Açoriano Oriental
Keir Starmer enfraquecido e impopular após um ano como primeiro-ministro britânico

O trabalhista Keir Starmer completa esta semana um ano de mandato como primeiro-ministro britânico, enfraquecido por uma rebelião no seio do próprio partido e com os analistas a assinalarem uma impopularidade associada à falta de uma visão de futuro

Keir Starmer enfraquecido e impopular após um ano como primeiro-ministro britânico

Autor: Lusa/AO Online

Assinala-se o primeiro aniversário da vitória eleitoral esmagadora que o Partido Trabalhista obteve a 4 de julho de 2024, quando conquistou 412 dos 650 lugares na Câmara dos Comuns (câmara baixa do parlamento britânico), colocando um ponto final a 14 anos de governação conservadora.

Nos últimos 12 meses, Starmer foi elogiado por mobilizar apoio internacional para a Ucrânia e persuadir o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a assinar um acordo comercial que alivia as tarifas sobre os produtos do Reino Unido.

Mas, ao nível da política interna britânica, ainda não é visível o impacto do plano de reformas e de políticas em curso para melhorar as condições de vida devido ao baixo crescimento económico e à inflação elevada, uma das grandes apostas de Starmer.

Nas sondagens, o Partido Trabalhista foi ultrapassado pelo Partido Reformista, formação populista de direita liderada pelo eurocético Nigel Farage, um mau presságio para Starmer, agora visto com desconfiança pelos eleitores britânicos e pelos próprios deputados.

Nos últimos dias teve de fazer várias concessões para conseguir avançar com legislação para reduzir as despesas com a segurança social, atenuando os cortes planeados para os subsídios de invalidez, que causaram consternação no grupo parlamentar trabalhista. 

Depois de mais de 120 deputados trabalhistas terem ameaçado votar contra a proposta de lei, mais do que o suficiente para a chumbar, o Governo recuou e removeu uma série de medidas, viabilizando o texto. 

"Penso que a votação sobre a segurança social é emblemática dos fracassos do Governo, que chegou ao poder com um programa para ganhar as eleições e não com um programa para governar. E é notória a sua falta de preparação", afirmou à agência Lusa o professor de História Britânica Contemporânea da Universidade de Newcastle, Martin Farr.

Na sua opinião, não está em causa a necessidade de reformar a segurança social, que representa quase 25% do Orçamento e 10% do Produto Interno Bruto (PIB). 

"O Governo procurou apenas poupar dinheiro. Foi isso que criou a crise no Partido Trabalhista. Não há uma narrativa sobre a razão da reforma, é apenas um corte de custos. É um dos muitos exemplos de má preparação, má auscultação e de políticos pouco eficazes a explicarem a situação", resumiu.

Políticos e analistas falam da falta de uma visão política coerente e clara sobre o que Starmer quer para o país, privilegiando uma abordagem pragmática.

Mas a margem de manobra está muito limitada pelas promessas eleitorais de não aumentar impostos sobre pessoas e empresas. 

"A opinião geral é que se trata de um erro, e que levou o Governo a procurar cortes nos subsídios e outras medidas, como o corte no subsídio de aquecimento durante o inverno para reformados, que são muito impopulares no partido e também junto da opinião pública. O problema é que o pragmatismo sem competência parece uma abordagem errática", comentou, por sua vez, o professor de Política na Universidade Queen Mary de Londres, Tony McNulty.

Este académico entende que "o Governo está a fazer algumas coisas boas em termos de revitalização dos serviços públicos, como a saúde e a educação, e a planear um investimento maciço de capital no setor público”, mas admite a existência de um problema.

“O maior problema tem sido a competência e a visão", frisou McNulty, lamentando a falta de bússola na liderança de Keir Starmer.

"Muitos deputados consideram que o mais próximo que o Governo tem de uma visão é uma visão apolítica tecnocrática do Ministério das Finanças", referiu à Lusa.

O Governo trabalhista argumenta que já fez muito no primeiro ano: aumentou o salário mínimo, reforçou os direitos dos trabalhadores, lançou novos projetos de habitação social e injetou dinheiro no sistema público de saúde.

Mas também aumentou os impostos para os empregadores, retirou benefícios fiscais aos agricultores, culpando os anteriores executivos conservadores pela necessidade de fazer escolhas difíceis.

Estas opções do executivo trabalhista contribuíram para a impopularidade de Starmer.

Nos últimos dias, Starmer reconheceu alguns erros. Em declarações ao jornal Sunday Times, o governante assumiu que estava "muito concentrado no que se estava a passar com a NATO e no Médio Oriente", e penitenciou-se pela escolha de palavras em intervenções sobre a imigração.

As dificuldades do líder trabalhista também são uma consequência da convulsão na política britânica cada vez mais fracionada.

O principal trunfo de Starmer neste momento é que não tem de convocar eleições legislativas até 2029, pelo que o Governo não está em risco imediato de cair.

Mas a rebelião dentro do partido abriu um precedente.

"A narrativa está a impor-se de que este é um governo que pode ser constrangido", alertou Martin Farr, da Universidade de Newcastle, antecipando um resto de mandato tumultuoso.

BM // SCA

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