Autor: Paulo Faustino
Falando numa conferência sobre a sustentabilidade dos Açores, que decorreu em Ponta Delgada por iniciativa da Associação Seniores de São Miguel, Gualter Furtado lembrou que a economia regional depende muito das importações de cereais e combustíveis “e só bastaria essas duas componentes para ter um grande impacto aqui na Região”. “De facto, os preços estão a ter - em relação ao mês homólogo, ao final do ano e ao mês anterior - comportamentos muito elevados”, acentuou.
O economista faz notar que o impacto da guerra está longe, por enquanto, da proporção que a pandemia atingiu, mas tudo agora vai depender do tempo até a paz ser alcançada. “Se lá para o final do ano, se essa guerra não acabar e se não conseguirmos uma solução para os preços de algumas ‘commodities’, estou convencido que vamos ter um impacto muito forte no Produto Interno Bruto”, frisou.
O presidente do CESA reiterou a insustentabilidade do atual modelo autonómico da Região, fazendo notar que as suas receitas próprias, somadas às transferências da República e da União Europeia, são insuficientes para cobrir as despesas públicas. “Numa região em que as receitas próprias dos Açores cobrem somente 49,8% das nossas despesas, sendo a parte restante coberta por transferências do Orçamento do Estado, fundos comunitários e endividamento crescente, é evidente que temos aqui um problema de sustentabilidade e de linha de rumo que importa corrigir enquanto é tempo”, enfatizou.
Neste momento, as receitas próprias da Região já nem dão para cobrir as despesas de funcionamento, daí que o CESA se tem pronunciado sobre a necessidade de haver uma tomada de consciência e ser definida “uma linha de rumo que robusteça e ponha o setor privado a contribuir mais para o desenvolvimento dos Açores”.
Há uma década que a Região está numa escalada de endividamento, decorrente da constatação que gastamos muito mais do que a riqueza que produzimos que não chega para metade daquilo que gastamos. Um contexto negativo especialmente agravado, nos últimos dois anos, pela pandemia e agora com a guerra na Ucrânia, de consequências imprevisíveis.
Para Gualter Furtado, “está visto e demonstrado” que o modelo de crescimento adotado pela Região não tem reduzido a sua dependência externa, assim como não resolveu problemas sociais como a pobreza, problema esse em que os Açores ocupam um lugar a nível nacional “que nos deve envergonhar”. “Mesmo que nos anos mais recentes estes indicadores tenham melhorado, continuamos com uma em cada cinco pessoas nos Açores (2020) em situação de pobreza”, afirmou.
Por
outro lado, lembrou que a conjugação da diminuição da população com o
seu envelhecimento “coloca uma grave restrição à sustentabilidade das
políticas de desenvolvimento no arquipélago”, havendo uma “forte pressão
sobre os recursos humanos que começam a faltar em qualidade e mesmo em
quantidade”. Por essa razão, o CESA aconselha que a demografia e os
recursos humanos passem a ser “uma das principais prioridades nos
programas e planos de investimentos nos Açores”.