Açoriano Oriental
Arquipélago de Escritores faz ligação entre música e literatura

O Arquipélago de Escritores nasceu da vontade de Nuno Costa Santos de fazer dos Açores um lugar de encontro e de referência da literatura insular, continental e internacional. Este ano decorre de 7 a 9 de outubro, em São Miguel, e de 13 a 16, na Terceira . O evento é organizado pela Alga Viva Produções com apoio do Governo dos Açores, da FLAD e da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo.


Arquipélago de Escritores faz ligação entre música e literatura

Autor: Eduarda Mendes/ Arquipélago de Escritores

Está de regresso mais uma edição do Arquipélago de Escritores, o que tem movido a organização deste evento ao longo destes 5 anos?

Antes de mais, a valorização da escrita nos Açores. E quem diz a escrita diz a leitura, claro. Os Açores têm uma importante tradição literária, com nomes de grande qualidade, alguns deles pouco conhecidos, que merecem ser valorizados e celebrados.
Pela nossa posição no mapa, somos também um lugar privilegiado para receber vozes várias e diversos imaginários.
Ao fim de cinco anos temos consagrado o objetivo inicial: celebrar, de diferentes maneiras, de conversas e filmes a revistas e homenagens, a literatura nos Açores. A nossa, a de outros sítios. E quando digo Açores digo as nove ilhas e os territórios da emigração. É preciso merecer o qualificativo de açoriano.


Em todas as edições tem havido uma espécie de tema/mote, este ano qual é o principal foco do Arquipélago?

Este ano trouxemos uma componente musical importante. Porque escrever letras é uma forma de escrita, muita dela com componente literária. E porque os livros evocam bandas sonoras e as bandas sonoras evocam livros.


Quais são os principais destaques da programação?

A ligação entre a literatura e a música manifestada, entre outros modos, através de concertos únicos e uma feira do disco. Mas há mais. Chegam-me vários exemplos.
Uma excelente peça dos Cães do Mar construída a partir do livro “Amores da Cadela Pura”, de Margarida Victória, Marquesa de Jácome Correia.
Uma sessão com Richard Zenith, autor de “Pessoa: Uma Biografia”, que virá fazer uma residência literária para saber mais da passagem do autor pela ilha Terceira. Conversas diferentes. Alguns exemplos.
A que irá acontecer com Isabela Figueiredo, autora que no livro “Caderno de Memórias Coloniais” trata, com um olhar seu, das relações de violência entre colonos e colonizados, desfazendo o mito português dos brandos costumes.
A conversa com José Carlos Barros, que conhecíamos como poeta e passámos a conhecer como romancista. Um romancista – soubemo-lo depois – premiado (recebeu o Prémio Leya em 2021).
A conversa com Nuno Artur Silva, uma das figuras que marcam o audiovisual português nas últimas décadas, como autor, director criativo de vários programas e fundador das Produções Fictícias. E a que se irá realizar com André Tecedeiro, Maria Brandão e David Soares sobre a importância do lugar na literatura.
Desde a primeira edição que temos vindo a celebrar os autores açorianos que o merecem.
Vasco Pereira da Costa é, claramente, um deles.
E agora há um pretexto. Cumpre 50 anos de vida literária e publicou um novo livro de poemas, “Os Nós do Tempo”.


Há sempre a preocupação de trazer nomes sonantes do panorama nacional e internacional, mas também de manter bem presente a literatura e os escritores açorianos?

É nesse equilíbrio que nos temos situado desde o início. O chão literário açoriano é fundamental. Se não formos nós a cuidar dele ninguém o irá fazer por nós.


O Arquipélago tem sido uma mostra de vários conteúdos, muito chegam pela primeira vez à região através deste evento. A adesão do público tem feito jus a este projeto?

Já tivemos períodos de grande adesão, com salas cheias e muito entusiasmo. Já tivemos períodos de menor adesão sobretudo porque o vírus e o medo do vírus determinaram, como sabemos, comportamentos restritivos.
Depois da tese e da antítese vem, como diz o filósofo, a síntese.


O Arquipélago de Escritores aproxima-se da sua 5ª edição, quais têm sido as maiores dificuldades de organizar um evento desta dimensão nos Açores?

A dificuldade começa por ser orçamental. E, por consequência, pelo facto de sermos muito poucos a querer fazer muito - muito para a dimensão.
Mas não me quero ficar pelo orçamento e pelo investimento. É um problema que temos de resolver e que vamos resolver.
Também nos preocupa a questão de fazer crescer os públicos.
Este ano abrimos um trilho novo com eventos como uma conversa sobre a recente vaga de fanzines e um desafio escolar baseado num fenómeno que tenho acompanhado: o tik-tok literário.
Há cada vez mais adolescentes a chegar a novos livros por causa das recomendações feitas nessa plataforma.


Como gostaria de ver o Arquipélago de Escritores daqui a 10 anos?

Gostaria que, daqui a dez anos, houvesse eventos do Arquipélago de Escritores em todas as ilhas.
Temos de crescer como capacidade e como equipa, num equilíbrio entre o investimento público e o risco privado.
Sou pelo “a pouco e pouco”. O que vejo é que, a pouco e pouco, os autores, sobretudo os açorianos, estão a ser mais valorizados cá. Com o esforço de muitos agentes. De professores, críticos e organizadores de iniciativas culturais a editores e livreiros. Veja-se o que tem acontecido este ano com Pedro da Silveira.
A nossa maior virtude, em particular, revela-se pela boa inquietude que o Arquipélago de Escritores gera umas semanas antes do começo.
Há muita gente a querer conhecer a programação.
Se isso acontece é porque o nosso impacto é evidente.


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