Autor: Rui Jorge Cabral
A imprensa está numa fase da sua evolução em que é muito fácil fazer perguntas e lançar desafios, mas muito difícil dar respostas verdadeiras. E a verdade é precisamente a grande matéria-prima do jornalismo e o seu factor de credibilidade. No entanto, se nem todos acreditam da mesma forma na durabilidade do jornal em papel, é ideia comum neste momento que nenhum jornal poderá sobreviver no futuro se não for gradualmente alargando a sua oferta informativa à internet e às suas muitas potencialidades de ‘tocar’ directamente uma pessoa e, através dela, entrar numa rede mundial.
Para o primeiro orador do colóquio, Alexandre Nilo Fonseca, director geral de marketing do Grupo \Controlinveste e presidente da direcção da Associação Portuguesa de Comércio Electrónico e Publicidade Interactiva, todos nos confrontamos hoje com a enorme potencialidade da internet, sem sabermos ainda bem que rumo ela irá seguir em termos de comunicação social.
Algo natural se atendermos a que a ‘revolução’ da internet começou verdadeiramente há pouco mais de uma década e tudo é ainda muito novo. Portugal está neste momento bem colocado em termos europeus na percentagem de lares com internet e de pessoas com computador portátil e acesso a uma ligação à internet de banda larga. No entanto, é a baixa escolaridade dos portugueses ainda o grande entrave ao aproveitamento dessa capacidade tecnológica já instalada.
Alexandre Nilo Fonseca lembrou que o marketing na comunicação social começou por olhar para a ‘floresta’, depois para a ‘árvore’ e agora olha directamente para a ‘folha’ e para a capacidade que milhões delas ligadas em rede têm de fazer a floresta e não tem dúvidas que a imprensa regional tem na proximidade da informação o seu maior activo na comunidade onde se insere.
Paulo Faustino, professor da Universidade do Porto e do Instituto Politécnico de Leiria, lembrou que o online é o modelo do futuro da comunicação social, só que ainda não se sabe como rentabilizá-lo. Tendencialmente, a informação irá deixando de ser gratuita na net, mas terá de haver uma concertação entre as empresas jornalísticas sobre essa transição. Falando da imprensa regional, Paulo Faustino defendeu que esta pode assegurar a sua viabilidade económica diversificando as suas receitas, podendo usar o seu nome e a credibilidade na comunidade para, por exemplo, organizar eventos que ajudem a financiar a actividade jornalística. Paulo Faustino é da opinião que os jornais em papel não vão desaparecer, mas tenderão cada vez mais, pelos seus custos, a tornar-se num produto de culto. Até porque hoje o público tende a associar um jornal em papel a conceitos como o prestígio e a qualidade, enquanto que associa a informação online à ideia de gratuidade. O desafio está, por isso, em ‘casar’ estas duas realidades.
Para Steve Doig, professor na Arizona State University e Prémio Pulitzer em 1993, trabalhar na imprensa regional permitiu-lhe sentir que podia ajudar a resolver os problemas da sua comunidade e esse é um factor de afirmação dos média regionais. Quando um furacão devastou a Florida em 1992, o seu jornal nunca deixou de chegar às pessoas, mesmo quando, após a tragédia, nem electricidade as casas tinham ainda. E foi também o seu trabalho de investigação sobre as causas da destruição de 80 mil casas pelo furacão na Florida que levou a imprensa a revelar que o supostamente apertado código construtivo estava, afinal, a ser bastante aligeirado nos anos antes do furacão, o que fez com que fossem sobretudo as casas novas a ruir. Steve Doig mostra-se, contudo, um pouco céptico quanto à especialização excessiva dos meios de comunicação social, que pode levar as pessoas a perderem a diversidade de pontos de vista que fazem a democracia e a reforçarem, por essa via, as suas convicções e os seus preconceitos, o que é mau para uma sociedade informada.
Para salientar a importância da imprensa regional e das notícias locais, Ana Cristina Gil, directora do curso de Comunicação Social e Cultura da Universidade dos Açores, leu um excerto de Eça de Queiroz para demonstrar como há 100 anos atrás, o pé ‘desmanchado’ de uma pessoa conhecida numa comunidade podia ser para essa mesma comunidade uma notícia mais importante do que milhares de mortos num terramoto na Indonésia. Ana Cristina Gil lembrou que, apesar de não serem “dinossauros comunicacionais”, os jornais regionais ainda não despertaram verdadeiramente para as redes sociais, onde podem obter notoriedade junto de novos públicos que já não querem ler em papel e, por fim, defendeu que não há neste momento licenciados a mais em comunicação social nos Açores, havendo sim falta de jornalistas nas redacções da imprensa regional.
O último orador do colóquio foi Mitchell Weisberg, professor na Sawyer Business School da Suffolk University de Boston, que não tem dúvidas em afirmar que o jornal em papel está ‘morto’, mas apenas enquanto entidade isolada e da forma como ele existiu até ao início deste século. Isto porque os hábitos estão a mudar e até as pessoas em idade ‘sénior’ são das que mais aderem hoje em dia às redes sociais, onde já se passa muito mais tempo do que a ler jornais. A tendência actual dos jornais é para o papel perder importância na mesma medida em que o online ganha terreno e a grande virtude está em perceber a altura em que se irá dar o ‘ponto de viragem’. A internet é um comboio que todos têm de apanhar, nem cedo, nem tarde de mais. “Não posso dizer como vai ser o futuro, mas há que experimentar e aprender com os erros”, afirmou Mitchell Weisberg para quem o futuro do jornalismo está na abrangência das fontes. O jornalista deixará de ser o único produtor de notícias e todos os cidadãos serão, em potência, produtores de notícias. Caberá depois às empresas de comunicação social seleccionar esse imenso material e canalizá-lo para o papel, para as edições online ou mesmo para as redes sociais, conforme as suas características.
No limite, teremos jornais online cuja primeira página resulta das preferências dos leitores e entraremos numa era em que os jornais serão vendidos em ‘pacote’, ou seja, é o leitor que decide que notícias pôr no seu ‘carro de compras’ e sobre que temas de entre um vasto leque de opções. Por fim, Mitchell Weisberg diz que, apesar de inevitável, não é necessária uma mudança súbita. Há sim que ir fazendo mudanças graduais, envolvendo o público nessas mudanças e ir estabelecendo parcerias empresariais para partilha do risco numa era de grandes mudanças. •
Para o primeiro orador do colóquio, Alexandre Nilo Fonseca, director geral de marketing do Grupo \Controlinveste e presidente da direcção da Associação Portuguesa de Comércio Electrónico e Publicidade Interactiva, todos nos confrontamos hoje com a enorme potencialidade da internet, sem sabermos ainda bem que rumo ela irá seguir em termos de comunicação social.
Algo natural se atendermos a que a ‘revolução’ da internet começou verdadeiramente há pouco mais de uma década e tudo é ainda muito novo. Portugal está neste momento bem colocado em termos europeus na percentagem de lares com internet e de pessoas com computador portátil e acesso a uma ligação à internet de banda larga. No entanto, é a baixa escolaridade dos portugueses ainda o grande entrave ao aproveitamento dessa capacidade tecnológica já instalada.
Alexandre Nilo Fonseca lembrou que o marketing na comunicação social começou por olhar para a ‘floresta’, depois para a ‘árvore’ e agora olha directamente para a ‘folha’ e para a capacidade que milhões delas ligadas em rede têm de fazer a floresta e não tem dúvidas que a imprensa regional tem na proximidade da informação o seu maior activo na comunidade onde se insere.
Paulo Faustino, professor da Universidade do Porto e do Instituto Politécnico de Leiria, lembrou que o online é o modelo do futuro da comunicação social, só que ainda não se sabe como rentabilizá-lo. Tendencialmente, a informação irá deixando de ser gratuita na net, mas terá de haver uma concertação entre as empresas jornalísticas sobre essa transição. Falando da imprensa regional, Paulo Faustino defendeu que esta pode assegurar a sua viabilidade económica diversificando as suas receitas, podendo usar o seu nome e a credibilidade na comunidade para, por exemplo, organizar eventos que ajudem a financiar a actividade jornalística. Paulo Faustino é da opinião que os jornais em papel não vão desaparecer, mas tenderão cada vez mais, pelos seus custos, a tornar-se num produto de culto. Até porque hoje o público tende a associar um jornal em papel a conceitos como o prestígio e a qualidade, enquanto que associa a informação online à ideia de gratuidade. O desafio está, por isso, em ‘casar’ estas duas realidades.
Para Steve Doig, professor na Arizona State University e Prémio Pulitzer em 1993, trabalhar na imprensa regional permitiu-lhe sentir que podia ajudar a resolver os problemas da sua comunidade e esse é um factor de afirmação dos média regionais. Quando um furacão devastou a Florida em 1992, o seu jornal nunca deixou de chegar às pessoas, mesmo quando, após a tragédia, nem electricidade as casas tinham ainda. E foi também o seu trabalho de investigação sobre as causas da destruição de 80 mil casas pelo furacão na Florida que levou a imprensa a revelar que o supostamente apertado código construtivo estava, afinal, a ser bastante aligeirado nos anos antes do furacão, o que fez com que fossem sobretudo as casas novas a ruir. Steve Doig mostra-se, contudo, um pouco céptico quanto à especialização excessiva dos meios de comunicação social, que pode levar as pessoas a perderem a diversidade de pontos de vista que fazem a democracia e a reforçarem, por essa via, as suas convicções e os seus preconceitos, o que é mau para uma sociedade informada.
Para salientar a importância da imprensa regional e das notícias locais, Ana Cristina Gil, directora do curso de Comunicação Social e Cultura da Universidade dos Açores, leu um excerto de Eça de Queiroz para demonstrar como há 100 anos atrás, o pé ‘desmanchado’ de uma pessoa conhecida numa comunidade podia ser para essa mesma comunidade uma notícia mais importante do que milhares de mortos num terramoto na Indonésia. Ana Cristina Gil lembrou que, apesar de não serem “dinossauros comunicacionais”, os jornais regionais ainda não despertaram verdadeiramente para as redes sociais, onde podem obter notoriedade junto de novos públicos que já não querem ler em papel e, por fim, defendeu que não há neste momento licenciados a mais em comunicação social nos Açores, havendo sim falta de jornalistas nas redacções da imprensa regional.
O último orador do colóquio foi Mitchell Weisberg, professor na Sawyer Business School da Suffolk University de Boston, que não tem dúvidas em afirmar que o jornal em papel está ‘morto’, mas apenas enquanto entidade isolada e da forma como ele existiu até ao início deste século. Isto porque os hábitos estão a mudar e até as pessoas em idade ‘sénior’ são das que mais aderem hoje em dia às redes sociais, onde já se passa muito mais tempo do que a ler jornais. A tendência actual dos jornais é para o papel perder importância na mesma medida em que o online ganha terreno e a grande virtude está em perceber a altura em que se irá dar o ‘ponto de viragem’. A internet é um comboio que todos têm de apanhar, nem cedo, nem tarde de mais. “Não posso dizer como vai ser o futuro, mas há que experimentar e aprender com os erros”, afirmou Mitchell Weisberg para quem o futuro do jornalismo está na abrangência das fontes. O jornalista deixará de ser o único produtor de notícias e todos os cidadãos serão, em potência, produtores de notícias. Caberá depois às empresas de comunicação social seleccionar esse imenso material e canalizá-lo para o papel, para as edições online ou mesmo para as redes sociais, conforme as suas características.
No limite, teremos jornais online cuja primeira página resulta das preferências dos leitores e entraremos numa era em que os jornais serão vendidos em ‘pacote’, ou seja, é o leitor que decide que notícias pôr no seu ‘carro de compras’ e sobre que temas de entre um vasto leque de opções. Por fim, Mitchell Weisberg diz que, apesar de inevitável, não é necessária uma mudança súbita. Há sim que ir fazendo mudanças graduais, envolvendo o público nessas mudanças e ir estabelecendo parcerias empresariais para partilha do risco numa era de grandes mudanças. •