Autor: Nuno Martins Neves
Tomou posse ontem o XXIV Governo Constitucional, liderado pelo
social-democrata Luís Montenegro. O presidente do PSDe líder da Aliança
Democrática, bem como os 17 ministros que compõem o executivo, iniciam
agora funções, com inúmeros dossiers que dizem diretamente respeito aos
Açores e aos açorianos, alguns que carecem de resolução urgente.
Lei de Finanças Regionais
À cabeça, a Lei de Finanças das Regiões Autónomas e a proposta de revisão. Revista pela última vez em 2013, a lei que define os meios de que dispõem as Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira para concretizarem a autonomia financeira consagrada na Constituição e nos Estatutos político-administrativos tem sido alvo de críticas por se encontrar desfasada da realidade.
O grupo de trabalho, liderado pelo
especialista em finanças públicas Eduardo Paz Ferreira, deveria ter
apresentado as conclusões da proposta de revisão da Lei de Finanças
Regionais até ao final de 2023, como anunciou o próprio em julho
passado, aquando da Cimeira Açores-Madeira, ocorrida no Funchal. No
entanto, até ao momento, desconhece-se qualquer avanço no processo.
Infraestruturas e Habitação
A construção do Anel CAM, a rede de cabos submarinos de fibra ótica entre o Continente, Açores e Madeira, que substituirá a infraestrutura existente, conheceu um novo capítulo em março deste ano, com a assinatura do contrato para a construção e instalação da importante rede de comunicações entre a Infraestruturas de Portugal e a Alcatel (empresa vencedora), mas o atraso no arranque da empreitada tem sido motivo de preocupação, principalmente por os atuais cabos submarinos já terem ultrapassado o prazo limite de vida.
A juntar-se a isso está o
anel interilhas, também em fim de vida útil e que motivou a ANACOM a
solicitar a criação de um grupo de trabalho para estudar o processo. O
anterior executivo remeteu para o governo açoriano a responsabilidade de
substituir os cabos. Resta saber que posição tem o atual, que ontem
tomou posse.
De recordar que, recentemente, a própria Comissão
Europeia apontou a conectividade como uma das áreas que a Região
Autónoma dos Açores mais carece de melhoria. Uma pasta que Miguel Pinto
Luz, ministro das Infraestruturas e Habitação, terá entre mãos.
A
segunda carência mais premente dos Açores, segundo o mesmo estudo da CE,
é a falta de casas. E aqui também o vice-presidente dos
sociais-democratas será chamado a decidir.
Com uma parte significativa do Plano de Recuperação e Resiliência destinado a tratar da falta de oferta, o ministro das Infraestruturas e Habitação terá de agilizar processos, nomeadamente através do IHRU (Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana), cuja burocracia tem emperrado a execução dos fundos do PRR, como alertou esta semana o presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, em entrevista ao Açoriano Oriental.
Educação, Ciência e Inovação
O
financiamento do ensino superior, em particular a Universidade dos
Açores, é outro tema que a Região pretende ver definido pela República.
No
último aniversário da academia açoriana, a reitora Susana Mira Leal foi
taxativa em considerar que o contrato-programa, na ordem dos 14,6
milhões de euros até 2027, assinado com o Governo da República, não
resolve o financiamento da Universidade dos Açores, sendo essencial
garantir um financiamento estável e sustentável após essa data.
A
pasta do Ensino Superior, que no anterior executivo tinha ministério
próprio, integra agora o da Educação, Ciência e Inovação, liderado pelo
economista Fernando Alexandre.
Justiça.
A construção do novo
Estabelecimento Prisional dePonta Delgada, eterna promessa adiada,
estará no topo das preocupações, mas não será a única para a ministra da
Justiça, Rita Júdice.
Com vários tribunais da Região carentes de
intervenção (na Ribeira Grande, chove no interior do edifício, por
exemplo), bem como de oficiais de justiça, e serviços como registos e
notários em claro défice de recursos humanos e de infraestruturas
condignas, a Região aguarda com atenção a sua atuação.
Administração Interna
Na
mesa de Margarida Blasco, a nova ministra da Administração Interna,
estará o reiterado pedido de mais elementos para a Polícia de Segurança
Pública nos Açores, região onde a criminalidade associada ao consumo de
estupefacientes tem aumentado e há diversas esquadras, como a de Ponta
Delgada, que encerram à noite por falta de agentes.
Economia
A revisão do modelo de atribuição do subsídio social de mobilidade será um dos assuntos que Pedro Reis terá pela frente.
Envolto em queixa dos cidadãos e investigações judiciais por supostas fraudes ao erário público, o mecanismo criado em 2015 para garantir aos residentes da Região Autónoma dos Açores um preço de bilhete de 134 euros entre o arquipélago e o continente será um dos dossiers para o novo ministro da Economia avaliar.