Açoriano Oriental
'Reforço do poder de Xi Jinping mantém linha de continuidade na China '

Analistas da revista britânica The Economist defendem que o reforço do poder do líder chinês, Xi Jinping, manterá a China numa linha de continuidade, sem que se preveja um desenvolvimento dramático na questão de Taiwan.

'Reforço do poder de Xi Jinping mantém linha de continuidade na China '

Autor: Lusa/AO Online

Durante um seminário virtual sobre o 20.º congresso do Partido Comunista Chinês (PCC), que terminou no fim de semana passado, o analista da Economist Intelligence Unit (EIU) Nick Marro considerou na quinta-feira pouco provável que a China invada Taiwan num futuro próximo.

“Na probabilidade de um conflito entre os dois lados do estreito [de Taiwan], seria de esperar que houvesse uma intervenção dos Estados Unidos e isso continua a ser o maior [fator] dissuasor”, justificou.

Apesar disso, antecipou que a China aumentará a pressão sobre Taiwan com a aproximação das eleições na ilha em 2023, inclusive através de exercícios militares.

O objetivo, segundo Marro, será tentar evitar uma vitória do Partido Democrático Progressista, cuja visão mais cética em relação à China é vista em Pequim como sendo pró-independência da ilha.

“O potencial de um erro de cálculo acidental, que poderá entrar em espiral e gerar um conflito maior, é ainda muito real”, alertou.

Marro disse também que não se espera que a China forme um bloco ao estilo da Guerra Fria com a Rússia, até porque Pequim está a “reavaliar as suas próprias projeções” sobre a forma como se desenvolve a relação com Moscovo.

No entanto, referiu, “a perspetiva geopolítica é ainda bastante sombria”.

“A administração de Xi Jinping tem sido muito caracterizada pelo reforço dos controlos sobre as liberdades civis na China, e isso vai manter a China em rota de colisão com muitos dos seus parceiros globais”, disse.

Num quadro também marcado pela guerra comercial com os Estados Unidos e receios da política chinesa de “zero casos” de covid-19, os analistas da EIU anteciparam uma quebra no investimento estrangeiro na China nos próximos anos, em favor do Sudeste Asiático.

A nível interno, a analista Yue Su disse que o fortalecimento do poder de Xi passou pelo afastamento de figuras ligadas à Liga Comunista da Juventude da China e à clique de Xangai, que “anteriormente dominavam o sistema político” no país.

Esta “regressão institucional”, como lhe chamou Yue Su, implicará menos controlo e equilíbrio na tomada de decisões, além de poder “aprofundar ainda mais o confronto ideológico com o Ocidente”.

Para a analista, Xi garantiu maior unidade, mas a nova composição da cúpula do poder tem uma menor ligação com as administrações regionais, o que poderá “implicar dificuldades em termos de implementação de políticas”.

O analista Tianchen Xu viu no congresso do PCC indicações de que se irá manter a política de “zero casos” de covid-19, assumida como um triunfo político de Xi, mas com um impacto negativo em muitos setores de produção.

Tianchen Xu alertou que certas medidas relacionadas com a covid-19, como o alívio de algumas restrições para turistas ou a redução do tempo de quarentena, não devem ser interpretadas como o “fim iminente” da política de “zero casos”.

Os analistas da EIU também anteciparam que a economia chinesa deverá crescer menos de 3% em 2030, depois de um pico de 4,7% no próximo ano, e que as cidades da costa sudeste da China beneficiarão do “atual cenário de política macroeconómica”.

Yue Su referiu, em particular, a região do Delta do Rio das Pérolas, que inclui a província de Guangdong e as regiões de Macau e Hong Kong, onde vivem cerca de 40 milhões de pessoas.

A China é o país mais populoso do mundo, com mais de 1.450 milhões habitantes.

Os analistas da EIU consideraram ainda que o entusiasmo no congresso do PCC em torno do projeto da Nova Rota da Seda esfriou relativamente a anos anteriores.

Nick Marro atribuiu essa circunstância a uma maior vulnerabilidade das economias emergentes devido à pandemia de covid-19, “não só em termos fiscais, mas também em termos do tipo de exposição ao crédito”, e a maiores exigências ao nível do investimento estrangeiro.

“Estamos a assistir a uma abordagem muito mais madura em matéria de empréstimos, financiamento e investimento, o que é globalmente positivo”, disse.

“Mas, inevitavelmente, isso vai levar a um arrefecimento em alguma atividade, particularmente à medida que a economia global lida com a recessão no próximo ano”, acrescentou.


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