Autor: Ana Carvalho Melo
A Fundação Ocean Azores defende uma gestão sustentável da observação de cetáceos no arquipélago, lembrando que só desta forma esta atividade continuará a ser realizada no futuro.
“Não nos podemos esquecer que se não protegermos os cetáceos, não haverá whale watching no futuro. Por isso, é importante que tenhamos um whale watching sustentável e que seja gerido de modo a que continue sustentável para as gerações futuras”, afirma ao Açoriano Oriental o presidente da Fundação Ocean Azores, o britânico Ali Bullock, que escolheu os Açores para viver.
Criada em 2021, a Fundação Ocean Azores tem por missão contribuir para a proteção dos cetáceos no arquipélago, num propósito em que a participação dos açorianos é considerada crucial para pressionar os decisores a darem prioridade à sustentabilidade do oceano.
“Eu sou a favor de um whale watching sustentável e os Açores são dos melhores locais do mundo para a observação de cetáceos e já existe regulamentação sobre a forma de o fazer. No entanto, queremos colocar alguma pressão nas empresas de whale watching e no Governo, porque se pode sempre fazer mais e melhor para proteger os cetáceos”, destaca.
O primeiro objetivo da Fundação foi a certificação da Região como Sítio de Património das Baleias. “Em 2019, ao fazer pesquisa sobre sustentabilidade, verifiquei que os Açores não eram um Whale Heritage Site (Sítio de Património das Baleias), certificado pela World Cetacean Alliance (Aliança Mundial dos Cetáceos, em português), o que para mim não fazia sentido. Contactei a World Cetacean Alliance e soube que tinha havido um contacto inicial em 2015 que falhou. Então, em 2020, recomecei o processo, decidido a financiar este processo”, conta Ali Bullock.
Assim, após contactos com empresas de observação de cetáceos, investigadores e entidades governamentais, Ali Bullock reuniu um grupo de apaixonados pelo mar e pela vida marinha, como o investigador José Manuel Azevedo ou o empresário Miguel Cravinho, que criou a Fundação Ocean Azores e levou a cabo a certificação da Região como Sítio de Património das Baleias.
Além disso, foi criada a Ocean Azores Media House, uma plataforma multimédia que tem por objetivo fornecer conteúdo de alta qualidade para meios jornalísticos, destacando histórias inspiradoras sobre o oceano e suas criaturas.
Agora, o grande plano para 2030 da Fundação Ocean Azores passa por apoiar projetos de monitorização de baleias, de consciencialização dos turistas sobre os comportamentos a ter no mar, assim como estudar o impacto de nadar com golfinhos. “Queremos financiar a pesquisa de modo a descobrir os caminhos a seguir na observação sustentável de cetáceos”, explica.
Relativamente aos fundos da Fundação, Ali destaca o financiamento surge por meio de verbas privadas, como receitas do eco hotel Solar Branco, do gin Baleia, ou de doações. Ele recorda mesmo a sua experiência de trabalhar com a WWF - World Wildlife Fund, realçando preferir estar separado de entidades governamentais, ainda que colaborando com estas.
Para além de Ali Bullock, integram ainda a direção desta Fundação Miguel Sousa Lima, Miguel Cravinho, Luís Nunes, Joana Damião Melo, Fábio Sousa, Robb Medeiros e Nuno Raposo.
Natural de Londres, Ali Bullock conta que descobriu os Açores em 2006, quando viajou para a ilha do Faial com a mulher Caroline. “Acho que foi durante a viagem aos Açores em 2006 que me apaixonei pelo mar”, conta, explicando que a história de como a Região evoluiu da caça da baleia para a observação de cetáceos o fascinou. No entanto, só anos mais tarde, quando ocorreu o Brexit, é que este casal, que entretanto estava a viver em Hong Kong, decidiu escolher São Miguel como casa.
Uma decisão que os levou a investir em negócios na Região, mas também a contribuir para a preservação da história e do património ligado à baleação e à observação de cetáceos, fomentando a mobilização de outras pessoas para esta causa e, desta forma, para mudanças sociais e ambientais duradouras, com foco na proteção do oceano que rodeia o arquipélago dos Açores.