Açoriano Oriental
Histórias dos Rallyes
Ex-carro oficial da Volkswagen fez reconhecimentos nos Açores

O piloto do Team Além Mar, Luís Miguel Rego, tem utilizado como carro de reconhecimentos um VW Golf R que pertenceu à equipa oficial no WRC. Um carro onde tudo foi pensado ao pormenor e que foi uma autêntica ‘escola’ para o piloto


Autor: Rui Jorge Cabral

“Não há rali nenhum que não seja ganho nos reconhecimentos”, afirma ao Açoriano Oriental o piloto que já foi três vezes campeão dos Açores de ralis, Luís Miguel Rego, do Team Além Mar.

Os reconhecimentos são a altura antes do rali começar em que, com apenas duas passagens, se tiram as notas de andamento para os troços cronometrados. E foi precisamente com um carro de reconhecimentos muito especial, que pertenceu à equipa oficial da Volkswagen no WRC, que Luís Miguel Rego pôs em prática nos últimos anos esta máxima de que os ralis começam a ganhar-se num bom reconhecimento dos troços.

O carro é um VW Golf R, que foi especialmente preparado pela Volkswagen Motorsport para servir de viatura de reconhecimentos para os seus pilotos oficiais. Recorde-se que a Volkswagen correu oficialmente no WRC entre 2012 e 2016, no primeiro ano com um Skoda Fabia S2000 e, a partir de 2013, com o Volkswagen Polo R WRC, tendo conseguido quatro títulos mundiais consecutivos com a famosa dupla Sebastien Ogier / Julien Ingrassia.

O carro que tem sido usado por Luís Miguel Rego para reconhecimentos no Campeonato dos Açores de Ralis tem o nº 7 e foi utilizado por Andreas Mikkelsen, vencedor por duas vezes do Azores Rallye.

Quando a equipa oficial da Volkswagen encerrou a sua atividade no WRC, o carro veio para Portugal onde terá primeiro sido utilizado pelo ex-campeão nacional Pedro Meireles e mais tarde pelo piloto Manuel Castro e a sua equipa Racing 4 You, antes de Luís Miguel Rego o adquirir e trazê-lo para os Açores.

Por fora, o VW Golf R parece um normal carro de estrada em versão desportiva. Mas por dentro, é um autêntico carro híbrido de ralis. Tem cerca de 300 cavalos de potência, quatro rodas motrizes, uma caixa automática com patilhas, para que o piloto não tire as mãos do volante - que é de competição - e está equipado com um rollbar de ralis, para além de um fundo plano para proteger o carro e até faróis auxiliares para situações de pouca visibilidade ou noturnas.

E para além de todos os equipamentos de medição de distâncias (Terratrip), intercomunicadores piloto/navegador e câmaras para filmar os reconhecimentos, o VW Golf R veio ainda equipado com kits para terra e asfalto, possui um reservatório de reserva de combustível e, para conforto de piloto e navegador durante os dias longos de reconhecimentos, tem ainda uma pequena geleira para guardar as refeições, caso não haja tempo para parar para almoçar.

Em declarações ao Açoriano Oriental, Luís Miguel Rego afirma que este “é um carro fantástico, que foi pensado ao pormenor” e que representa “o melhor de dois mundos”, ou seja: “como passamos muitas horas dentro do carro de reconhecimentos, temos um conforto que é fundamental”, de que são exemplos os estofos originais e o ar condicionado, mas também “temos tudo o que precisamos da parte da competição para nos aproximarmos o máximo possível de um carro de corridas”.

Um exemplo disso é a utilização de suspensões apropriadas para terra ou asfalto. Contudo, se nos reconhecimentos não se pode andar depressa, para que serve uma suspensão de corrida? Luís Miguel Rego explica: “Isto tem a ver com a leitura do terreno”, ou seja, num carro normal, com suspensões originais, o comportamento em estrada vai ser completamente diferente de um carro de ralis. Em terra, por exemplo, “achamos que nunca temos tração e vamos ter sempre uma leitura errada da estrada”, afirma o piloto. Além disso, prossegue Luís Miguel Rego, “se tivermos um ressalto na estrada, se eu for num carro normal, o impacto vai ser grande e pode retirar-me confiança e dar-me uma imagem errada de ter de passar mais devagar ali”.

Pelo contrário, quando o carro de reconhecimentos tem muitas das características de um carro de ralis, como é o caso do VW Golf R ex-oficial, “com suspensões de competição, ao passar nesse ressalto, não o sinto e, por isso, com o carro de corrida posso passar ali sem qualquer problema”.

E também ao nível da tração, ter as mesmas quatro rodas motrizes do carro de ralis no carro de reconhecimentos e suspensões de competição ajudam a “perceber melhor se estamos num tipo de piso com muita ou pouca tração”, explica Luís Miguel Rego. Ou seja, mesmo quando num carro com suspensões de corrida se sente falta de tração, isso quer dizer “que precisamos de ajustar o carro de ralis a essa situação”.

Portanto, ter a ambiência de um carro de ralis no VW Golf R permite a Luís Miguel Rego “uma preparação mental para que, quando estivermos na partida para o primeiro troço, tudo nos pareça mais natural do que se viéssemos de um carro do dia-a-dia”. Isto porque, afirma o piloto, “se não fizermos um trabalho de casa perfeito, posso ser rápido e logo a seguir cortar numa curva que não deveria cortar e furar, o que não me vai servir de nada, porque não vou conseguir materializar esta rapidez”.

Depois de passar nos Açores uma parte da sua rica história, o VW Golf R ex-equipa oficial da Volkswagen está à venda e poderá encontrar proximamente um novo dono em Portugal ou no estrangeiro. Contudo, o VW Golf R não vai sair da memória de Luís Miguel Rego, para quem este carro foi uma autêntica ‘escola’ sobre como reconhecer bem um rali.

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