Açoriano Oriental
“Na Assembleia da República, o importante é a defesa dos problemas das pessoas”

Ricardo Ribeiro. Cabeça de lista do Livre pelo círculo eleitoral dos Açores às Legislativas

“Na Assembleia da República, o importante é a defesa dos problemas das pessoas”

Autor: Cristina Pires - Açores TSF/Rui Jorge Cabral - Açoriano Oriental

No seu entender, estas eleições poderiam ter sido evitadas em nome da estabilidade e do superior interesse do País?

Eu penso que, de certeza, poderiam ter sido evitadas... Esta é uma crise política que é criada pela vontade do PSD de não responder às questões  e de não agir com uma Assembleia que tinha sido eleita ainda há pouco tempo. Não obstante, no momento em que é criada a crise, cá estaremos para ir a eleições e, quem sabe, para melhorar a nossa posição na Assembleia da República. 

Mas que, certamente, poderia ter havido outra solução para este momento e que as pessoas não estão necessariamente com vontade de ir novamente a eleições e novamente votar, isso é certo.

Porque é que aceitou ser candidato a deputado pelo círculo eleitoral dos Açores?

Exatamente por termos sido atirados para estas eleições antecipadas, num momento em que ninguém estava à espera... Em todos os partidos, penso que já estávamos com a cabeça nas autárquicas e a preparar esse ciclo.

Portanto, chamou-nos a ação de não ficarmos sentados e à espera de ver como é que as coisas resultavam e ‘darmos o corpo ao manifesto’, digamos e a cara pelo partido, para podermos estar na luta. Uma vez que tivemos de ser atirados para estas eleições, poderemos ter uma representação mais forte na Assembleia da República e sair destas eleições com uma força do Livre e uma força da esquerda reforçada.

No seu entender, o PSD e o CDS, que governam coligados, são os únicos responsáveis por esta crise política?

É sempre difícil dizer que há apenas um culpado... Porque a culpa morre muitas vezes solteira, como se costuma dizer... Poderá dizer-se que foi do PSD, que o PS também terá dado uma ajuda e o Presidente da República ‘idem aspas’....

No final, o que conta é que acabámos em eleições e é com isso que nos temos de conformar agora e trabalhar para dar as respostas ao povo, dando-lhe a estabilidade que ele precisa para não estarmos de volta a esta situação daqui a mais um ano ou ano e meio... Porque não é isto que o País neste momento precisa, com as crises que enfrenta.

Olhando agora para os dossiers que dizem particularmente respeito aos Açores, nomeadamente a revisão da Lei de Finanças Regionais, que não está na ‘gaveta’, mas que pouco ou nada avançou no último ano, do seu ponto de vista o que é preciso acautelar e com que rapidez?

Ao nível do financiamento para a Região, as coisas que são sempre mais importantes são a educação e a saúde, por estarem sob a alçada da Autonomia regional. Nesse aspeto, é difícil escapar ao assunto da reabilitação do Hospital do Divino Espírito Santo (HDES).

Porque perante tudo o que temos vindo a saber, do gasto que significou o tempo que o HDES esteve ‘desalojado’, o gasto no Hospital Modular e a necessidade de uma reabilitação séria, para precaução de futuros incêndios ou futuros eventos sísmicos, é importante acautelar que as verbas para o hospital estão bem definidas e que se consegue fazer um projeto digno do que a Região necessita em termos de saúde.

Esta é uma das coisas mais importantes que necessita estar acautelada.

No âmbito da Lei de Finanças Regionais?

Pelo que sabemos do Governo Regional, já estará uma verba disponível para o hospital, mas a questão que pode não ter ficado clara é a de que se o projeto que será apresentado, com as verbas que se tem disponíveis, irá efetivamente dar resposta ao que a Região precisa ou se será meramente um penso rápido.

Se for eleito deputado pelos Açores, quais são os seus compromissos eleitorais?

As propostas do Livre ainda irão ser votadas no nosso programa no congresso que irá decorrer no próximo fim de semana (12 e 13 de abril, em Algés).

Do nosso programa preliminar, as bandeiras têm sido, já da última campanha, muito focadas nos problemas que temos visto como estruturais no País, como a saúde, a educação e a habitação, que são aqueles problemas que todos vemos nas notícias nacionais, seja pelo fecho de serviços ou pelas dificuldades ao nível da habitação, que também se sentem aqui nos Açores, pela subida dos custos.

Estes são os problemas que mais estão a entrar dentro da casa dos portugueses, e é para esses problemas que queremos dar resposta, porque também são estes os problemas mais sentidos no imediato.

E que soluções apresenta o Livre para estes problemas?

Ao nível da saúde e apesar da Região ter as suas carreiras, as alterações têm de passar pela reestruturação das carreiras dos profissionais do Serviço Nacional de Saúde, valorizando estas carreiras através da dedicação plena e através de programas que possam trazer de volta ao País alguns dos profissionais de saúde que perdemos para a emigração, para que possamos reforçar os cuidados primários, que são essenciais e onde está muitas vezes a falha, para depois não sobrecarregarmos os serviços de Urgência.
Quanto ao problema da habitação, este nunca pode ser atacado apenas por uma frente.

Temos, por um lado, que o atacar pelo lado do arrendamento, uma vez que as rendas estão demasiado altas, apresentando soluções de limitação dos valores das rendas, particularmente para quem teve apoios estatais para reabilitar casas.

Isto tem que ser algo a ser considerado para que as rendas estejam mais adequadas aos rendimentos dos portugueses.

Já do ponto de vista do preço da habitação para compra, aí a nossa ideia é a de que o Estado tenha uma intervenção  na ótica da oferta, através da construção de mais casas, num programa ambicioso, que não se limite apenas a cumprir o que já está no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), mas que possa também ir mais além, com investimento do Orçamento do Estado a 100%, para que se consiga atingir uma meta de 10% de oferta de habitação pública até 2040. 

Os Açores elegem cinco deputados. Ideologias à parte, no seu entender, não deveria existir mais diálogo e cooperação entre os parlamentares eleitos pelo arquipélago na defesa dos interesses da Região e menos calculismo partidário?

Claro que quando somos eleitos por um círculo, estamos sempre em representação desse círculo.

Por alguma razão, temos as estruturas regionais da Autonomia e nós defendemos, não nos mesmos pressupostos,  um debate sobre a regionalização para o resto do País, para que nele possam existir também estes órgãos mais locais executivos.

Não obstante, quando chegamos à Assembleia da República, tem que haver um pensamento que vá além da região e olhar para os problemas de uma forma mais holística, para os problemas do País como um todo.

E se há problemas dos Açores que são muito particulares, nomeadamente do seu setor primário que é muito diferente de outras regiões do País, já nos problemas da habitação, da educação e da saúde, onde pensávamos poder estar mais protegidos, por estarmos longe das grandes metrópoles, acabamos por ver também aqui na Região a especulação imobiliária, muito por força do turismo.

Portanto, os problemas acabam por se tocar e quando se está na Assembleia da República, o importante é estarmos em defesa dos problemas das pessoas que não se circunscrevem só à Região, mas que são do País como um todo. 

Se for eleito irá tentar estabelecer pontes e entendimentos com os outros deputados eleitos pela Região?

Nós, no Livre, somos um partido de ‘pontes’... Nascemos exatamente da ideia de que à esquerda tinha de haver mais convergência do que havia até então. Portanto, a nível  da Assembleia da República, com os deputados eleitos pelo círculo dos Açores e com restantes deputados que compõem as bancadas, a nossa ideia é sempre a procurar sinergias e acordos à esquerda, isso não vamos esconder.

Como se sente enquanto cidadão e agora na qualidade de candidato a deputado, quando o debate político e a troca de argumentos, no caso concreto da Assembleia da República, ultrapassa os limites do bom senso, da educação e, nalguns casos, até da decência?

Presumo que esta questão não está apontada a nenhum deputado do Livre porque, da minha análise, os deputados do Livre tiveram sempre um comportamento exemplar na Assembleia da República.

Seja de que origem venhamos e cheguemos à Assembleia da República, o nosso dever de representação é uma honra e deve ser assumido com este privilégio de estarmos lá em representação dos portugueses.

Há, efetivamente, quem não siga estas regras do decoro e do respeito pela democracia - como base - e do respeito pelos outros parlamentares.

Mas só podemos falar pelas nossas ações e não pelos outros... Eu gostaria de ver uma Assembleia da República com civilidade, em que se discutem as ideias, não na base em que o outro é o inimigo, mas sim na base de que o outro tem simplesmente ideias diferentes.

Para bem do País e dos cidadãos, mas com ideias diferentes. Há quem, por vezes, vá com outra postura.

Nos Açores, os níveis de abstenção são sempre elevados, comparativamente  ao resto do País e nas últimas Legislativas, ultrapassaram mesmo os 50%... Receia que, a 18 de maio, se volte a bater um recorde?

O facto de termos sido atirados para estas eleições de forma tão repentina e extemporânea, significa que, muito provavelmente, iremos assistir a isso não só nos Açores, mas também um pouco por todo o País, porque as pessoas estão desiludidas por não lhes ser dada estabilidade.

Neste momento, penso que as pessoas só querem soluções para os problemas e não queriam ser chamadas a votos outra vez.

Portanto, é natural que a abstenção aumente em todo o País e se nos Açores já é um problema, penso que a desilusão cresce, porque apesar de se terem vindo a fazer melhorias, os Açores continuam a ser a região mais pobre do País e as pessoas sentem isso no corpo.

Sentem que, passado um ano, não houve soluções para os problemas e estamos de volta à estaca zero e chamados a eleições...

Da parte do Livre, vamos trabalhar para que assim não seja e para que as pessoas percebam que, se estão desiludidas com o rumo das coisas, a solução não é a abstenção, nem é votar em partidos mais protestativos, é um voto no Livre.

Quem é a sua maior referência política?

No Livre, é difícil esconder que temos todos como referência o Rui Tavares, porque foi um dos que iniciou este projeto e continua a representar-nos bem.

Mas também os outros elementos que compõem a bancada parlamentar, como o Jorge Pinto ou a Isabel Mendes Lopes, que são também elementos com muita capacidade e muito conhecimento. Revejo-me um pouco em todos eles.

Porque é que os açorianos devem confiar-lhe o seu voto no próximo dia 18 de maio?

Seria difícil dizer porque devem confiar em mim, pessoalmente, porque a maioria ainda não me conhecerá... Irei fazer para que me conheçam mais até ao dia 18 de maio, mas penso que o que vimos nas duas últimas Legislaturas, incluindo esta mais curta de apenas um ano, é que a bancada do Livre está lá para apresentar soluções para os problemas e não está lá para criar polémica.

As pessoas veem isso e penso que se reveem no trabalho do Livre, mesmo que não se revejam nas políticas propriamente ditas. Eu apresento-me como representante do Livre por este círculo eleitoral e o que posso dizer é que uma bancada maior do Livre será mais dessa representação com qualidade e em defesa dos interesses das pessoas.











PUB
Regional Ver Mais
Cultura & Social Ver Mais
Açormédia, S.A. | Todos os direitos reservados

Este site utiliza cookies: ao navegar no site está a consentir a sua utilização.
Consulte os termos e condições de utilização e a política de privacidade do site do Açoriano Oriental.