação entre os parlamentares eleitos pelo Arquipélago dos Açores, na defesa dos interesses da Região e menos calculismo partidário?
Sim... mas nunca fui deputado a nível nacional, espero
vir a ser. Há aqui duas vertentes, temos de defender os Açores - e é
esse o nosso objetivo principal -, mas temos a questão: o que é que é
melhor para defender o interesse dos açorianos? Será uma perspetiva mais
à esquerda ou mais à direita? Penso que depende da perspetiva.
Percebemos que há questões que são incompatíveis. Pode-se e deve-se fazer esse diálogo, mas às vezes é muito difícil.
Se for eleito deputado à Assembleia da República vai tentar estabelecer pontes e entendimentos com os demais deputados eleitos pela Região?
Sem
dúvida que sim. Unidos somos mais fortes. É preciso sabermos fazer
pontes. Sabemos que no aspeto político, nacional e até internacional,
existem sempre as questões do populismo e do radicalismo - quer à
esquerda, quer à direita - que são um pouco incompatíveis, mas é preciso
aproximar aquilo que aparentemente é difícil de aproximar, mas que não é
impossível. Temos de defender o interesse das pessoas. Penso que esse
diálogo é possível, mas não é fácil.
Muitas vezes existe um poder político superior que tenta fazer valer as suas questões partidárias, mas não é por aí. Os políticos têm de defender a causa pública, o interesse das pessoas.
Como é que se sente enquanto cidadão e agora na qualidade de candidato a deputado, quando o debate político e a troca de argumentos na Assembleia da República ultrapassa os limites do bom senso da educação e até da decência?
Isso vai encontro do que disse à pouco. Ou seja, os nossos políticos têm de ser melhores políticos. Têm de ter a noção que há questões em que é necessário ter cuidado na forma como se fala. Parece que é uma ‘briga de galos’. Sabemos que existem certos estilos de debates - uns mais extremistas outros mais populistas - que querem introduzir confusão, por forma a tirarem dividendos. Penso que não é por aí que se vai conseguir alguma coisa. Comparando com outras campanhas, parece que estamos a regredir e muito no debate político. Já não se debate o que interessa. Estamos a perder tempo com debates de ‘casos e ‘casinhos’, completamente desnecessários e irresponsáveis.
Quem é a sua maior referência política?
Já tive várias tendências políticas e quando era jovem votei PSD, depois votei mais à esquerda, não sai muito ali do centro. Mas diria que as referências políticas serão todos os líderes do PAN, nomeadamente Paulo Borges, André Silva e Inês Sousa Real.
Nos Açores os níveis de abstenção são sempre elevados comparativamente ao resto do país. Em 2024, os números ultrapassaram os 50%. Receia que, no próximo dia 18 de maio, se volte a bater um recorde na abstenção?
Infelizmente
não me surpreenderia. Pela qualidade do debate político que estamos a
assistir nos canais nacionais, não me surpreende que o interesse pela
política esteja a regredir, o que é uma pena. Mas quem tem a culpa são
os nossos políticos, pelos menos aqueles que têm estado sentados nas
cadeiras da Assembleia da República porque não têm transmitido uma
mensagem de utilidade da política.
Portanto, não vejo que tenhamos um melhor cenário ao nível da abstenção. Mas é para isso que aqui estamos, para dizermos que a política não é isto, não deve ser isto, deve ser muito mais. Temos que introduzir na política questões de ética, de responsabilidade, de empatia e termos mais sensibilidade para determinadas questões que são, aparentemente, para os partidos que têm governando, secundárias. Mas não devem ser secundárias porque são questões essenciais e é nesta perspetiva globalizante que queremos estar inseridos.
Porque devem os açorianos confiar-lhe o seu voto no dia 18 de maio?
Por
aquilo que já disse. Ou seja, temos uma visão diferente, mais holística
da política e de todas as causas que são importantes ter em
consideração. A política tem de ser vista de uma forma global. É
preciso dignificar todas as nossas causas, as causas que influenciam as
pessoas e também aquelas causas que rodeiam as pessoas.
Nós estamos
incluídos num ecossistema, onde temos toda a vida terrestre e marinha
que é preciso preservar. Nós temos todos os restantes animais que vivem
connosco, independentemente de serem animais de companhia ou aqueles que
vivem no seu ambiente natural, tudo isso é preciso preservar e não
estamos a ver uma preocupação em relação a essas causas. Em relação às
causas, meramente políticas, económicas, de justiça e de educação,
também não vemos uma grande defesa.
As políticas estão muito erráticas, sem racionalidade, sem ponderação e isso é preocupante. Por isso estamos aqui para dizer basta e dizer que é preciso romper com esta forma de ver a política.