Autor: Nuno Martins Neves
“Nós vimos horrores, senhor, horrores”. Foi assim que Lisandra, mãe de uma das crianças que foi vítima de maus tratos pelas funcionárias do Centro de Apoio à Criança n.º 1 da Casa do Povo de Rabo de Peixe (CPRP), descreveu as imagens que viu. O Açoriano Oriental falou com alguns encarregados de educação que têm as suas crianças na instituição e todas pedem justiça para os seus filhos e filhas.
“Eu e o meu marido não tocamos num fio de cabelo de nenhum dos nossos três filhos. Eé muito triste vermos umas imagens das senhoras da creche a puxar os cabelos do meu filho para ele comer”.
A raiva na sua voz treme quando recorda que o seu filho tinha tentado explicar o que se passava na creche. “Quando ele chegava a casa, dizia que a funcionária lhe dava na cara. E eu e o meu marido levávamos na brincadeira, porque a funcionária, fingida, dava pancadinhas na testa do meu filho, a brincar. E eu acabei de ver essa funcionária, numa câmara, a puxar os cabelinhos com tanta força que até o pescoço veio para trás”.
Sónia, mãe da menina autista, conta como sentiu que a sua criança começou a ter comportamentos estranhos, de um momento para o outro.
“A minha menina não fala e na hora de dormir, se eu e o pai falávamos um pouco mais alto, ela atirava-se do berço e cobria a cabeça, fugia para um canto. Uma vez, a minha filha apareceu com nódoas negras em casa, fui perguntar às auxiliares e a desculpa foi que ela se tinha magoado no dormitório e não sabiam ao certo o que tinha acontecido”.
Uma desculpa que, depois do que viu nas imagens, não cola mais. “Que competência tem essas auxiliares para trabalhar numa creche? Os nossos filhos são inocentes,estamos a trabalhar descansadas sem saber o que lhes estão a fazer”.
Lisandra recorda que as imagens apenas mostraram o que acontecia na zona do refeitório. “E no dormitório?E nas casas de banho? Lá não há câmaras! O meu menino, quando começou a frequentar a creche, começou a ter queixas no rabo. “mãe, mãe, cuidado, cuidado, dói, dói”. Ele tinha já pânico que eu lhe limpasse o rabinho e eu usava carícias! Ainda esta semana, ele teve queixas. Quem me garante que não são as funcionárias que limpam com agressividade?”.
Incrédulas, as mães e pais ouvidos pelo Açoriano Oriental não conseguem compreender “como é possível acontecer algo assim nos dias de hoje”.
Mas garantem que querem que seja feita justiça:“Elas têm de ser retiradas de trabalhar com crianças”, refere Sérgio, pai de um menino. Lisandra concorda, avisando que se assim não for “vamos fazer uma revolução em Rabo de Peixe.
E vai mais longe, questionando a decisão do tribunal em readmitir as funcionárias. “Como é que um juiz toma uma decisão depois de ver um trabalho destes? Nota-se que são agressoras. E sabem muito bem fazer as coisas, pois à frente dos pais são um amor”.
O Açoriano Oriental também ouviu a representante dos pais das creches da CPRP, que também questionou a decisão de colocar as funcionárias acusadas noutras valências da instituição, algo que está a causar desagrado junto dos pais, que receiam pelos seus filhos.
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