Açoriano Oriental
Caderno de memórias coloniais e outras histórias do Novo Mundo

Isabela Figueiredo nasceu em Moçambique, veio para Portugal em 1975. Foi jornalista, professora e, nos anos 80, publicou os seus primeiros textos. Este ano incorpora a programação do Arquipélago de Escritores, um evento que tem feito dos Açores um porto de cruzamento de diferentes culturas e literaturas. A primeira edição aconteceu em 2018. Este ano, sob a organização organizado pela Alga Viva Produções e com o apoio do Governo dos Açores, da FLAD e da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, volta às ruas de São Miguel e da Terceira.

Caderno de memórias coloniais e outras histórias do Novo Mundo

Autor: Eduarda Mendes/ Arquipélago de Escritores

Nasceu em Lourenço Marques, no ano de 1963. Com a independência de Moçambique regressou a Portugal, integrada no contingente de retornados. Tem dedicado grande parte do seu trabalho a tratar assuntos como a exclusão/inclusão, estratégias de poder e colonialismo. Afirma que “o motivo porque escrevo sobre os temas que refere é porque são prioridades na minha vida. Aprendo ao escrever sobre eles e comunico com os meus iguais. Um interesse não se explica. É o sentido da vida”. A primeira edição do "Caderno de Memórias Coloniais" é de 2009. Um livro cuja história aborda o final do império colonial português e o relato de um pai e de uma filha, com a cidade de Lourenço Marques a servir de cenário. Sobre esta obra, José Gil escreveu que “Nenhum livro restitui, melhor do que este, a verdade nua e brutal do colonialismo português em Moçambique.”

O livro valeu-lhe a nomeação para o prémio Femina Estrangeiro — um dos mais importantes prémios literários franceses. A obra foi editada em França pelas Editions Chandeigne e integrou a primeira seleção do prémio, juntamente com outros 15 escritores, sendo uma dos 11 selecionados a passar à segunda fase. O “Caderno de Memórias Coloniais” foi também editado em Espanha, Itália, Alemanha, Eslovénia e Brasil.

Isabela Figueiredo foi jornalista no Diário de Notícias e escreveu alguns dos seus primeiros textos no suplemento – já extinto – DN Jovem, do mesmo jornal. Dedicou parte dos seus estudos às Línguas e Literaturas Lusófonas, Sociologia das Religiões e Questões de Género. Em 2016 publica o livro “A Gorda”, a história de Maria Luísa, uma rapariga cuja característica física a incomoda ao ponto de colocar em causa todas as virtudes que tem. Para a autora é importante criar personagens principais que acabam por sair do estereótipo “Qual seria a vantagem para a arte e a humanidade de se criar algo que não questione a realidade, que não a acrescente? Que trabalho artístico seria esse? Seria arte ou indústria?”.

A escritora entende que neste momento, em Portugal, o panorama literário é rico e diversificado ” Temos muita gente a escrever bem. O problema não está na produção, mas na receção. Não há investimento na manutenção de hábitos de leitura a partir do final do primeiro ciclo. A escola ensinaria a escrever e a pensar se ensinasse a ler simbolicamente. Eu aprendi a escrever e a pensar o mundo lendo livremente, sem nenhum mestre para além do próprio livro. A escola que temos serve para fabricar alunos-parafusos que sustentam toda a estrutura capitalista e consumista, não para formar consciências, cidadãos diferentes do que tivemos no passado e não serviu.”

No dia 8 de outubro, às 18h, a autora estará em Ponta Delgada, no âmbito do V Arquipélago de Escritores: “Foi um convite que muito agradeço. Sem estes convites é difícil chegar às pessoas, a não ser através da leitura das obras, que é o principal. No entanto, a leitura das obras gera um diálogo que tem poder para gerar mudança, avanço.” A conversa será dirigida por Renato Filipe Cardoso, no Hotel Marina Atlântico.

Para Isabela Figueiredo este tipo de encontros literários são importantes e necessários para o panorama cultural nacional, “só trazem benefícios para a cultura nacional se tiverem público que normalmente não contacta com estas iniciativas. É importante chegar aos lugares onde os livros não vão e não estão. Caso contrário não passa de dinheiro gasto para alimentar vaidades e curricula.” É ainda autora do conto “É Como Quem Diz”, de 1988, novela que recebeu o primeiro prémio da Mostra Portuguesa de Artes e Ideias, no mesmo ano. Escreve regularmente no blogue Novo Mundo. Desenvolve workshops de escrita criativa e participa em seminários e conferências sobre as suas principais áreas de interesse.


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