Açoriano Oriental
"Se fosse vivo o António estaria a viver no ano 3000 e a reinventar-se", diz ator Ricardo Oliveira

"As pessoas sabem muita coisa sobre o Variações e conhecem muito pouco sobre o António Joaquim Rodrigues Ribeiro", adiantou ao Açoriano Oriental Ricardo Oliveira, o ator que tem subido a palco na pele de Variações nos últimos anos. Um personagem que "nasceu nos bares, em espetáculos de Stand-up Comedy, e só depois surge a ideia de levá-lo para o teatro". A peça "Eu, Variações" com encenação de Rafael Ribeiro Rodrigues, sobe ao palco do Centro Cultural e de Congressos de Angra do Heroísmo este sábado, 15 de fevereiro, num espetáculo promovido pela Marcha Oficial das Sanjoaninas.


Autor: Tatiana Ourique / AO Online

Quando é que surge Variações enquanto desafio artístico e como foi a sua reacção a uma proposta tão desafiante e ao mesmo tempo tão meticuloso?

Eu comecei a minha carreira em 2004, a fazer figuração para televisão. Fiz diversas séries e novelas. Em 2009 comecei a fazer espectáculos de stand-up-comedy, e há um dia em que estou a fazer um espectáculo de comédia num restaurante e um amigo aconselhou-me a fazer uma peça sobre o António Variações. Até aquela altura, não tinha ideia alguma da importância do Variações nem da responsabilidade que ele viria a ter na minha carreira. Fui completamente inconsciente. A minha barba, mesmo antes de estar pintada, é um bocado mais loira. O meu “Variações” nasce nos bares e depois é que surge a ideia de o levar para o teatro, começou por ser um monólogo, depois com o Vítor de Sousa e agora com este elenco brilhante.


-Esta é uma cópia fiel a António Variações ou há uma parte criativa de Ricardo neste personagem?

Eu não quis imitar o António Variações, eu tento recriar a personagem que vive no meu imaginário ou como eu vejo o Variações. Claro que, quando o público elogia a minha performance, melhor ainda, sinto que o resultado está aos olhos do público. Mas a intenção aqui é homenagear o Variações com verdade. Eu e o encenador deste espectáculo o Rafael Ribeiro Rodrigues, conversámos muito nesse sentido, ficcionar, mas sempre com base na verdade e na realidade. E parece que resultou. Afinal estamos a falar de um ícone da música Portuguesa. É uma alegria enorme ver os meus colegas deste espectáculo a fazerem personagens tão bonitas e acima de tudo com tanta verdade. É um privilégio fazer parte deste espectáculo. Há duas pessoas importantes em todo este processo; A Manuela Gonzaga (biógrafa de António Variações) que trabalhou comigo e com o Pedro Martinho nos vários tratamentos de texto, e também ao Rafael Ribeiro Rodrigues que concebeu este espectáculo de forma magistral e tocante.


-Que percepção tinha sobre a ligação afetiva dos portugueses ao artista António Variações?

Eu sabia que os portugueses tinham muita estima e admiração pelo António Variações. Mas sabe, as pessoas dizem-nos muito “Não sabia isto ou aquilo sobre o Variações”, “Ah não fazia ideia que o António…isto e aquilo”. As pessoas sabem muita coisa sobre o Variações e conhecem muito pouco sobre o António Joaquim Rodrigues Ribeiro. Depois houve todo o empenho do elenco que foi fundamental. Quando há amor e respeito por uma figura como o António, era fundamental para que este espectáculo resultasse. O público tem sido muito generoso.


-O que foi mais difícil de construir neste personagem?

Já são seis anos a fazer esta personagem. Os primeiros três anos, foram complicadíssimos. Eu estreei este espectáculo a medo, e só ao fim de cinco meses é que percebi que o público gostava genuinamente deste espectáculo. Às vezes estou a cantar e ouço os soluços das pessoas a chorar. Eu termino o espectáculo a chorar também.


-Qual foi o feedback do público nas primeiras exibições?

A estreia foi a loucura, tínhamos uma sala de 500 pessoas completamente a abarrotar. Em Julho fizemos a primeira sessão ao ar livre e tivemos novamente 500 pessoas a assistir, em Novembro estivemos na terra do Variações e foi uma emoção para todos nós, ter a família e amigos do António Variações nas primeiras filas da plateia de um teatro com capacidade para 120 pessoas e tínhamos perto de 200 pessoas, foi maravilhoso ver crianças sentadas nas escadas do teatro a assistir. Temos esgotado todas as sessões. Há uma comunhão entre o público e o António Variações.


-Acredita que a exuberância do artista António Variações teria sido "comum" nos dias de hoje? Acha que foi um artista do seu tempo ou hoje teria o mesmo sucesso?

O António era um visionário. Se fosse vivo o António estaria a viver no ano 3000 e a reinventar-se.


-Como se processou a ligação com a Marcha Oficial das Sanjoaninas?

O Paulo Matos (que faz parte da comissão da Marcha Oficial das Sanjoaninas) é já há bastante tempo meu amigo no Facebook e há um ano desafiou-nos a trazer até aos Açores o nosso espectáculo. Era para ter sido o ano passado, mas só agora foi possível. E devo salientar o empenho e entusiasmo de toda a comissão. Uma palavra de apreço ao Presidente da Marcha o Prof. Emanuel Carvalho, que tem sido incansável, assim como o Paulo Matos e toda a macha, que nestes últimos meses trabalharam de noite e de dia para que o meu sonho de trazer o “Variações” aos Açores se tornasse realidade. É notável o trabalho desta gente maravilhosa, a quem agradeço de coração.


-O que os açorianos podem esperar desta exibição este sábado, no Centro Cultural e de Congressos?

Os Açorianos podem esperar uma grande noite, cheia de emoção. A começar por mim e por toda a companhia, estamos todos muito felizes por trazer este espectáculo até a Angra do Heroísmo. O público ilhéu pode esperar uma peça que honra a vida e carreira de António Variações. Quem sabe se numa próxima oportunidade o espectáculo continue a sua digressão noutras ilhas açorianas. Mas para já estamos todos muito felizes e focados no espectáculo do próximo dia 15 de Fevereiro.


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