Autor: Ana Carvalho Melo
Alice Albergaria Borges cruza a conceção artística com o
design e o artesanato, criando trabalhos únicos que agora estão em
exposição na Galeria Fonseca Macedo.
Em “Este cinzento é água e ar”, a
artista apresenta um conjunto de peças de tecelagem, onde a cor é
celebrada através de processos de tinturaria natural.
“Esta exposição é sobre a cor e a tinturaria, como é que a cor se faz e como de onde vem a cor. Mas é também sobre a cor de um ponto de vista sociocultural e em termos históricos e políticos”, explicou a artista ao Açoriano Oriental.
Neste contexto, na galeria estão em exposição sete peças têxteis de cor única: amarelo, azul, roxo, castanho, vermelho, verde e cinzento.
“Foi decisão minha escolher estas sete cores nestas peças nesta exposição, na qual também apresento um desenho feito com guaches a partir de pigmentos extraídos de corantes naturais. Este trabalho é o início de um processo que poderá vir a dar mais frutos e provavelmente irei voltar a fazer mais peças assim”, contou.
Para esta exposição,
Alice Albergaria Borges contou com curadoria de Jesse James, uma
colaboração que a artista destaca como fundamental na construção da
história que pretende contar. “O papel do Jesse James foi importante
porque eu tenho muitas ideias sobre as cores e os trabalhos que quero
apresentar, tendo esta colaboração me permitido contextualizar o meu
trabalho artisticamente e me ajudado a construir a exposição e a usar o
espaço, de forma a criar diálogos entre as peças e as ideias que tenho
no espaço da galeria”,referiu.
Ligada à ilha de São Miguel, onde regressa com frequência, a artista revela que o vínculo os 14 anos está profundamente evidenciado nos seus trabalhos artísticos.
“Eu não vivo em São Miguel, mas tenho uma relação muito forte com a ilha e a obsessão em trabalhar com materiais naturais deve-se muito ao facto de ter crescido aqui”, admitiu, acrescentando: “a paisagem de São Miguel é sempre uma referência no meu trabalho, as cores da paisagem micaelense e o cinzento do céu, da areia e da rocha”.
E falando da cor, a artista explicou que todas as cores que usa são obtidas a partir de ingredientes naturais.
“Nas peças expostas o meio é a tecelagem e o fio, mas o tema é a cor. A tinturaria natural é um ofício por si só, que requer muita pesquisa. A tinturaria é um trabalho quase alquímico”, descreveu.
Nesse sentido realçou que o título “Este cinzento é água e ar”, se deve ao facto de o cinzento ser a mistura de todas as cores, mas também por “agregar a ideia de ambiguidade e da cor ser algo ser relativo e mutável”. Enquanto a água e o ar estão relacionados com a mutabilidade, o que está profundamente relacionado com o trabalho que realiza com os corantes naturais.
Alice Albergaria Borges contou ainda que o gosto pela
tecelagem surgiu desde tenra idade, tendo estudado na Escola Artística
António Arroio em Lisboa, onde se especializou em produção artística
têxtil. Depois estudou design têxtil em Inglaterra onde se focou em
tecelagem na Chelsea College of Arts.
Tendo ao regressar a Portugal se envolvido com a tinturaria que é a técnica mais recente que utiliza.
A exposição que está patente na Galeria Fonseca Macedo pode ser visitada até 30 de dezembro.