Açoriano Oriental
Aquecimento global
Cientistas em quadros registo de alterações climáticas
Especialistas em alterações climáticas gregos estão a estudar a intensidade do vermelho do pôr-do-sol pintado por artistas em várias épocas para compreender em que medida os grandes vulcões do passado contribuíram para o aquecimento global.

Autor: Lusa / AO online
O grupo de cientistas revela no jornal Atmospheric Chemistry and Physics o estudo das cores de mais de 500 pinturas de pôr-do-sol, incluindo muitas aguarelas e óleos do pintor britânico J.M.W. Turner, do século XIX, na esperança de compreender os efeitos causados no clima pelas principais erupções vulcânicas.

Os cientistas acreditam desde há algum tempo que as grandes erupções vulcânicas contribuem para o processo do aquecimento global, quando a poluição do ar, que pode ser causada por poeira e cinzas de fonte industrial ou natural, bloqueiam o sol e têm um efeito refrigerador.

Através da compreensão das mudanças do clima no passado, pretendem estabelecer modelos de computador para simular as mudanças climáticas do futuro.

O investigador do Observatório Nacional de Atenas Christos Zerefos conduz aquela que diz ser a primeira investigação científica que usa a arte para encontrar variações climáticas do passado.

Os cientistas estudaram trabalhos pintados por altura das maiores erupções vulcânicas tal como o cataclismo da ilha indonésia de Cracatoa em 1883, para medir até que ponto a poluição natural da erupção detonou para o ambiente.

Relatos da altura descrevem um céu brilhante devido à dispersão de raios do sol através de poeira e partículas de cinza.

Através da medição do uso relativo de vermelho e verde nas pinturas através de computadores, os cientistas estão a calcular a quantidade de poeira na atmosfera.

"Quanto maior for a poluição, mais vermelho o pôr-do-sol", disse Zerefos.

O investigador disse que o critério foi escolher artistas que pintavam as coisas tal como as viam.

"Podem todos ter diferentes formas de pintar, mas as cores que usaram reflectiram o ambiente real", disse.

O grupo analisou 554 pinturas de 181 artistas, incluindo Edgar Degas, Gustav Klimt, Rembrandt, Thomas Gainsborough e Peter Paul Rubens.

Neste grupo, o britânico Turner tem especial importância por ter pintado antes, durante e depois de três erupções vulcânicas de grande importância: Monte Tambora, na Indonésia em 1815, Babuyan Claro, em 1831 nas Filipinas, e vulcão Cosiguina, na Nicarágua em 1835.

Das 54 pinturas analisadas relativas a alturas em que se deram erupções importantes, todos os casos mostraram um aumento significativo do vermelho - ou poluição - do céu.

No Atmospheric Chemistry and Physics, os investigadores escrevem que o vermelho mais vivo destes quadros "pode ser atribuído aos acontecimentos vulcânicos e não a anormalidades na degradação da cor devida à idade ou outros factores casuais".

Os autores afirmam que para obter estes resultados usaram parâmetros independentes de relatos históricos e outras evidências, como a medição de partículas de poeira preservadas no interior de gelo.

Pinturas do céu já tinham sido usadas para estudar o tempo e a atmosfera do passado, como por exemplo as séries sobre Londres de Claude Monet, para seguir a poluição causada pela revolução industrial, lembrou à AP o professor de meteorologia John Thorne, da Universidade de Birmingham, que não está ligado a este estudo.

No entanto, Kevin Trenberth, do Centro de Investigação sobre o Clima e do Centro Nacional para a Investigação da Atmosfera, em Boulder, Colorado, EUA, alertou que artistas e cientistas podem não ter a mesma visão do pôr-do-sol.

"São artistas, tentando fazer algo que pareça bonito ou dramático. Está presumivelmente subentendida uma tentativa de embelezamento", disse.

Também James Hamilton, da Universidade de Birmingham e com vários livros escritos sobre Turner, considerou que é preciso ter cautela ao considerar que estes quadros são uma visão rigorosa da realidade, porque "os artistas não fazem registos rigorosos do que vêem e trabalham também com a imaginação".
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