Autor: Ana Carvalho Melo
Nascido em Ponta Delgada, Martim Cymbron tem raízes nos Açores, embora a sua herança seja enriquecida pela nacionalidade holandesa da mãe.
A sua infância foi marcada por frequentes visitas à Holanda, onde passava férias, mas foi em São Miguel que viveu a adolescência e desenvolveu as bases da sua futura carreira artística.
Desde jovem, demonstrou talento para o desenho, destacando-se como aluno nas artes visuais.
“Na infância, estava longe de imaginar que a minha profissão seria ligada à arte, ainda que sempre tenha tido muito jeito e gosto para o desenho e fosse um excelente aluno em Educação Visual. Mas comecei bastante tarde, e o meu primeiro quadro assinado surgiu quando já tinha 22 anos”, relata.
A sua jornada artística começou como um hobby em 1995, mas a evolução não foi linear. Após alguns anos de prática autodidata, Martim Cymbron decidiu aperfeiçoar as suas habilidades na Academia das Artes em Maastricht.
“Eu não tinha objetivos profissionais, andava meio à deriva sem saber o que fazer, quando decidi entrar na Academia das Artes em Maastricht. Mas foi uma deceção. Nos dois anos que lá estive, não toquei num pincel. Aprendi muita coisa sobre fotografia, escultura, mas o que eu realmente queria era pintar, o que não aconteceu”, recorda.
Determinado, saiu desta escola e encontrou um ateliê particular de um pintor especializado em técnica realista, onde finalmente conseguiu desenvolver significativamente as suas habilidades.
Em 2003, Martim Cymbron regressou a São Miguel, onde inicialmente trabalhou como guia turístico na empresa da mãe. Em 2004, decidiu abrir um ateliê de pintura num apartamento isolado, começando com apenas três alunos. A oportunidade de lecionar na loja Hortênsia, no Largo 2 de Março em Ponta Delgada, aumentou a visibilidade do seu trabalho, permitindo-lhe expandir o número de alunos e estabelecer-se e abrir o Atelier Ponto de Arte.
Ao longo dos anos, Martim Cymbron tem sido um mentor para muitos artistas emergentes nos Açores. Ex-alunos seus, como Margarida Andrade e Beatriz Brum, iniciaram as suas trajetórias no seu ateliê.
Martim Cymbron sente grande orgulho ao ver os seus alunos prosperarem, sabendo que contribuiu para a formação de novos talentos.
“A minha atividade artística divide-se entre o lecionar e o pintar. No ateliê, tenho alunos adultos e crianças. Os adultos estão cá por hobby e a maioria apenas pinta aqui. E depois tenho crianças a partir dos 10 anos, a quem tento sempre incentivar para o estilo que mais lhes agrada, sem condicionar o seu gosto”, revela.
Já nas férias, o Atelier Ponta de Arte promove, desde 2010, workshops especialmente direcionados para crianças, os quais proporcionam uma ocupação pedagógica e lúdica durante as pausas letivas.
Além do ensino, Martim Cymbron mantém uma produção artística contínua, com uma evolução notável ao longo do tempo.
“Pinto praticamente todos os dias, o que é uma grande satisfação”, realça, lembrando que, apesar de ter começado por pintar obras surrealistas, a sua formação como pintor realista tem contribuído para o sucesso das suas obras, como foi o caso das obras dedicadas às marinas do arquipélago.
Um dos projetos mais atuais de Martim Cymbron é o “Saudade”, idealizado em colaboração com Terry Costa. Este projeto específico homenageia a flor saudade, levando uma exposição itinerante pelas nove ilhas dos Açores. O projeto começou em 2018 no Pico e foi concluído em Ponta Delgada em 2024, podendo atualmente ser visitado no Centro Municipal de Cultura de Ponta Delgada até 12 de setembro, de segunda a sexta-feira das 9h00 às 19h00, e sábado das 14h00 às 17h00.
“O objetivo deste projeto foi enaltecer a flor saudade de uma forma macro, porque ela tem cinco centímetros. Tive a sorte de a encontrar em floração, o que mais me encantou, e de variadas cores. E este projeto destaca-se por ser uma exposição itinerante que passou pelas nove ilhas dos Açores”, explica.
Em paralelo a estas atividades, Martim Cymbron também tem contribuído, juntamente com outros artistas, para a comunidade, colaborando por exemplo com a Associação Sénior de São Miguel, num projeto que visa dinamizar espaços de cuidados continuados, demonstrando um forte compromisso social. Outro exemplo da sua ação é o projeto Arte Viva, que promove eventos de arte ao vivo nas mais diversas situações, reunindo artistas que mostram ‘in loco’ a sua forma de trabalhar e as suas obras.
Aos 51 anos, Martim Cymbron considera que o balanço da sua carreira é positivo.
“Eu fui criando a minha carreira lentamente e com ponderação. Sou tímido, mas sei o que faço e os meus limites. Já expus em Nova Iorque, no Mónaco e, neste momento, estou a ser representado por uma galeria em Miami”, afirmou, lembrando que tem obras representadas em instituições como a Presidência da República, o Parlamento Europeu ou o Principado do Mónaco.
Mesmo assim, Martim Cymbron não deixa de referir que enfrenta os desafios da insularidade, que limitam a internacionalização da sua carreira. No entanto, ele continua a trabalhar com determinação, tanto no ensino, quanto na produção artística, contribuindo para a riqueza cultural dos Açores.
A concluir a conversa, Martim Cymbron considera que a sua dedicação à arte e à educação poderá permitir criar um legado duradouro, inspirando uma nova geração de artistas e enriquecendo a comunidade com a sua paixão e talento.