Autor: Carlota Pimentel
Nos dias de hoje ainda existe uma “grande falta de informação sobre a gravidez e o parto”, mas também muita desinformação, que é potenciada por conteúdos disseminados online, sobretudo nas redes sociais, feitos sem “recomendações” ou “fundamento médico”, o que pode colocar em risco a saúde “maternal e fetal”, alerta especialista.
No âmbito do Dia Mundial da Saúde, celebrado hoje, no aniversário da fundação da Organização Mundial da Saúde (OMS), entidade que vai lançar uma campanha de um ano focada na saúde maternal e neonatal, com o propósito de acabar com as mortes maternas e neonatais evitáveis e de priorizar a saúde e o bem-estar das mulheres a longo prazo, o Açoriano Oriental entrevistou Joana Vasconcelos Raposo, especialista em Ginecologia-Obstetrícia no Hospital CUF Açores.
Para a médica, este problema da desinformação tem sido agravado pela desinformação que circula na Internet e nas redes sociais atualmente.
“Embora a Internet seja uma ferramenta valiosa para potenciar o conhecimento, também tem sido um espaço onde mitos, informações distorcidas e até conselhos duvidosos são partilhados sem qualquer base científica”, sustenta, adiantando que esta informação, partilhada “sem recomendações” e “fundamento médico” pode colocar em perigo a saúde maternal e fetal.
“Essa desinformação pode levar a situações graves, como o uso de tratamentos inadequados, falta de adesão às indicações e orientações médicas, culminando na desconfiança da própria medicina, que muito tem vindo a evoluir para garantir uma gravidez mais segura, com acompanhamento especializado e tratamentos eficazes”, prossegue, destacando que numa gravidez de risco, por exemplo, existe maior potencial de complicações.
Conforme explica Joana Vasconcelos Raposo, este elevado risco exige “um acompanhamento médico mais rigoroso”, uma vez que existem muitos problemas de risco que podem complicar a gravidez, sendo os mais prevalentes “a hipertensão, a diabetes e a obesidade materna”.
Segundo a especialista, estando numa gravidez de risco, é necessário cuidados médicos mais específicos para garantir a segurança da grávida e do feto.
“Em vez do normal padrão de acompanhamento a cada 4 a 6 semanas, em situações de gravidez de risco são realizadas consultas pré-natais adicionais, por norma quinzenais ou semanais, consoante a situação clínica”, afirma.
E acrescenta: “Relativamente às ecografias e cardiotocografias (CTG), estas são também realizadas com mais frequência, a qual, à semelhança das consultas, varia de acordo com a patologia em causa. Circunstancialmente, poderá ainda ser necessário o acompanhamento da gravidez em conjunto com outras especialidades médicas, bem como a realização de exames específicos adicionais”.
Relativamente às principais dificuldades que as grávidas de risco enfrentam, Joana Vasconcelos Raposo assinala que em situações de gravidez de risco podem surgir alguns desafios que advêm da monitorização mais frequente e restrição da atividade física.
“É importante realçar o impacto emocional e psicológico, como a ansiedade e o medo de eventuais complicações ou desfechos obstétricos adversos, e dificuldades na rotina do dia a dia e na vida profissional que podem surgir em consequência de todos estes fatores”, frisa.
Tendo em consideração que uma gravidez de risco “pode ser desafiante”, a médica sugere que o segredo para lidar com esta situação, de forma “tranquila e segura”, passa por “seguir as orientações médicas, manter um estilo de vida saudável e contar com apoio emocional e social”.
Além disso, a especialista na CUF argumenta que deve ser feito um acompanhamento médico rigoroso, com consultas frequentes, exames regulares e seguimento com especialistas, quando necessário, são “essenciais” para prevenir e tratar complicações.
“Uma alimentação saudável aliada a exercício físico adaptado a esta fase da vida (quando não for contraindicado) são fundamentais para garantir o bem-estar materno e fetal e, não menos importante, manter uma boa hidratação e descanso adequado. Adicionalmente, é importante estar alerta para eventuais sinais de alarme”, defende.
Questionada sobre se fazer uma consulta antes de engravidar pode evitar problemas durante a gestação, Joana Vasconcelos Raposo revela que a consulta pré-concepcional “é muito importante para evitar complicações durante a gestação, especialmente em mulheres com fatores de risco”.
De acordo com a médica, esta consulta em particular tem como principais objetivos a identificação de doenças pré-existentes que possam ser otimizadas, reduzindo o risco de complicações durante a gravidez, a avaliação de fatores genéticos em situações de história familiar de doenças genéticas em que determinados exames podem estar indicados.
Para além disso, continua a especialista, esta consulta visa a prevenção de infeções que podem ser detetadas e tratadas antes da gravidez evitando riscos para o feto, eventual ajuste da medicação crónica e correção de deficiências nutricionais, de forma a minimizar o risco de malformações fetais e, finalmente, orientações sobre o estilo de vida, como ajustes na alimentação e controlo de peso garantindo uma gestação mais saudável.
Joana Vasconcelos Raposo finaliza realçando que é fundamental reforçar que os profissionais de saúde são a fonte mais indicada para oferecer orientações seguras e personalizadas a cada grávida, e que é necessário ter em atenção conteúdos propagados online.