Autor: Rui Jorge Cabral
Mas pelo segundo ano
consecutivo e ainda devido à pandemia de Covid-19, as festas voltam a
não realizar-se, com o Santo Cristo a ser celebrado sem fiéis. Certa é a
não realização da procissão no domingo e da mudança da imagem, no
sábado, bem como a não realização de qualquer programa profano à volta
das festas, tal como no ano passado. E certa deverá também ser a
realização da missa do domingo do Santo Cristo novamente num Santuário
fechado ao público, com transmissão televisiva.
O Santuário ainda
equacionou pelo menos a realização da tradicional Missa Campal, no
domingo do Santo Cristo, uma vez que as missas não estão proibidas pela
Autoridade de Saúde Regional, mas a necessidade de controlar o número de
pessoas na missa deverá levar, certamente, o Santuário a não arriscar
na realização dessa missa com fiéis. Isto porque, caso se estabelecesse
um limite, por exemplo, de 300 pessoas e aparecessem mais mil, como se
iria controlar essa multidão?
A mesma questão se colocou
relativamente à possibilidade de realizar a missa com inscrição prévia
para participação, o que colocava em desvantagem as pessoas mais idosas,
mais infoexcluídas e com maiores dificuldades em deslocarem-se ao
Santuário para se inscreverem previamente.
As condições finais para a
celebração do Santo Cristo este ano só deverão, no entanto, estar
estabelecidas na próxima semana, conforme o evoluir da pandemia em São
Miguel. É que, por exemplo, no ano passado, milhares de pessoas passaram
ordeiramente pelo Campo de São Francisco durante o sábado, o domingo e a
segunda-feira, para rezarem junto à porta principal do Santuário. No
sábado, várias pessoas cumpriram ordeiramente as suas promessas, de
joelhos, à volta do Campo de São Francisco, sem aglomerados. No entanto,
este ano, se continuar o recolher obrigatório em São Miguel às 15
horas, durante o fim de semana, esta situação pode alterar-se e pode ter
de levar à implementação de medidas de segurança à volta do Campo, para
evitar a concentração de pessoas.
São estas dúvidas que ainda levam o Santuário a esperar mais uma semana para, em articulação com a Autoridade de Saúde Regional, tomar uma decisão final quanto ao formato das festas e a necessidade ou não de implementação de medidas especiais de segurança.
Ontem, num comunicado tornado público através do Sítio
Igreja Açores, o Reitor do Santuário do Santo Cristo, o cónego Adriano
Borges, afirmou que “pelo segundo ano consecutivo, o Santuário do Senhor
Santo Cristo dos Milagres e a Mesa da Irmandade informam que a ‘Festa
do Senhor’, prevista para o fim de semana de 8 e 9 de maio, ainda terá
de ser vivida de forma marcadamente espiritual, à distância, sem a
possibilidade de nos encontrarmos todos presencialmente, e de novo, no
‘Campo do Senhor’”.
No comunicado, o Reitor do Santuário lembra que
“estamos a aproximar-nos da data das festas e, por isso, todos
percebemos que face ao atual contexto será muito difícil celebrarmos a
nossa festa, a festa de todos os açorianos, nos moldes habituais”. E,
por isso, apela aos fiéis para que continuem a ser “fortes e
resilientes”, mas também “cumpridores e respeitadores, porque a isso nos
convoca a nossa fé”.
No comunicado do Santuário sobre as Festas do Santo Cristo, é ainda afirmado que “a situação pandémica trouxe perdas e sofrimento, em alguns casos, irreversíveis. Sentimo-nos mais próximos do Senhor, fazendo a dura experiência da cruz, no que ela tem de sofrimento. Mas também sabemos que é a cruz que nos salva e, por isso, nela encontramos o sinal da esperança”.
O cónego Adriano Borges
refere também que todos “desejaríamos que fosse já amanhã” o fim
pandemia, mas isso é algo que, neste momento, “ninguém sabe ao certo”.
Por isso, conclui, “a nossa fé desafia-nos a sermos parte da solução e
nunca do problema. Como Reitor deste Santuário apelo a que cada um de
nós respeite as indicações da Autoridade de Saúde protegendo-se a si e
aos seus e, assim, respeitando todos os outros”.