Autor: Lusa/AO Online
O país ‘produziu’ três Bolas de Ouro, em Eusébio, Figo e Cristiano Ronaldo, mais uma série incontável de craques, de Peyroteo a Bernardo Silva, passando por Chalana, Futre, Rui Costa ou João Vieira Pinto, mas as ‘estrelas’ nunca se ‘alinharam’.
Na competição que fez de Pelé e Maradona lendas eternas, Portugal só brilhou a espaços, nunca cumprindo o seu ‘destino’, antes pela falta de competência fora das quatro linhas, ao nível organizativo, e agora mais pela incapacidade dentro delas, de jogadores e treinadores.
‘Omnipresente’ em grandes competições no século XXI, Portugal conquistou um Europeu, em 2016, que não mereceu, de todo, nessa edição, mas faz justiça a todo o seu percurso na história da prova, mas, em Mundiais, nem uma final, que 10 seleções europeias já alcançaram, metade das quais para vencerem o troféu.
A seleção das ‘quinas’ até teve uma estreia brilhante, em 1966, graças sobretudo ao ‘rei’ Eusébio, que conduziu a equipa ao terceiro lugar, mas, depois disso, só se destacou mais uma vez, 40 anos depois, em 2006, ao voltar às ‘meias’, para acabar quarto, liderado por Figo, o sobrevivente da ‘geração de ouro’, os campeões mundiais de juniores de 1989 e 1991.
Pelo meio, Portugal corou de vergonha com as participações de 1986 e 2002, a segunda e a terceira, pautadas por confusões internas, fora do campo, e casos graves de indisciplina, a penalizaram fortemente duas gerações de enormes talentos, que caíram logo na fase de grupos.
De resto, e apesar de estar agora sempre presente – cumpre em 2022 a sexta consecutiva, depois de apenas duas nas primeiras 16 edições -, a seleção lusa, que não falha uma fase final desde o Mundial de 1998, tem deixado sempre a desejar.
Nas três últimas participações, Portugal até teve ao ‘leme’ Cristiano Ronaldo, a segunda maior figura da última década e meia do futebol, a ‘sombra’ de Lionel Messi, mas o ‘7’ nunca conseguiu ser o ‘13’ de 1966 e o resultado foram duas quedas nos ‘oitavos’, intermediadas por uma eliminação na fase de grupos.
Em termos globais, a seleção lusa conta um terceiro lugar, um quarto, duas eliminações nos oitavos de final e três quedas na fase de grupos, para um total de 14 vitórias, seis empates e 10 derrotas, com 49 golos marcados e 35 sofridos.
Em termos individuais, o nome de Portugal nos Mundiais ‘confunde-se’ com o do ‘rei’ Eusébio, o único que, até agora, conseguiu entrar na ‘lenda’ da prova: só precisou de uma fase final, que acabou como melhor marcador.
Com o ‘13’ nas costas, o ‘Pantera Negra’ apontou um golo à Bulgária e dois ao Brasil, de Pelé, na fase de grupos, quatro à Coreia do Norte, para virar o jogo de 0-3 para 4-3, nos ‘quartos’, um à Inglaterra, nas meias-finais, e um à União Soviética, no jogo que valeu aos ‘Magriços’ o último lugar do pódio. Um ‘rei’.
Em Inglaterra, na primeira presença em Mundiais, o ‘onze’ de Manuel da Luz Afonso começou imparável, ao bater sucessivamente Hungria (3-1), Bulgária (3-0) e o bicampeão Mundial em título Brasil (3-1), o que lhe valeu a vitória no Grupo 3.
Nos quartos de final, o ‘sonho’ parecia terminado ao fim de 25 minutos, com a Coreia do Norte a vencer por 3-0, mas Eusébio tinha outras ideias e respondeu com quatro golos, dois de penálti, antes de José Augusto rematar a incrível reviravolta (5-3).
Depois, e num jogo que os ingleses trocaram, à última hora, de Liverpool para Wembley, Eusébio voltou a marcar, mas um ‘bis’ de Bobby Charlton deixou o ‘rei’ em lágrimas. Ainda recuperou o ânimo e contribuiu com novo tento para o 2-1 à União Soviética, no jogo de ‘consolação’, decidido por José Torres.
Após estreia tão prometedora, Portugal só voltou ao Mundial 20 anos depois, e o melhor teria sido ficar em casa, algo que também se aplica à terceira participação.
Em 1986, Carlos Manuel logrou o ‘milagre’ da qualificação em Estugarda (1-0) e abriu a fase final com novo golo marcante (1-0 à Inglaterra), mas tudo o resto foi muito triste, traduzindo-se no ‘caso Saltillo’, um insanável confronto entre jogadores e FPF devido a divergências com os prémios de jogo.
Desportivamente, o ‘onze’ de José Torres, também azarado devido à lesão sofrida pelo guarda-redes Bento, perdeu, depois, com a Polónia (0-1) e foi humilhado por Marrocos (1-3), acabando no quarto posto do Grupo F, que qualificou os três primeiros.
Em 2002, e após uma sensacional fase de qualificação, em que eliminou os Países Baixos, a seleção lusa, com Figo, então o melhor do Mundo, limitado fisicamente, começou de forma desastrosa (2-3 com os Estados Unidos) e pagou caro o facilitismo.
O ‘onze’ de António Oliveira, com a base da ‘geração de ouro’, ainda goleou a Polónia (4-0, com três de Pauleta), mas caiu parente a anfitriã Coreia do Sul (0-1), num jogo em que Beto e João Vieira Pinto acabaram expulsos. E o avançado ainda ‘atacou’ o árbitro, sofrendo uma pesada sanção.
Foi, assim, preciso esperar até 2006 para ver Portugal voltar a ‘brilhar’ num Mundial: na Alemanha, a equipa do brasileiro Luiz Felipe Scolari não teve tanto encanto, mas foi capaz de vencer duas batalhas épicas, para a história.
A fase inicial foi um ‘passeio’, com as primeiras duas vitórias, sobre Angola (1-0) e Irão (2-0), a garantirem desde logo um prematuro apuramento para os ‘oitavos’ e uma terceira, com poupanças, face ao México (2-1), a selar o triunfo no Grupo D.
O Mundial começou, verdadeiramente, na ‘batalha de Nuremberga’, um jogo com 16 cartões amarelos e quatro vermelhos, com os Países Baixos, que Maniche resolveu (1-0), com Portugal muito tempo em inferioridade numérica (10 contra 11 e nove contra 10) e quase sempre sem bola (38 por cento, contra 62).
As grandes emoções prosseguiram nos ‘quartos’, com Portugal a desperdiçar quase uma hora em vantagem numérica (expulsão de Wayne Rooney), mas a acabar por vencer a Inglaterra na ‘lotaria’, com Ricardo (três defesas) como ‘herói’, a exemplo do Euro2004, e Cristiano Ronaldo a selar o apuramento.
A equipa lusa estava entre os quatro melhores do Mundo - todas europeias -, mas caiu nas ‘meias’, perante a França, como nos Europeus de 1984 e 2000, vergado a uma grande penalidade de Zinedine Zidane (0-1) e, já sem ‘alma’, deixou o ‘bronze’ para uns anfitriões bem mais fortes (1-3).
Quatro anos depois, na África do Sul, o ‘onze’ de Carlos Queiroz só sofreu um golo, mas também só conseguiu marcar à Coreia do Norte, brindada com uma goleada histórica (7-0), tendo somado ‘nulos’ com Costa do Marfim e Brasil, no Grupo G.
Apurado no segundo posto, atrás dos ‘canarinhos’, Portugal teve pela frente a Espanha e foi eliminado com um desaire por 1-0, por um tento de David Villa. Os espanhóis viriam a conquistar o seu primeiro título.
Quatro anos depois, em 2014, no Brasil, Portugal fez bem pior, pois, como em 1986 e 2002, não conseguiu, sequer, ultrapassar a fase de grupos, numa participação que começou a ficar comprometida logo a abrir, com um pesado 0-4 com a Alemanha.
No jogo seguinte, Portugal esteve quase a ficar pelo caminho, num duelo com os Estados Unidos que acabou por empatar (2-2) sobre o final, com um tento de Silvestre Varela. Ficou, porém, a ser preciso golear o Gana, o que esteve longe de acontecer (2-1).
Em 2018, na Rússia, Cristiano Ronaldo, no seu quarto mundial, começou em ‘grande’, com um ‘hat-trick’ à Espanha (3-3), incluindo um livre direto aos 88 minutos, e, depois, com novo golo face a Marrocos (1-0), mas, entretanto, ‘desapareceu’.
Portugal fechou o Grupo B no segundo lugar, ao deixar-se empatar nos descontos pelo Irão (1-1), e, no primeiro encontro a eliminar, caiu por 2-1 perante o Uruguai, vencedor graças a um ‘bis’ de Edinson Cavani.