Autor: Rui Jorge Cabral
Durante a semana, gerem a sua empresa ligada ao comércio
automóvel, a RodrisAuto. Ao fim de semana, divertem-se nos ralis sem pôr
de parte alguma (muita) competitividade.
José e Ivone Rodrigues, um
simpático e divertido casal micaelense, formam uma dupla muito
apreciada nos ralis açorianos, tendo subido um degrau em termos
competitivos no final de 2022, ao passarem do antigo e pouco potente
Toyota Yaris 1.3 para o bastante mais moderno e evoluído Peugeot 208 R2,
com que esperam disputar este ano as provas de asfalto do Campeonato
dos Açores de Ralis (CAR).
Ambos estão ligados há vários anos aos ralis e ao todo-o-terreno. José Rodrigues começou nos ralis há quase três décadas, em 1994, como navegador de Hermano Couto, num carro hoje mítico, o Peugeot 205 Rallye. Ao longo dos anos, navegou pilotos consagrados como Sérgio Silva ou Gilberto Ferreira, entre outros, tendo passado para o volante de forma regular apenas em 2020, depois de uma primeira experiência a pilotar, há mais de 20 anos, com o seu irmão Pedro Rodrigues como navegador, num Renault Clio.
Por seu lado, Ivone Rodrigues teve a sua primeira experiência como navegadora em 2017, numa dupla feminina com a continental Ana Castro ao volante. E só em 2020, o casal decidiu reunir esforços também dentro do carro e preparar um projeto para disputar os ralis do Campeonato dos Açores, projeto este que ganhou um forte ‘empurrão’ com a aquisição do Peugeot 208 R2, preparado pela estrutura do campeão açoriano de ralis, a Rego Jr Racing Garage.
“Esta oportunidade foi um sonho que se concretizou de ter um carro mais competitivo, de caixa sequencial, com outras suspensões e, sobretudo, mais novo”, explica José Rodrigues, para quem a comparação com o Toyota Yaris 1.3 resume-se desta forma: “num vamos a dormir e no outro vamos sempre num susto”!
José Rodrigues, que foi inclusivamente 3.º classificado entre os pilotos inscritos no Campeonato dos Açores das 2RM no Rali Ilha Lilás do ano passado, apenas no seu segundo rali com o Peugeot 208 R2, mostra-se fascinado com o carro, que descreve como “um carro onde tudo se passa muito depressa e acho que irei levar o resto dos dias em que eu puder andar nos ralis a aprender o 208 R2”.
José
e Ivone Rodrigues abordam os ralis pelo gosto. “Sempre fui ligado
profissionalmente aos automóveis desde novo e os ralis são um desporto
que eu adoro e muita gente adora: quem é que não gosta de ralis? Há
gente que não gosta e eu entendo... Mas este é um desporto realmente
viciante e alucinante para quem gosta disto”, afirma José Rodrigues.
O
estado atual dos ralis nos Açores é “aquilo que se pode ter”, reconhece
o empresário e piloto, “porque os carros novos são muito caros e mesmo
um bom carro usado para ralis também é caro, quando vivemos numa região
pequena, que não tem uma economia que nos permita montar projetos para
grandes voos. Por isso, os pilotos têm de correr com as armas que têm e
fazerem aquilo que gostam com o que têm”. Além disso, as despesas para
correr, alerta José Rodrigues, são muitas e esse fator afasta cada vez
os jovens que gostam de ralis de tentarem concretizar uma experiência
como pilotos: “acho que não aparece mais gente nova porque as coisas são
todas muito caras... Só um pneu custa 300 euros e um pneu não dá para
nada! Um jovem que queira montar um projeto, vai pedir apoios e não
arranja, o que deixa muitos talentos à beira da estrada a ver os ralis,
quando podiam estar lá dentro”.
E apesar de partilharem no dia-a-dia
as responsabilidades familiares, a empresa onde trabalham e o carro de
ralis, nem tudo é perfeito na relação entre José e Ivone Rodrigues
quando vão em pleno troço a correr contra o cronómetro. “Não é fácil
gerir um casal dentro do carro... Vamos aqui mas não podemos pôr tudo em
risco, porque temos uma empresa para abrir a porta na segunda-feira e
temos filhos que, embora já estejam criados, são sempre nossos filhos”,
explica José Rodrigues, para quem “estamos aqui para nos divertirmos,
embora da forma o mais profissional possível, dentro das nossas
possibilidades”.
Contudo, nem sempre Ivone tem esse entendimento, conforme reconhece o piloto: “do meu lado direito, tenho uma navegadora super competitiva, que está ali a dizer ‘vai, vai, vai’ e, às vezes, quando chegamos ao fim do troço, eu levo na cabeça”, diz José Rodrigues em tom de brincadeira. Ivone Rodrigues não o contraria: “eu tenho uma maneira de ser muito mais competitiva que o José”, garante Ivone Rodrigues, rindo-se para o marido, com José Rodrigues rapidamente a responder que “no dia em que ela passar para o volante, o carro não passa do primeiro troço, vai ficar lá”! No entanto, conclui José Rodrigues, “quando termina o rali, fechamos a porta do carro e acabou”.