Autor: Lusa /AO Online
Ao longo do ano, o presidente do CDS-PP foi alvo de duras críticas por parte de vários dirigentes e desafiado para eleições por Mesquita Nunes e Nuno Melo.
Depois de em janeiro ter celebrado a vitória de Marcelo Rebelo de Sousa nas eleições presidenciais, Francisco Rodrigues dos Santos foi desafiado por Mesquita Nunes para marcar eleições antecipadas.
Na altura, o ex-vice-presidente de Assunção Cristas afirmou que seria candidato à liderança do partido caso fosse marcado esse congresso eletivo extraordinário.
Mas essa reunião magna não chegou a acontecer. O líder apresentou ao conselho nacional uma moção de confiança que foi aprovada com 54% dos votos e Adolfo Mesquita Nunes retirou-se.
Ainda assim, a este desafio seguiu-se uma cisão na direção do CDS-PP. Depois de Filipe Lobo d’Ávila ter feito um acordo com Francisco Rodrigues dos Santos no último congresso e ter integrado a direção como vice-presidente, o dirigente demitiu-se do cargo e mais de uma dezena de outros, maioritariamente vogais da comissão política nacional e da comissão executiva (órgão mais restrito da direção), fizeram o mesmo.
Meses mais tarde, nas eleições autárquicas de setembro, CDS-PP e PSD assinaram um acordo-quadro e foram coligados em mais de uma centena de municípios. Os centristas perderam votos onde concorreram sozinhos, mas mantiveram as seis câmaras a que presidem e chegaram à liderança de mais municípios juntamente com o PSD, entre as quais capitais de distrito como Lisboa ou Coimbra.
Na sequência das autárquicas, a direção do CDS propôs a antecipação do congresso, que estatutariamente deveria realizar-se no final de janeiro, dois anos depois da última reunião magna.
O 29.º congresso esteve marcado para 27 e 28 de novembro e seria em Lamego. O atual presidente e o eurodeputado Nuno Melo anunciaram que iriam disputar a liderança nessa altura.
Porém, com o chumbo do Orçamento do Estado e marcação de eleições legislativas antecipadas, a direção propôs (e o conselho nacional aprovou) o seu cancelamento e o adiamento para depois das eleições legislativas, ainda sem data marcada, à revelia de Nuno Melo e dos seus apoiantes, que acusaram a direção de falta de democracia interna e uma “tentativa de golpe de estado institucional”.
O eurodeputado e líder da distrital de Braga do CDS-PP impugnou esta decisão junto do conselho nacional de jurisdição, mas a análise deste processo está suspensa na sequência de suspeitas sobre alegadas incompatibilidades por parte de três membros, segundo transmitiu à Lusa o presidente daquele órgão.
Francisco Rodrigues dos Santos viu também questionada a sua legitimidade para liderar o CDS nas legislativas, uma vez que o seu mandato terminaria em janeiro. No entanto, o líder centrista recusou as críticas sustentando que a sua legitimidade “não é contada por dias”.
O ano ficou também marcado por desfiliações de antigos dirigentes nacionais com críticas à atuação da direção do CDS-PP, como o antigo deputado Francisco Mendes da Silva, o antigo secretário-geral adjunto Luís Marreiros, e mais recentemente saíram também do CDS Adolfo Mesquita Nunes, o antigo ministro da Economia e presidente do conselho nacional António Pires de Lima, a antiga deputada Inês Teotónio Pereira e o ex-dirigente nacional centrista João Maria Condeixa.
Depois de vários momentos de tensão com o grupo parlamentar, o líder da bancada, Telmo Correia, mas também os deputados João Almeida (que disputou a liderança contra Rodrigues dos Santos no último congresso) e Cecília Meireles indicaram que não pretendem regressar ao parlamento na próxima legislatura.
E durante o ano, dois dos cinco deputados deixaram o parlamento. Em março, o líder da distrital de Lisboa, João Gonçalves Pereira, e em setembro Ana Rita Bessa.
As sondagens nacionais mais recentes colocam o CDS-PP na casa do 1%, 2% das intenções de voto, e apontam subidas da Iniciativa Liberal e do Chega (atualmente com um deputado cada).
Nas últimas legislativas, em 2019, o partido teve pouco de 4% e viu o seu grupo parlamentar diminuído para cinco deputados, o que levou à saída de Assunção Cristas.
O líder centrista defendeu recentemente que o cenário de coligação para as eleições de 30 de janeiro apresenta “algumas vantagens” e considerou que “obedece a um princípio de coerência” que o CDS-PP tem firmado com o PSD, indicando que, durante o seu mandato, a coligação na região autónoma dos Açores que “terminou com uma hegemonia de 22 anos” do PS e nas eleições autárquicas “duplicaram as câmaras” que os dois partidos governam em conjunto.