Açoriano Oriental
China/Protestos
Reforçada presença policial e avisos contra infiltração por “forças hostis”

As autoridades chinesas destacaram soldados para as pontes pedonais ao longo da principal circunvalação de Pequim, o “Segundo Anel”, e alertaram para a “infiltração de forças hostis” no país após as manifestações dos últimos dias.

Reforçada presença policial e avisos contra infiltração por “forças hostis”

Autor: João Pimenta/Lusa/AO Online

A presença de soldados do Exército de Libertação Popular, as Forças Armadas da China, na entrada de edifícios governamentais, sobretudo ministérios, é comum na capital chinesa. No entanto, a sua colocação nas pontes pedonais ao logo da principal circunvalação da cidade, observada pela agência Lusa, estará relacionada com um episódio que antecedeu os protestos deste fim de semana.

Paralelamente, as autoridades apelam aos cidadãos para delatarem quaisquer "comentários inflamatórios" nas redes sociais sobre as contestadas restrições impostas pelo regime e justificadas com a covid-19.

Em outubro passado, foi colocada uma faixa numa das pontes mais movimentadas da cidade a exigir o fim da política de ‘zero casos’ de covid-19 e a destituição do líder chinês, Xi Jinping.

As palavras de ordem escritas na faixa – "Não queremos mentiras, queremos dignidade; Não queremos Revolução Cultural, queremos reformas; Não queremos líderes fortes, queremos eleições; Não queremos ser escravos, queremos ser cidadãos" – foram repetidas por alguns dos manifestantes nas manifestações deste fim de semana.

Este protesto isolado ocorreu no dia 13 de outubro, nas vésperas do 20.º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC), que cimentou o estatuto de Xi como o líder mais forte desde Mao Zedong, o fundador do regime. Sob a direção de Xi, o PCC voltou a penetrar na vida política, social e económica da China, enquanto o poder político se centrou na sua figura.

Em comunicado, a Comissão Central para Assuntos Políticos e Jurídicos do PCC prometeu hoje “reprimir resolutamente as atividades de infiltração e sabotagem por forças hostis”.

Centenas de carros da polícia e veículos blindados com as luzes de alerta ligadas foram colocados em vários pontos das principais cidades da China, enquanto agentes da polícia e das forças paramilitares realizaram verificações aleatórias de identidade e vasculharam os telemóveis das pessoas à procura de fotos e vídeos dos protestos ou aplicações banidas no país, incluindo Facebook, Twitter ou Instagram.

Na cidade de Shenzhen, os Comités de Bairro, o nível mais baixo da burocracia chinesa, em que o Partido Comunista Chinês confia para difundir diretrizes e propaganda a nível local, alertaram os moradores para a infiltração de “soldados dos Estados Unidos e de Taiwan” nas suas áreas de residência, que supostamente quererão “incitar as pessoas a revoltarem-se contra as medidas de prevenção epidémica”.

“Se forem adicionados a um grupo no WeChat onde são feitos comentários inflamatórios, devem fazer imediatamente uma captura de ecrã e reportar à Agência de Segurança Nacional”, lê-se numa mensagem recebida por um habitante de Shenzen a que a Lusa teve acesso. O WeChat é a rede social mais utilizada na China.

“[A moeda chinesa], o yuan, vai certamente substituir o dólar norte-americano no futuro, o que será a morte dos Estados Unidos. Por isso, os americanos estão a tentar de tudo para conter o nosso país”, lê-se na mesma nota.

O controlo social foi reforçado na China no âmbito da política de ‘zero casos’ de covid-19, que inclui o bloqueio de bairros ou cidades inteiras, a realização constante de testes em massa e o isolamento de todos os casos positivos e respetivos contactos diretos em instalações designadas, muitas vezes em condições degradantes.

Esta estratégia gerou uma sucessão de tragédias e casos de abuso da autoridade, culminando em protestos em larga escala, suscitados por um incêndio mortal, num prédio na cidade de Urumqi, no noroeste da China, na sexta-feira passada. Os manifestantes dizem que os bloqueios no bairro, no âmbito das medidas de prevenção epidémica, atrasaram o acesso do camião dos bombeiros. Os moradores também não conseguiram escapar do prédio, cuja porta estava bloqueada.

As autoridades chinesas atribuem frequentemente protestos no país a “forças externas hostis”.


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