Açoriano Oriental
Populismo e normalização da extrema-direita vistos por três antifascistas

O populismo é “um termo que, como não diz nada, serve para esconder tudo”, alerta o histórico dirigente comunista Domingos Abrantes, ao abordar a normalização da extrema-direita nas sociedades atuais.

Populismo e normalização da extrema-direita vistos por três antifascistas

Autor: AO Online/ Lusa

O conselheiro de Estado e um dos mais velhos ex-presos políticos da PIDE afirma, em declarações à Lusa, que a extrema-direita tem vindo a ganhar força por ser normalizada muitas das vezes enquanto movimento populista.

“Marcelo Caetano era um populista, antigamente dizíamos que era uma pessoa popularucha”, lembra o histórico antifacista, acrescentado: se antes “o populismo era a demagogia”, hoje “começou a esconder coisas diferentes”, designadamente o perigo do regresso das forças de índole fascista.

E o fascismo “é uma solução a que os grandes capitalistas recorrem sempre quando, nas condições de crise, não conseguem os níveis de exploração”, adverte.

Foi o que se presenciou no pós-guerra do século XX, com o colapso do capitalismo e o descontentamento das massas, instrumentalizada pelos totalitarismos para chegar ao poder. “Os fascistas quando vieram, prometeram 'arrumar a casa', vinham por a ordem e dar trabalho”, comenta o militante comunista.

Fernando Rosas, historiador e professor universitário, apesar de ressalvar que a História não é cíclica, considera que se assiste atualmente a “paralelismos inquietantes” com os movimentos europeus dos anos de 1920 e 1930, que se desenvolveram numa onda generalizada de medo, revolta e ansiedade em relação ao futuro.

Contudo, sublinha que a nova extrema-direita distingue-se dos antigos fascismos: "Esta nova extrema-direita engravatou-se. Pretende jogar o jogo do sistema."

“Não há milícias ou camisas negras armadas a fazer terrorismo contra os partidos. [Agora, a extrema-direita] tem uma atitude de culto da violência e trabalha sobre a mentira. Os dirigentes valem não pela sua competência, mas por serem atrabiliários, por se estarem nas tintas e assumirem claramente a mentira”, sustenta.

Já a ex-comunista Zita Seabra, que passou pelo PSD e que foi mandatária da Iniciativa Liberal nas legislativas de 2019, recusa situar o populismo na extrema-direita.

“O populismo não é de esquerda nem de direita, é populista”, argumenta Zita Seabra, considerando que Ana Gomes, a ex-eurodeputada socialista que ficou em segundo lugar nas últimas presidenciais, é tão populista como o líder do Chega, André Ventura.

Rejeitando comparações entre o novo populismo e o fascismo do século passado, Zita Seabra salienta que “as pessoas que votaram no André Ventura são deserdados da sorte, não vale a pena chamar-lhes fascistas”.

“Quando chegamos a este ponto, deixa de existir direita ou esquerda. O que há são ditadores e vítimas”, acentua.

Passados 46 anos sobre o 25 de Abril, que derrubou o Estado Novo, em 1974, Abrantes, Rosas e Zita Seabra não dão por garantida a democracia pela qual lutaram.

“Muitos [portugueses] já nasceram depois do 25 de abril, nem têm essa memória. Esse é o grande problema”, refere Domingos Abrantes.

Fernando Rosas concorda e acrescenta que estes extremismos “jogam com a desmemória, ou seja, em não convocar a memória nem a História”. O investigador alerta: “Quando não se compara, não se percebe”.

Zita Seabra prefere sublinhar que os mais desfavorecidos se sentem a retornar a uma pobreza pré-revolucionária.



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