Autor: Lusa/AO Online
"Santa Maria foi a escolha óbvia porque a temática do colóquio deste ano incide também sobre os primórdios da aviação e, como se poderá verificar também ao longo do documentário da RTP que será transmitido durante o encontro, foi o aeroporto e a aviação que colocaram uma pequena ilha, Santa Maria, no mapa do mundo", assinala à Lusa Ana Paula Pires, da organização.
Segundo Ana Paula Pires, o encontro procura "desmistificar o conceito de periferia mostrando a centralidade das ilhas açorianas e a sua abertura à inovação e ao mundo".
Esta é a terceira edição do congresso organizado pelo Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. As anteriores também foram realizadas nos Açores, na Horta, ilha do Faial, e em Ponta Delgada, São Miguel.
A terceira edição, que vai decorrer no Museu de Santa Maria, polo de Vila do Porto, tem como um dos temas principais a aeronáutica nos Açores e analisa a "relevância" que o arquipélago adquiriu "enquanto elemento aglutinador da civilização ocidental" entre 1910 e 1974.
"Seja através da aeronáutica, de que a base das Lajes é talvez o exemplo mais conhecido, ou de uma rede mundial de cabos submarinos em que os Açores tinham um papel central, o arquipélago era um nó estratégico das comunicações telegráficas entre a Europa e a América do Norte", afirma Ana Paula Pires, apontando que "as laranjas dos Açores eram consumidas na Rússia durante a primeira metade do século XIX e que o ananás dos Açores era exportado para o mundo inteiro".
Durante as décadas de 20 e 30 do século passado, apesar de "bastante afetados" economicamente pela I Grande Guerra, os Açores destacaram-se nas áreas das "telecomunicações" e da "navegação área".
"Ao longo dos anos 20 e 30 nos Açores foram emergindo, no entanto, algumas áreas estratégicas como as telecomunicações, com uma importância fundamental num território descontínuo como é o arquipélago. Dada a sua posição estratégica no oceano Atlântico, entre a Europa e a América do Norte, os Açores assumiram também um papel fundamental no início da navegação aérea transatlântica", avança.
Durante a II Guerra Mundial, apesar da neutralidade portuguesa, os Açores tiveram uma posição de "destaque", defende a investigadora.
"Na primavera de 1941, quando se temia um avanço das tropas alemães na Península Ibérica, Oliveira Salazar chegou mesmo a ponderar a retirada do Governo português para os Açores e Churchill [à data primeiro-ministro britânico] considerou então ser necessário avançar com a instalação de bases aéreas no arquipélago", destaca Ana Paula Pires, afirmando que "em 1944 foi assinado entre os governos português e norte-americano um acordo para a construção de um aeródromo em Santa Maria".
O congresso decorre ao longo de todo o dia, é aberto ao público e contará com cinco conferências, a apresentação de livros e a inauguração de uma exposição.