Autor: Paula Gouveia
As fotografias a preto e branco da artista Andrea Santolaya que
registam a expressão dura dos reclusos do Estabelecimento Prisional de
Ponta Delgada foram selecionadas para o Festival Internacional de
Fotografia “PHOTO IS:RAEL”, e exibidas nas ruas de Tel Aviv, junto do
trabalho de outros 19 fotógrafos.
A artista espanhola, residente em São Miguel, confessa que este foi, de entre os seus trabalhos, o mais difícil. Em 2017, iniciou o projeto “Isolado”, explorando diversas comunidades na ilha de São Miguel que, de certa forma, se encontram isoladas, geográfica ou socialmente, ou que são apenas invisíveis ao comum do cidadão. Uma dessas comunidades foi a dos reclusos.
Em 2018, bateu à porta do grande edifício, com o seu portfólio debaixo do braço, para pedir autorização para o projeto. “O meu objetivo não era só fotografar a prisão – o lugar é incrível, está junto ao mar, o edifício é monumental e histórico, diz Andrea Santolaya. “Era atingir a parte mais humana destes homens que estão fechados, e que, para mim, é a comunidade mais isolada na ilha – estão numa prisão, à frente ao mar, numa ilha. É uma metáfora contínua”, repara a fotógrafa.
“Estive um
ano, a entrar e a sair da prisão, em várias épocas do ano”, para fazer
os seus retratos, conta. “Queria que se visse a humanidade por detrás
deles”, explica.
“Posso dizer que foi dos projetos mais difíceis para mim pessoalmente”, confessa.
“Alguns
não queriam ser fotografados, e eu respeitava. Eles tinham documentos
para assinar três vezes, para evitar problemas no futuro, e isso
dificultava o acesso”, diz.
Quando os fotografava, “todos eles
queriam rir, mas eu queria um retrato sério e duro, porque é uma
realidade que não é comum”. As fotos têm, pois, traços comuns: “a
seriedade, o tipo de iluminação, e outras coisas, como por exemplo, as
tatuagens que é uma afirmação de “isto sou eu””.
“Não lhes perguntei porque é que estavam na prisão, mas sim o que é que queriam e gostavam de fazer. Muitos mostravam os seus trabalhos na secção de artesanato, o que faziam com madeira; outros era o futebol, gostam muito de desporto; outros era a área da cozinha; e outros a biblioteca”, conta.
Houve um episódio que marcou Andrea Santolaya: “Havia um recluso que era americano, falava mal português, e não queria ser fotografado, mas de repente um dia, ele toca-me no ombro e diz-me: já estou preparado. E fotografei-o”.
Apesar de ter sido dos seus trabalhos mais difíceis, a fotógrafa diz ter sido também um trabalho que gostou muito de fazer. Andrea Santolaya explica porquê: no final, eles perceberam que era uma coisa positiva, que dignificava quem eles são”.
“O facto de uma
pessoa se aproximar de outra, e dizer: ‘vem cá, vamos conversar, vamos
fotografar, vamos fazer uma coisa juntos’, afastava-os um pouco do seu
dia a dia”, diz.
Andrea Santolaya partilha que “a importância da
fotografia para mim não reside no facto de fazer uma foto, retratar uma
realidade, mas sim em conseguir atingir o outro”.