Autor: Lusa/AO Online
Às primeiras horas do dia 31 de outubro de 1997, um mar de lama e de terras engoliu dezenas de casas junto à canada da Igreja Velha, a zona mais afetada, num cenário de horror, agravado pela obstrução do único acesso rodoviário à freguesia, onde mora a segunda maior comunidade piscatória da ilha de São Miguel depois de Rabo de Peixe, no concelho da Ribeira Grande.
A situação agravou-se pelo facto de a única estrada que liga a freguesia ao resto da ilha ter ficado inacessível, mas também sem eletricidade, água e comunicações.
O trabalho de resgate de corpos, incluindo de famílias inteiras, foi dificultado pela chuva constante, numa comunidade de cerca de mil pessoas onde todos se conheciam.
Na ocasião, o pároco local, o padre Silvino Amaral, desempenhou um papel preponderante na motivação da população que temia acontecimentos idênticos.
“Eles estão fortemente marcados pela morte dos seus parentes e jamais esquecerão o que aconteceu”, sublinhou na altura o padre Silvino Amaral, que liderou o processo de apoio aos sinistrados e foi condecorado pelo presidente da República Jorge Sampaio.
Nas semanas seguintes à catástrofe, quando se tentava regressar à normalidade, o maior receio das autoridades locais era a possibilidade de muitas famílias abandonarem a freguesia da costa sul de São Miguel, mas a esmagadora maioria preferiu ficar.
Na sequência da catástrofe, vários investimentos realizados, nomeadamente a reabilitação do parque habitacional, a construção de uma avenida marginal de cerca de um quilómetro que desemboca no centro nevrálgico da localidade e o porto de pescas foram decisivos para o renascer da freguesia.
Após a tragédia, a Ribeira Quente conheceu a solidariedade, incluindo de emigrantes açorianos radicados nos Estados Unidos da América e Canadá.
Na zona mais atingida pelas derrocadas, a poucos metros do cemitério, foi proibida a construção e feita uma área ajardinada com um campo de jogos descoberto.
Ao cimo da rua uma lápide guarda o nome das 29 vítimas mortais.
Além dos 29 mortos, ficaram feridas sete pessoas e outras 69 desalojadas, de acordo com um relatório do Instituto de Proteção e Segurança do Cidadão do Centro Comum de Investigação da Comissão Europeia que estimou os prejuízos em cerca de 21 milhões de euros.
O documento, datado de 2003, adianta que a freguesia do concelho da Povoação esteve isolada mais de 12 horas, tendo naquela manhã sido medidos 153,1 milímetros de precipitação.
A localidade, que no verão atrai muitos visitantes devido à praia, considerada como uma das mais bonitas dos Açores, acabou por ver o turismo afetado, dado que o desastre atingiu parte da zona balnear, sublinha o mesmo relatório.
O documento, que elenca as implicações socioeconómicas deste desastre natural, destaca também a construção de um heliporto para evitar novo isolamento da freguesia em caso de novas derrocadas, atendendo à impossibilidade de construir outro acesso rodoviário à Ribeira Quente.
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