Autor: Rui jorge Cabral
Hoje com 74 anos, Manuel Rolo foi um piloto com uma das carreiras mais
longas nos ralis em Portugal, tendo corrido com regularidade no
Campeonato de Portugal de Ralis durante mais de 30 anos em carros tão
variados quanto o Datsun 1600 com que se estreou nos ralis há 50 anos,
passando pelo Ford Escort RS 2000, pelo Seat Ibiza 1.8 GTi, pelo
Mitsubishi Lancer EVO VI (comprado ao piloto açoriano Luís Pimentel) e,
sobretudo, pelo Renault 11 Turbo, o carro pelo qual talvez ainda hoje
seja mais recordado e que o levou à conquista do seu único título
nacional, o do Grupo N em 1987.
Provavelmente, Manuel Rolo ainda é um nome conhecido dos adeptos de ralis dos Açores, mas o que talvez muitos não saibam é que este professor reformado de educação física (que chegou a dar aulas de Karting!), natural de Castelo Branco e com uma enorme simpatia pelos Açores e pelo seu povo, é ainda hoje o piloto forasteiro - de entre os muitos continentais, madeirenses e estrangeiros que já vieram correr aos Açores - com mais participações na Volta à Ilha, atual Azores Rallye.
Entre 1981 e 2000, Manuel Rolo só por uma
vez - em 1984 - faltou ao Rali dos Açores, como é conhecido entre os
continentais e as suas 19 participações nesse período de tempo fazem
dele ainda hoje o sétimo piloto com mais participações no Azores Rallye,
segundo a conhecida base de dados dos ralis mundiais -
ewrc-results.com.
Manuel Rolo surge apenas atrás de nomes grandes
dos ralis açorianos como o eterno Horácio Franco ou o campeoníssimo
Ricardo Moura e, curiosamente, à frente de Fernando Peres, o piloto
continental que se tornou recordista de vitórias no Azores Rallye, onde
participou por 18 vezes. Surpreendido por ainda ter este recorde na sua
posse, Manuel Rolo acedeu gentilmente a conversar com o Açoriano
Oriental sobre as suas memórias do Azores Rallye.
Questionado sobre o que o fez participar 19 vezes no rali, Manuel Rolo responde sem hesitar: “eu adoro os Açores, é tão simples quanto isso! Porque nos Açores, eu parecia que estava em casa, entusiasmava-me com as classificativas que eu sempre disse serem as melhores classificativas em terra do Campeonato Nacional de Ralis”.
Logo em 1981, quando Manuel
Rolo veio pela primeira vez disputar a Volta à Ilha com um Ford Escort
RS 2000, recorda “que uma coisa que eu adorei foram as hortênsias que
ladeavam as estradas e que à noite brilhavam com os faróis”. Por isso,
“nos treinos à noite, eram as hortênsias que me serviam de referência”
nas notas de andamento para os pontos de travagem antes das curvas, “do
género: 100 - Atenção - Hortênsia à Esquerda - Direita Fechada”, lembra o
piloto.
Em relação aos troços, Manuel Rolo destaca sobretudo a
Tronqueira, na sua versão clássica, “que era uma prova de perícia com 18
quilómetros, em que os carros mais potentes perdiam às vezes para
carros de Grupo N, como era o meu caso, porque aquilo ou corria bem, ou
corria mal e saíamos”.
Na década de 1980, os pilotos passavam
normalmente 10 dias em São Miguel, andavam mais juntos do que agora e os
treinos não tinham as regras apertadas que têm hoje.
Conforme recorda Manuel Rolo, “nos intervalos do treinos, à noite íamos à discoteca, onde não me deixaram entrar da primeira vez, porque eu ia de ténis e só me deixavam entrar com sapatos... Depois, ficou célebre a história em que eu, no dia seguinte, por uma questão de ‘birra’, levei os sapatos na mão, porque não me tinham dito que eu tinha de levar os sapatos nos pés”...
A melhor classificação à geral de Manuel Rolo nas suas 19
participações no Azores Rallye foi em 1986, quando terminou em 3.º lugar
uma prova muito atribulada, com os favoritos a ficarem pelo caminho,
sendo um deles o campeão nacional, Joaquim Moutinho, cujo Renault 5
Turbo ardeu completamente em pleno troço, depois do piloto ter capotado.
Manuel Rolo lembra-se de passar pelo Renault 5 Turbo acidentado. “Eu
parei o carro e subi o muro com o ‘Fifé’ (Filipe Fernandes, o seu
navegador nesse rali) a dizer-me que eu estava maluco e que aquilo ia
explodir”, recorda Manuel Rolo, explicando que “ninguém podia ajudar,
porque a onda de calor era de tal ordem que não nos podíamos aproximar”.
Felizmente, quer Joaquim Moutinho, quer o seu navegador, Edgar
Fortes, conseguiram sair ilesos do carro, antes das chamas o consumirem.
“Quando vi os dois a salvo, o resto já não interessava”, lembra Manuel
Rolo.
No ano seguinte, Manuel Rolo conseguiu o seu título nacional
de Grupo N, com o Renault 11 Turbo. Mas não sem antes passar por um
grande calafrio, quando quase não chegava a Ponta Delgada, para terminar
rali no pódio, “onde entrei de marcha-atrás, porque a caixa ‘pifou’
quando eu já tinha feito a última classificativa e já vinha a caminho de
Ponta Delgada... Perdeu o óleo, perdeu primeiro a quinta, depois a
quarta, por fim só tinha a primeira e a segunda, o motor aqueceu
demasiado e o carro já não tinha força... Então eu parava de vez em
quando para meter Coca-Cola no motor e na caixa, a regar aquilo por
todos os lados, a ver se chegava e cheguei”, conclui Manuel Rolo.