Autor: Lusa/Açoriano Oriental
No âmbito da apresentação de um estudo europeu sobre atitudes perante refugiados e imigrantes, hoje em Lisboa, várias vezes foi focado o facto de que comparando dados de um estudo idêntico feito em 2002/03 com o de 2014/15 há em termos gerais na Europa uma atitude mais positiva.
O estudo mostra, por exemplo, que Portugal é o país que revela maior abertura ao acolhimento de refugiados, mas é um dos que mais se opõe à imigração.
“Há uma tendência na Europa, e em Portugal, para uma atitude mais positiva quando aos imigrantes”, contrapôs Jorge Vala, do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa e da comissão que em Portugal realiza o estudo (European Social Survey).
E acrescentou, ainda sobre o estudo, que se nota uma tendência para diminuir a perceção de que os imigrantes são um perigo económico e para a segurança, havendo, por outro lado, uma tendência para um ligeiro aumento na visão de que os imigrantes são uma ameaça à cultura e identidade.
Alice Ramos, também do ICS, defendeu igualmente que o inquérito revela uma maior abertura à imigração e menor ideia de que os imigrantes são uma ameaça e também uma maior abertura ao acolhimento de refugiados.
Salientou a especialista (citando nalgumas frases Jorge Vala), que é errado pensar-se que não há crenças racistas nesta matéria. O que há é “normas antirracistas que protegem os grupos”, disse.
“Não posso dizer que um negro é menos inteligente, digo antes que há negros que têm características diferentes”, exemplificou, acrescentando: “o racismo evolui, vai-se adaptando às normas e vai coexistindo com a democracia”.
Jorge Vala falou também das “perceções erradas”, que devem ser desmontadas, como a que leva a associar imigração e criminalidade ou perigo económico (ficar sem os empregos), quando “estudos mostram que não se pode fazer essa associação”.
E alertou para outra situação: não sendo negativas, as atitudes face à imigração encontram recetividade em lideranças políticas com uma agenda de posição anti-imigração.
“E o eco na imprensa apresenta como consensual uma posição que não é maioritária”, e a expressão da extrema-direita, salvo em dois países europeus, “não é tão grande quanto os títulos, capas de jornal e artigos fazem pensar”, disse.