Açoriano Oriental
História dos navios de passageiros nos Açores em livro

André Velho Cabral prepara um livro sobre os navios de passageiros e de de cruzeiro que fizeram escala nos Açores, desde 1900 até à atualidade. As curiosidades são muitas. A publicação está prevista para 2025

História dos navios de passageiros nos Açores em livro

Autor: Rui Jorge Cabral

Os Açores nas rotas internacionais de navios de passageiros e de cruzeiro.

Este é o tema de um livro que André Velho Cabral está a preparar e que faz uma recolha, ano a ano, de todos os navios que escalaram os Açores desde 1900 até à atualidade, dos grandes navios de passageiros, que transportavam sobretudo emigrantes, até aos espetaculares navios de cruzeiro, que hoje trazem turistas ao arquipélago.

Conforme revela o autor ao Açoriano Oriental, “estimo que em 2025 o livro esteja publicado”.

André Velho Cabral é o gestor para a área dos cruzeiros da Portos dos Açores, mas é também formado em História e é, desde criança, um apaixonado pelos navios de passageiros e de cruzeiro, pelo que é no cruzamento destas áreas de interesse que surge este livro.
“Este projeto nasce da relação entre o trabalho que, desde 2010, desenvolvo na Portos dos Açores, na lógica de promover o turismo de cruzeiros na Região, com o facto de, desde criança, ter tido sempre uma particular ligação a estes navios, por razões familiares e ainda com a minha formação em História, que me dá um gosto especial em conjugar estas três situações”, explica.

De 2010 para cá, André Velho Cabral não teve dificuldades em reunir todos os elementos necessários para o livro, uma vez que “desde essa altura, todo o movimento de navios de cruzeiro na Região tem passado por mim”.

Não foi assim difícil reunir fotografias e dados relativos aos navios, às suas rotas e ao número de passageiros aquando das suas escalas nos Açores.

Pelo contrário, quanto mais André Velho Cabral mergulhou por todo o século XX, até 1900, mais difícil se foi tornando a recolha de informações e, sobretudo, o acesso a imagens dos navios.

Curiosamente e ao contrário do que se possa pensar, não foi na primeira metade do século XX que foi mais difícil encontrar informação sobre as escalas de navios nos Açores, mas sobretudo nas décadas de 1970 e 1980, precisamente na altura em que o transporte transatlântico de passageiros desaparece, para dar aos poucos lugar às viagens turísticas de cruzeiro.

Em termos de movimento de navios, foi na década de 1950 e 1960 que se registou o maior número de escalas nos Açores, na altura do ‘pico’ da emigração açoriana para a América do Norte.

Das várias curiosidades que foi descobrindo ao longo da sua investigação, André Velho Cabral destaca as muitas passagens pelos Açores dos célebres navios ‘gémeos’ italianos ‘Saturnia’ e ‘Vulcania’, da Cosulich Line, durante as suas viagens transatlânticas, tendo havido mesmo algumas poucas ocasiões em que “os dois navios fundearam ao mesmo tempo em Ponta Delgada, gerando um movimento impressionante na cidade”.

Para André Velho Cabral, “estes navios passaram aqui tantas vezes, que faziam parte do imaginário das nossas gentes e do sonho da emigração” durante o período entre a primeira e a segunda Guerra Mundial.

Por outro lado e já na década de 1980, André Velho Cabral salienta um número elevado de navios da antiga União Soviética que passaram pelos Açores em viagens ‘diplomáticas’ para Cuba e em que, durante as escalas, “não era permitido ir a bordo, a guarda fiscal impunha várias restrições e como as pessoas não saíam dos navios, geravam-se dúvidas na opinião pública, com reflexo nos jornais, com artigos que envolviam jovens estudantes que, supostamente, eram espiões e diplomatas”, explica.

Outra curiosidade ainda é o registo da passagem pelos Açores dos célebres ‘navios da fruta’ holandeses, que carregavam ananases nos Açores, ao mesmo tempo que transportavam passageiros entre a Holanda e as Antilhas Holandesas, nas Caraíbas.

“Portanto, os Açores sempre estiveram nas rotas de passageiros e esta obra procura registar todo este movimento”, explica André Velho Cabral.

Contudo e até hoje, nenhum destes navios clássicos conseguiu competir em número de passageiros com os modernos navios de cruzeiro, sendo o recorde de passageiros nos Açores pertencente ao navio ‘Quantum of the Seas’, com 3958 passageiros a bordo, mais cerca de 1600 tripulantes, durante uma escala realizada em 2015.

Mas a investigação começa a 13 de janeiro de 1900, com o registo da primeira escala do Século XX nos Açores, realizada pelo navio ‘Spartan Prince’, o primeiro da listagem.

Para André Velho Cabral, este livro procura ser “simultaneamente uma análise histórica e uma base de trabalho para o futuro”.

A grande transformação do transporte marítimo transatlântico, conclui André Velho Cabral, dá-se a partir da primeira crise petrolífera - há cerca de 50 anos - que teve um papel importante no fim do transporte marítimo de passageiros, com o transporte por avião a passar a ser a tornar-se hegemónico, desde essa altura e até aos nossos dias. Os grandes navios passaram assim a concentrar-se no turismo de cruzeiro.

Até à década de 1970, os Açores registavam dezenas de escalas de navios nas suas rotas transatlânticas e, depois da crise petrolífera e a partir da década de 1980, dá-se uma forte redução, só invertida já no século XXI e, sobretudo, nos últimos 15 anos, com a inauguração do terminal de cruzeiros das Portas do Mar, em Ponta Delgada, que permitiu uma aposta forte no turismo de cruzeiros na Região, onde já se atingiram 200 escalas anuais.

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