Melhorar a perceção social do ensino profissional na Região, elevar os
níveis de qualidade da oferta e infraestruturas, e melhorar os níveis de
colaboração entre entidades são as três reformas prioritárias a fazer
no sistema de Ensino e Formação Profissional da Região.
As
prioridades foram identificadas no trabalho de diagnóstico participativo
realizado pela equipa do ISCTE, liderada por Francisco Simões, no
âmbito do Fórum Regional da Qualificação Profissional, e que está
refletido no artigo científico publicado agora na revista científica
internacional European Educational Research Journal (Designing
vocational training policies in an outermost European region: Highlights
from a participatory process).
O investigador e docente do ISCTE
Francisco Simões explica que foi com base neste estudo que se delineou a
Agenda Regional para a Qualificação Profissional 2030. “Foi um estudo
participado que envolveu formandos, formadores, empresários, direções de
escolas, decisores - nós ouvimos todos os atores das diferentes ilhas
que têm ensino profissional”, salienta. E que permitiu perceber que
“havia três grandes prioridades para o ensino profissional dos Açores:
Por um lado, melhorar os níveis de colaboração entre os membros do
sistema, para que seja mais coeso e mais eficiente. Depois melhorar a
imagem social do ensino profissional na Região. E finalmente elevar os
níveis de qualidade do ensino profissional”.
No que se refere à
imagem do Ensino e Formação Profissional, o problema decorre do facto de
continuar “a ser visto como uma alternativa ao ensino regular, como se
este fosse a norma, quando neste momento, em vários países o ensino
profissional representa 50% ou mais (há países onde chega aos 60%) dos
alunos matriculados no equivalente ao ensino secundário”. Há ainda um
outro aspeto que não ajuda: “as escolas têm tido dificuldade e pouco
apoio na comunicação do seu trabalho”, afirma o investigador,
considerando contudo que a situação tem vindo a mudar “paulatinamente a
partir da reflexão feita no Fórum”.
Outra razão para esta
fragilidade “é a falta de conhecimento das profissões por parte dos
jovens, porque na verdade muitas das alternativas que são oferecidas
pelo ensino profissional e que podem até ser prosseguidas no ensino
superior não são devidamente conhecidas pelos processos de orientação na
Região; e processos de orientação mais precoces também permitiriam um
contacto mais direto e mais cedo dos jovens com as áreas profissionais”,
sustenta Francisco Simões.
Já quanto à qualidade do ensino
profissional, a sua melhoria “passa não só pelas infraestruturas e
equipamentos, mas sobretudo por novas propostas curriculares, e por
evitar redundâncias (às vezes existem ofertas paralelas, por vezes no
mesmo concelho), havendo necessidade de melhorar a articulação com a
oferta formativa da rede pública (nomeadamente do PROFIJ) com a rede
privada, e a necessidade de novos modelos de formação, porque a verdade é
que continuamos a ter uma formação muito clássica na Região”, repara o
investigador.
Como salienta o coordenador científico da Agenda
Regional para a Qualificação Profissional, “há pouca formação para
reconversão, ou formações rápidas para quem terminou o secundário e que
em poucos meses permitam o acesso a determinadas áreas profissionais”.
E, além disso, “é fundamental avançar com formações de nível 5, cursos
de natureza profissional que são dados ao nível do Ensino Superior”,
defende, realçando que a oferta atual destes cursos “é muito, muito
limitada, e pode favorecer uma maior integração dos jovens neste tipo de
ensino”.
Segundo Francisco Simões, o financiamento europeu surge
como “o grande constrangimento”, por ter “regras muito restritas”, mas
o consultor diz que estas estiveram em revisão recentemente.
Quanto à
implementação da Agenda para a Qualificação Profissional, depois da
apresentação, no início do ano passado, em todas as ilhas, dos
resultados do estudo, “começaram a ser apresentadas algumas medidas [da
Agenda] - sobretudo a partir de final do ano passado”.
Francisco
Simões elege “as duas medidas mais emblemáticas” previstas na Agenda
para a Qualificação Profissional: “Temos em funcionamento uma rede
colaborativa para definir planos de inclusão para ‘jovens nem, nem’ e
desempregados de longa duração através da formação”; e está em
desenvolvimento uma candidatura (a apresentar em junho) para o Centro
Vocacional de Excelência que vai permitir criar uma estrutura
internacional com quatro países e liderada pelos Açores, para elaborar
novos modelos curriculares que respondam às dificuldades encontradas”.
Segundo
o coordenador científico, tem havido ainda “o reforço da divulgação da
formação profissional - ações de rua, outdoors”; uma aposta no
campeonato das profissões; estando prevista a realização em maio de uma
conferência.