Açoriano Oriental
Igreja ortodoxa celebra hoje o Natal
Foi sob o som da leitura monocórdica de um livro sagrado, qual ladainha, que os fiéis começaram as celebrações do Natal na Igreja Ortodoxa Russa do Patriarcado de Moscovo, em Lisboa, na noite de quinta-feira.

Autor: Lusa/AO On Line

Enquanto uma crente, idosa, fez a leitura, os cerca de 100 participantes na festa de Natal, que foram chegando da noite fria à “Igreja russa mais ocidental da Eurásia”, como consta da placa à porta, alinharam-se, de rosto introvertido, à espera de vez para se confessarem ao padre Arseni Sokolov.

Entretanto, numa sala lateral da Capela da Boa Nova, em Santa Apolónia, cedida pelo Patriarcado de Lisboa à comunidade ortodoxa russa, mulheres atarefavam-se no preenchimento de folhas simples de papel com os (muitos) nomes de entes queridos, para quem se solicitavam graças, que foram lidos durante a liturgia.

Depois das confissões, a celebração prosseguiu com um ato litúrgico e encerrou com um convívio, madrugada dentro, que incluiu um banquete “com vinho português”, como o padre da Igreja Ortodoxa Russa fez questão de realçar.

Sokolov explicou à Agência Lusa o ambiente geral de festa com o facto de se “festejar o dia do nascimento do Nosso Senhor Salvador Jesus Cristo. O conteúdo, o significado, da nossa festa, não tem diferenças com a festa católica”.

A única diferença é a data, “porque seguimos o calendário juliano. A igreja católica e muitas ortodoxas seguem o gregoriano. Mas há igrejas ortodoxas que ainda seguem o calendário antigo, juliano”, acrescentou.

“Somos russos, bielorrussos, moldavos, ucranianos, portugueses, guineenses, sérvios, georgianos, mas a fé é única, Cristo é único, o Natal é único. Temos calendários diferentes, mas uma única festa de Natal”, explicou.

Apesar de o espírito festivo ser o mesmo, há porém outras diferenças para além do calendário.

A sérvia Ana Maria, que lê o Pai Nosso em sérvio nos atos litúrgicos, uma vez que a oração é lida nas línguas dos paroquianos presentes, fez uma alusão ao período anterior ao Natal.

“O Natal na igreja ortodoxa como na católica representa o nascimento de Cristo. Só que nós preparamo-nos de uma forma diferente, porque antes do Natal fazemos seis semanas de jejum” de carne, lacticínios e ovos, indicou Ana Maria, que está a fazer um doutoramento em Portugal, onde se encontra há cinco anos e se sente “muito bem”.

Este “é um período de sacrifício, de disciplina, de controlo, de pensar nos outros, nos nossos pecados, em sermos mais humildes, modestos, em melhorar os nossos comportamentos”, explicou.

Ana Maria salientou ainda a importância da confissão, o que permite perceber a dimensão da fila dos que se quiseram confessar, grande também porque parte importante das pessoas vieram de fora.

A confissão “serve como forma de sermos valentes, de admitir que damos erros, mas também de ter outra oportunidade de melhorar, de ser mais correto, de aliviar a consciência sem ter de recorrer a amigos e terceiros que, por vezes, com boas intenções, acabam por interferir na nossa vida negativamente”, adiantou.

Ana Maria considerou igualmente que “é uma forma de não precisarmos de ir ao psiquiatra, quando temos um problema. Temos o padre que é o nosso guia espiritual”.

A celebração festiva ortodoxa do Natal encerrou com um convívio, porque também foi precedida por um período de sacrifício (jejum), se bem que voluntário.

A alegria é expressa pela comida e pelo vestuário, onde ressalta o colorido, designadamente nos lenços das mulheres, que os têm na cabeça “em sinal de respeito”, pormenorizou Ana Maria.

Noutro plano, Ana Maria chamou a atenção para o entendimento ortodoxo de que “Natal não é só troca de presentes. A maior prenda foi o Menino Jesus. A prenda para nós é mais uma coisa simbólica. No limite oferecemos a nossa companhia. Não é tão comercial”.

O padre Delmar Barreiros, responsável pelo acompanhamento e pela assistência aos imigrantes no patriarcado de Lisboa, deslocou-se à celebração para dar um “abraço do senhor patriarca” e os seus parabéns “à comunidade – culta, trabalhadora, integrada – russa”.

À Agência Lusa disse que “os cristãos russos são cristãos como eu embora tenham um rito diferente, que é o bizantino, mas há outros católicos que também têm o rito bizantino, como os orientais, caso dos ucranianos”.

O padre Delmar Barreiros acrescentou que “como os russos não tinham um lugar religioso para celebrar a sua fé, o Patriarcado cedeu esta igreja – tal como cedeu outra para a comunidade romena, apesar de também ser ortodoxa, ou à comunidade búlgara”.

“Agradecemos muito ao senhor patriarca José Policarpo, pelo gesto fraternal de dar à nossa comunidade esta capela da Boa Nova”, disse Sokolov.

Sokolov disse ainda que a comunidade ortodoxa está em expansão em Portugal, com núcleos de Faro ao Porto, passando pelas regiões autónomas, Leiria, Elvas, Évora ou Setúbal, entre outras cidades.

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