Açoriano Oriental
Ensino Profissional precisa de melhorar perceção social e oferta

Estudo de diagnóstico identifica três prioridades: melhorar a perceção social do Ensino Profissional, inovar no currículo e aumentar a colaboração entre entidades. Prioridades a que Agenda para a Qualificação Profissional quer dar resposta

Ensino Profissional precisa de melhorar perceção social e oferta

Autor: Paula Gouveia

Melhorar a perceção social do ensino profissional na Região,  elevar os níveis de qualidade da oferta e infraestruturas, e melhorar os níveis de colaboração entre entidades são as três reformas prioritárias a fazer no sistema de Ensino e Formação Profissional da Região.

As prioridades foram identificadas no trabalho de diagnóstico participativo realizado pela equipa do ISCTE, liderada por Francisco Simões, no âmbito do Fórum Regional da Qualificação Profissional, e que está refletido no artigo científico publicado agora na revista científica internacional European Educational Research Journal (Designing vocational training policies in an outermost European region: Highlights from a participatory process).

O investigador e docente do ISCTE Francisco Simões explica que  foi com base neste estudo que se delineou a Agenda Regional para a Qualificação Profissional 2030. “Foi um estudo participado que envolveu formandos, formadores, empresários, direções de escolas,  decisores - nós ouvimos todos os atores das diferentes ilhas que têm ensino profissional”,  salienta. E que permitiu perceber que “havia três grandes prioridades para o ensino profissional dos Açores: Por um lado, melhorar os níveis de colaboração entre os membros do sistema, para que seja mais coeso e mais eficiente. Depois melhorar a imagem social do ensino profissional na Região. E finalmente elevar os níveis de qualidade do ensino profissional”.

No que se refere à imagem do Ensino e Formação Profissional, o problema decorre do facto de continuar “a ser visto como uma alternativa ao ensino regular, como se este fosse a norma, quando neste momento, em vários países o ensino profissional representa 50% ou mais (há países onde chega aos 60%) dos alunos matriculados no equivalente ao ensino secundário”. Há ainda um outro aspeto que não ajuda: “as escolas têm tido dificuldade e pouco apoio na comunicação do seu trabalho”, afirma o investigador, considerando contudo que a situação tem vindo a mudar “paulatinamente a partir da reflexão feita no Fórum”.

Outra razão para esta fragilidade “é a falta de conhecimento das profissões por parte dos jovens, porque na verdade muitas das alternativas que são oferecidas pelo ensino profissional e que podem até ser  prosseguidas no ensino superior não são devidamente conhecidas pelos processos de orientação na Região; e processos de orientação mais precoces também permitiriam um contacto mais direto e mais cedo dos jovens com as áreas profissionais”, sustenta Francisco Simões.

Já quanto à qualidade do ensino profissional, a sua melhoria “passa não só pelas infraestruturas e equipamentos, mas sobretudo por novas propostas curriculares, e por evitar redundâncias (às vezes existem ofertas paralelas, por vezes no mesmo concelho), havendo necessidade de melhorar a articulação com a oferta formativa da rede pública (nomeadamente do PROFIJ) com a rede privada, e a necessidade de novos modelos de formação, porque a verdade é que continuamos a ter uma formação muito clássica na Região”, repara o investigador.

Como salienta o coordenador científico da Agenda Regional para a Qualificação Profissional, “há pouca formação para reconversão, ou formações rápidas para quem terminou o secundário e que em poucos meses permitam o acesso a determinadas áreas profissionais”. E, além disso, “é fundamental avançar com formações de nível 5, cursos de natureza profissional que são dados ao nível do Ensino Superior”, defende, realçando que a oferta atual destes cursos “é muito, muito limitada, e pode favorecer uma maior integração dos jovens neste tipo de ensino”.

Segundo Francisco Simões, o financiamento europeu surge como “o grande constrangimento”, por  ter “regras muito restritas”, mas o consultor diz que estas estiveram em revisão recentemente.

Quanto à implementação da Agenda para a Qualificação Profissional, depois da apresentação, no início do ano passado, em todas as ilhas, dos resultados do estudo, “começaram a ser apresentadas algumas medidas [da Agenda] - sobretudo a partir de final do ano passado”.

Francisco Simões elege “as duas medidas mais emblemáticas” previstas na Agenda para a Qualificação Profissional: “Temos em funcionamento uma rede colaborativa para definir planos de inclusão para ‘jovens nem, nem’ e desempregados de longa duração através da formação”; e está em desenvolvimento uma candidatura (a apresentar em junho) para o Centro Vocacional de Excelência  que vai permitir criar uma estrutura internacional  com quatro países e liderada pelos Açores, para elaborar novos modelos curriculares que respondam às dificuldades encontradas”.

Segundo o coordenador científico, tem havido ainda “o reforço da divulgação da formação profissional - ações de rua, outdoors”; uma aposta no campeonato das profissões; estando prevista a realização em maio de uma conferência.
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