Autor: Luís Pedro Silva/Nuno Martins Neves
Na investigação conduzida pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), foram realizadas 29 buscas em vários locais do país, das quais mais de 20 na ilha de São Miguel:oito domiciliárias; uma, a uma fundação; seis, a instalações de três sociedades desportivas; nove, a outros tipos de sociedade; três, a dois clubes desportivos; e duas, a dois escritórios de advogados.
No que à SAD do Santa Clara diz
respeito, além da sede, situada na rua Açoriano Oriental, por cima da
Loja Oficial do clube, as autoridades estiveram na residência de Rui
Cordeiro, do administrador e diretor desportivo, Diogo Boa Alma, e do
administrador Khaled Saleh, que representa o principal acionista
privado, o singapurense Lau Lian Seng Glen.
Ao que o Açoriano
Oriental apurou, já existem diversas pessoas constituídas arguidas, no
âmbito deste processo, mas o Ministério Público ainda não divulgou o
resultado da operação que decorreu ao longo do dia de ontem.
Segundo o comunicado do MP, os inquéritos investigam “factos suscetíveis de integrarem crimes de participação económica em negócio ou recebimento indevido de vantagem, corrupção ativa e passiva no fenómeno desportivo, fraude fiscal qualificada e branqueamento”.
Assinalando que estão em
causa negócios “todos relacionados com futebol profissional”, o
comunicado acrescenta ainda que “investigam-se ainda a aquisição dos
direitos desportivos e económicos dos jogadores por parte de clubes
nacionais de futebol, empréstimos concedidos a um destes clubes e a uma
sociedade desportiva por um cidadão de Singapura com interesses em
sociedades sediadas nas Ilhas Virgens Britânicas e a utilização das
contas do mesmo clube e de outro, para a circulação de dinheiro”.
Por último, o Ministério Público escreve que investiga “o envolvimento de outros tipos de sociedades (algumas ligadas ao setor imobiliário), o pagamento em dinheiro de prémios de jogo, a satisfação de dívidas pessoais de dirigentes, a utilização por estes de valores dos clubes e a omissão declarativa de operações fiscalmente relevantes”.
Devido às
suspeitas de crimes fiscais esta operação também contou com a
participação de inspetores do Fisco, que procuram recolher informação
sobre uma eventual fuga ao pagamento de impostos, que pode ter lesado os
cofres públicos.
Santa Clara no olho do furacão
Concretamente,
a Santa Clara Açores Futebol SAD está na mira das autoridades devido
aos negócios com três jogadores líbios, como escreve a revista Sábado na
sua edição on-line (ver caixa). Em causa estará a venda do atleta
Hamdou Elhouni do Santa Clara para o Benfica, que, escreve a mesma
publicação, pode indiciar crimes de “fraude fiscal qualificada,
branqueamento de capitais, falsificação de documento, participação
económica em negócio e recebimento indevido de vantagem”.
Mas não só:
de acordo com a Sábado, o MP está também a investigar se o Santa Clara
está a ser usado para lavagem de dinheiro por parte do investidor Lau
Lian Seng Glen.
O Açoriano Oriental sabe que a investigação visa
recolher informação sobre uma alegada dívida pessoal do presidente da
SAD do Santa Clara, Rui Cordeiro, que terá sido paga pelo clube
açoriano.
O Santa Clara pronunciou-se ontem ao final da manhã,
afirmando estar a colaborar “ativa e serenamente” para o “esclarecimento
cabal da situação”. Para hoje está prevista a realização de uma
conferência de imprensa de Rui Cordeiro, presidente do Santa Clara.
As sedes do Benfica e Sporting, em Lisboa, também foram alvo de buscas.
Azores Parque
Na
sequência desta investigação foram efetuadas buscas em diversas
empresas geridas pelo investidor Lau Lian Seng Glen, que também estão
relacionadas com a venda do Azores Parque, negócio que está a ser alvo
de uma investigação paralela no DIAP de Ponta Delgada.
Segundo os
dados apurados, os elementos da Polícia Judiciária concentraram-se na
recolha de informação envolvendo os negócios de Lau Glen com o Santa
Clara, mas pode ter sido recolhida informação importante para o processo
do Azores Parque.
Recorde-se que a sociedade Azores Parque foi
vendida em hasta pública, por 500 euros, à Alixir Capital, uma empresa
incluída no círculo do empresário Lau Glen, procedendo depois à venda de
diverso património no valor de 800 mil euros, nos dois meses seguintes à
entrada da nova administração, antes de ser declarada a insolvência da
Azores Parque.