Açoriano Oriental
Visitando a Casa Manuel de Arriaga

Para descansar os olhos da letra, de forma em que gasto os meus dias, visitei, aqui na Horta, a Casa Manuel de Arriaga, imóvel originário do século XVIII, onde nasceu e viveu grande parte da sua juventude o primeiro presidente constitucional da República Portuguesa.

Visitando a Casa Manuel de Arriaga

Autor: Victor Rui Dores

Para além de fixar a memória de Manuel José de Arriaga Brum da Silveira e Peyrelongue (1840-1917) e o seu tempo, o referido espaço museológico, dotado de equipamentos multimédia, projeta-se na substância dos ideais e valores republicanos, com um núcleo moderno de reflexão e estímulo à participação cívica.


O que aprendi com esta visita? Que a vida de Manuel de Arriaga foi de luta intensa, ele que intensamente viveu os últimos decénios da Monarquia Constitucional e os primeiros anos da República. O pai, Sebastião de Arriaga, monárquico convicto, ao saber que o filho, fixar-se-ia em Coimbra, optara pelo ideário republicano, deixou de lhe pagar a mesada e deserdou-o. Manuel sobreviveu dando explicações particulares de Inglês.


Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, Manuel de Arriaga foi professor liceal, advogado, deputado, procurador-geral da República, reitor da referida Universidade e, com 71 anos de idade, eleito Presidente da República, no dia 24 de Agosto de 1911. Presidiu ao país num período conturbado, sofrendo as dificuldades de conciliar partidos e ideais opostos. Durante o seu mandato (1911-1915) empossou oito governos.


Este faialense foi paladino de uma sociedade mais justa e igualitária. Ideólogo do republicanismo português, orador de mérito, escritor profícuo e poeta estimável, sonhou com uma República que fosse “Escola, Oficina, Museu, Jardim”. Cultivou uma outra forma de fazer política, que se baseava numa ética de responsabilidade, ou seja, num sentimento de dever moral e cívico de trabalhar para o bem da comunidade e para os benefícios dos outros e não em defesa dos seus próprios interesses.


Contrariamente aos políticos, republicanos, monárquicos, jacobinos, maçons e carbonários dos nossos dias, Manuel de Arriaga não conheceu benesses nem mordomias. Bem pelo contrário. Enquanto Presidente da República, era obrigado a pagar renda de casa, não tinha secretário, nem protocolo, nem Conselho de Estado. Foi aconselhado a comprar um automóvel para as deslocações oficiais, mas teve de o pagar do seu bolso também. Na falta de um secretário, convidou o seu filho, Roque de Arriaga, para essa função.


Quando, no dia 26 de Maio de 1915, resignou ao cargo de Presidente, declarou ao jornalista João Chagas: “Saio da Presidência mais pobre do que quando nela entrei”. (Nos dias de hoje seria exatamente o oposto…).


Um ano depois, no seu livro intitulado 'Na Primeira Presidência da República Portuguesa', Arriaga escrevia: “Hei-de morrer pobre. Hei-de morrer tão descrente dos homens quão crente nos princípios que sigo. Hei-de morrer vencido e cansado. Mas hei-de ter a consolação de que, por cima da minha sepultura, poderá ler-se: Aqui jaz um homem que não explorou ninguém e que antes por alguns foi explorado”.


Os conterrâneos de Manuel de Arriaga referiram-se-lhe como “altruísta”, “pacificador”, “magnânimo”, “bondoso”, “honrado”, “idealista”, “romântico”. Ora aí estão adjectivos que dificilmente se encaixam nos governantes dos nossos dias.


Num discurso proferido em 1867, na Câmara dos Deputados, Manuel de Arriaga lançava este sério aviso: “Senhores deputados, permitam-me que neste período desenfreado e desaforado mercantilismo que tudo e todos avassala e corrompe (…) lhes diga que é exatamente a falta de um ideal político na administração do Estado a causa primordial da nossa decadência como povo e como nação”.


Nunca é tarde para aprendermos a lição de Manuel de Arriaga.


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