Autor: Manuel Silva
A Rússia lançou uma ofensiva militar na Ucrânia e a resposta global não se fez esperar – uma avalanche de sanções foi aplicada, naquilo que agora todos os entendidos (e até os menos entendidos) apelidam de guerra híbrida, seja lá o que isso for. Política internacional não é certamente o nosso forte, mas há algo que um pouco por todo o mundo tem vindo a ser regra – cancelamentos, inibições e exclusões de todos os intervenientes russos, mergulhando o país numa espécie de isolamento global.
O mundo da cultura não é exceção e a guerra também aqui se faz sentir.
Desde cancelamentos de artistas russos que apoiem ou sejam apoiados por
Putin, aplicado por exemplo pela Carnegie Hall em Nova Iorque, até a
opções mais radicais de cancelamentos de todos
os espetáculos de origem russa, como avançado na Grécia, o maior país do
mundo vê-se cada vez mais isolado.
Os cancelamentos não se ficam por aqui e afetam todos os lados das
trincheiras – muitos dos artistas russos a atuar no estrangeiro têm
vindo a ser cancelados um pouco por todo o mundo, mas há cancelamentos
de espetáculos na Rússia por artistas estrangeiros
e até grupos reputados que se recusam a trabalhar com artistas russos
que apoiem Putin. Os grandes concertos de Eric Clapton, The Killers,
Green Day, Iggy Pop e muitos outros em solo russo acabaram por ser
cancelados numa nova cultura de cancelamento, agora
transformada em puro ato político.
Numa guerra tudo é dispensável e as prioridades são viradas do avesso. A
cultura fica ainda mais relegada para segundo plano e a sobrevivência é
palavra de ordem. A nós, amantes de música em tempos de paz, custa-nos
sempre ver que as sociedades cheguem a tal
ponto que a música e a cultura, dimensões que inegavelmente unem
gerações, culturas e pessoas, tenham que ser utilizadas como arma contra
uma tremenda injustiça para um sem-número de inocentes. Mas nunca nos
esqueçamos - a música já provou ser capaz de abrir
horizontes, de provocar revoluções e de libertar povos.