Autor: Paulo Faustino
A Rede Atlântica de Estações Geodinâmicas e Espaciais (RAEGE), que
inclui duas estações geodésicas fundamentais em Santa Maria e nas Flores
- e outras duas em Yebes e Gran Canária, em resultado de um memorando
de entendimento assinado em 2010 entre os governos da Região e de
Espanha -, é um dos mais valiosos “contributos dos Açores para o mundo”,
ao garantir o fornecimento de dados de excelência à comunidade
científica internacional.
As estações RAEGE designam-se de estações geodésicas fundamentais por reunirem uma série de técnicas de base da Geodesia - a ciência que visa a medição e o conhecimento preciso da forma do planeta, a sua orientação espacial e o campo gravítico terrestre -, técnicas essas de grande precisão que fazem uso de tecnologia espacial, usando astros como pontos de referência para estudar a Terra e as suas deformações.
Desse levantamento de dados resulta o conhecimento em domínios importantes, como o referencial inercial terrestre, que serve de base a serviços de posicionamento como o Google Earth. Mas também torna possível fazer estimativas na variação do nível médio das águas do mar, quantificar o deslocamento das placas tectónicas, medir a duração exata do dia e da noite, estudar a atmosfera terrestre e contribuir, entre outros aspetos, para o estudo dos efeitos causados pelas alterações climáticas.
Das quatro estações da rede RAEGE, duas estão completamente operacionais, a de Santa Maria e Yebes, sendo que na primeira trabalham presentemente dez pessoas que dão o seu contributo para o GGOS (Global Geodetic Observing System). Este é um sistema que visa a atualização, expansão e manutenção de uma rede global de estações geodésicas fundamentais, que fornecem dados para uma melhor compreensão da dinâmica da Terra e das alterações globais do planeta e, assim, servir de base à tomada de decisão no que diz respeito ao impacto social a longo prazo.
O ano de 2020 é um marco importante para a Estação RAEGE de Santa Maria, dirigida por João Ferreira, Mestre em Engenharia Aeroespacial e diretor adjunto da rede RAEGE. Isto devido à instalação de um novo recetor no radiotelescópio de 13,2 metros de diâmetro e por profundas reparações estruturais que permitiram à referida estação retomar, a partir de maio passado, as observações da rede internacional IVS (International VLBI Service for Astrometry and Geodesy).
Na verdade, o projeto RAEGE nos Açores - gerido pela Associação RAEGE Açores (RAEGE-Az), associação privada constituída em 2017 entre o Governo Regional e a SATA - contribui, ao nível do país, para a resolução (69/266) das Nações Unidas que apela a todos os estados-membros para contribuírem ativamente para a construção de um referencial geodésico global para um desenvolvimento sustentável.
Como
realça João Ferreira, o RAEGE-Az trabalha com vários parceiros, em
diversas áreas, como é o caso, a nível regional, do Centro de Informação
e Vigilância Sismovulcânica dos Açores (CIVISA), enviando dados
sismológicos, em tempo real, para este último. Mas é sobretudo
além-fronteiras que a sua informação ganha particular relevância e
projeção. Não apenas ao nível do IVS, como também em termos do EPOS
(European Plate Observing System) & IGS (International GNSS Service)
por via dos dados fornecidos pelas estações GNSS (Global Navigation
Satellite System) das Flores e Santa Maria, e do Instituto Geográfico de
Espanha, que trata e valida os dados gravimétricos recolhidos nesta
última ilha.
Também a partir de Santa Maria, a estação RAEGE possui
um telescópio ótico que a liga ao projeto de monitorização de lixo
espacial da Europa.
Outro projeto em que a RAEGE-Açores está envolvida tem a ver com a instalação de uma antena de receção de sinal de satélites para o estudo e monitorização de explosões de raios gama no universo profundo, num projeto das agências espaciais francesa e chinesa.
Por outro lado, a RAEGE-Az assegura mentoria no desenvolvimento de projetos científicos e iniciativas escolares e, na ótica de informar e de se aproximar da comunidade local, pretende aprofundar a “investigação relevante e com interesse para a Região”.
Na
linha dessa estratégia, João Ferreira destaca o apoio dado ao Instituto
de Astrofísica e Ciências do Espaço por via da disponibilização de
tempo de observação in loco a alunos da cadeira de Radioastronomia da
Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Sem descurar as
universidades dos Açores, do Porto e da Beira Interior, o Instituto
Superior de Engenharia de Lisboa, o Colaboratório para as Geociências e o
Instituto de Telecomunicações.
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