Autor: Lusa/AO Online
Manuel São João manifestava apreensão com a proposta apresentada pela Cooperativa Porto de Abrigo, que defende um preço mínimo assegurado de 1,50 cêntimos por quilo de chicharro, “precisamente depois de se ter anunciado esta iniciativa” de implementação do processo de cogestão para a pescaria.
O governante falava aos jornalistas na sequência de uma reunião realizada esta terça-feira, em Ponta Delgada, com representantes do setor das pescas.
O titular da pasta das Pescas considerou que, com o preço mínimo assegurado de 1,50 cêntimos por quilo de chicharro, se teria, no ano transato, “o chicharro todo por vender”, uma vez que o “preço médio do chicharro em lota foi de 1,42 euros”.
Manuel São João, que salvaguardou já haver um período de pausas na pesca do chicharro, uma vez que são quatro os dias por semana de faina, com a compensação financeira dos armadores e pescadores, admitiu “enveredar por este caminho, se necessário”.
“Mais vale não desperdiçarmos 26 toneladas de chicharro, convindo capturar menos para valorizar o recurso”, afirmou o secretário regional, numa alusão ao que se passou em 2021.
O secretário regional do Mar e das Pescas, para além da eventual diminuição dos dias de captura, apontou a eventual redução do valor da caldeirada (pescado destinado à alimentação dos armadores e pescadores) e do isco.
"Nesse momento, é reconhecido (caldeirada e isco) por todos como um fator de instabilidade no mercado, porque proporciona uma forma de abastecimento dos vendedores, passando-se pela lota mas depois desviando para a comercialização, deixando o outro pescado por vender em lota”, acabando no mercado paralelo, observou.
Gualberto Rita, presidente da Federação de Pescas dos Açores, declarou, por seu lado, que a fuga a lota tem que ser combatida através da união dos parceiros do setor das pescas.
“Todos os dados que foram aqui apresentados demonstram que o grande problema do desequilíbrio que há no mercado dessa espécie tem a ver com a fuga à lota”, indicou.
O dirigente considera que “o problema começa na produção, tem uma parte de culpa da comercialização e, por fim, do consumidor final”, havendo que continuar o trabalho que a FPA tem feito com o Governo dos Açores de “regulação da procura e da oferta do chicharro e da cavala”.
O líder da FPA, que aponta o mercado paralelo representa cerca de 25% das capturas do pescado, afirma que “há embarcações a mais durante a semana a capturar para o que o mercado procura”, devendo-se reduzir as suas saídas durante a semana, com a compensação dos pescadores que deixam de exercer a faina.
Gualberto Rita refere que há "licenças a mais para o que o mercado está a pedir", daí que subscreva que os armadores que queiram cessem a atividade, sendo 13 as embarcações autorizadas com rede de cerco na pesca do chicharro.
O processo de cogestão das pescas passa pela introdução de todos os intervenientes do setor na gestão dos recursos, a par com o Governo Regional, visando a sua sustentabilidade em termos ambientais, económicos e sociais.
O secretário regional do Mar e das Pescas, defendeu uma maior corresponsabilização de todos os intervenientes na fileira do chicharro, tendo em vista a avaliação da viabilidade da implementação de um processo de cogestão para a pescaria daquela espécie.