Autor: Rafael Dutra
Irina Rodrigues, desportista portuguesa que participou nos Jogos Olímpicos de Paris e que trabalha no Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira (HSEIT), revelou estar bastante satisfeita com o resultado conquistado (apesar de admitir que podia ter conseguido ainda mais), mas afirma que não sabe se continuará como atleta de alta competição no lançamento do disco.
Na sua terceira participação olímpica, após Londres em 2012 e Tóquio 2020 (realizado em 2021 devido à pandemia da Covid-19) – qualificou-se para o Rio de Janeiro em 2016, mas lesionou-se uma semana antes da competição iniciar - Irina Rodrigues atingiu a sua melhor marca pessoal nos Jogos Olímpicos, chegando à final do lançamento do disco e alcançando o nono lugar, ficando apenas a um do diploma olímpico.
Não obstante, em entrevista ao Açoriano Oriental, a atleta que trabalha no HSEIT, faz um “balanço muito positivo” da sua prestação em Paris, mas revela que ficou com um “sabor agridoce” porque achava que poderia fazer ainda melhor.
“Saí da competição com um sabor agridoce porque senti que era capaz de lançar mais do que 61 metros nos lançamentos da final, mas avaliando toda a época, acho que foi uma época bastante positiva”, realçou.
Foi, de igual modo, um sentimento agridoce por ter ficado a poucos centímetros do diploma olímpico e de disputar os três lançamentos finais, especialmente tendo em conta que sentiu um “desconforto” muscular, que lhe limitou fisicamente.
“Senti que foi um sabor agridoce por ter ficado aquém dos três lançamentos finais e de diploma olímpico. Na competição tive um desconforto que se depois traduziu numa lesão muscular”, revela, acrescentando que isso lhe impactou a sua confiança para “arriscar mais”.
“A verdade é que não deixa de ser um resultado bastante bom, mesmo estando perto [do diploma olímpico]”, prosseguiu a atleta portuguesa.
Tendo em consideração as sucessivas queixas dos atletas olímpicos em relação às condições vividas nas acomodações providenciadas em Paris, Irina Rodrigues confirma que houve vários constrangimentos.
“Houve de facto alguns problemas, nomeadamente pelo facto de estarmos um pouco longo do refeitório, tínhamos de andar alguns metros para chegar à cantina. Isso em vésperas de competição pode traduzir nalgum cansaço. As limpezas nos nossos quartos nem sempre eram as mais regulares e às vezes dávamos por nós com algum desconforto nos quartos”, recordou, adiantando que tinha muito calor nos quartos.
Questionada se estas condições e o calor afetou a sua performance desportiva, Irina Rodrigues respondeu que não, uma vez que “está habituada à humidade e ao calor”. A atleta referiu ainda que nunca teve necessidade de sair do quarto para dormir, como aconteceu de forma insólita com o atleta italiano Thomas Ceccon.
Sobre a vinda a Portugal, e depois aos Açores, Irina Rodrigues diz que foi recebida em Lisboa por um dos seus melhores amigos. Já quando chegou à Terceira foi recebida pelos seus colegas internos do HSEIT, bem como pelo seu treinador e amigos do atletismo e a própria comunicação social: “Foi uma surpresa de que não estava à espera”, destacou.
No que diz respeito ao futuro, a atleta aponta que ainda não sabe o que vai fazer, porque cada vez mais se torna difícil conciliar a sua carreira com os treinos e a preparação de alto rendimento.
“Ainda não tenho a noção do que vou fazer, é algo que preciso pensar um pouco mais e analisar o que temos em cima da mesa. Há muitas coisas que tenho que ter em conta, também quero iniciar o meu internato médico e isso começa a ser um pouco mais difícil de conciliar com os treinos, com a preparação de alto rendimento. Ainda não tomei uma decisão”, admitiu.
Nesse sentido, reforça que são necessárias “melhores condições financeiras e até maior apoio” para conseguir investir em “obter melhores resultados”.
“Quando
nós falamos em melhores condições, é pelo menos ter algum dinheiro para
pôr de parte para poder investir no futuro. Porque não havendo essa
garantia fica difícil, para os atletas, pelo menos para mim, de me
dedicar a tempo inteiro, sem salvaguardar um plano b”, explica.
Caso
aconteça “algum azar ou lesão”, os apoios destinados aos atletas “deixam
de existir”, outro motivo que a levou a investir na sua carreira
médica: “Temos de pensar no futuro e é por isso que investi na minha
carreira como médica”, conclui Irina Rodrigues.