Raquel Rodrigues tem 26 anos e é natural de Faro. Vive em Angra do Heroísmo onde é bióloga na Federação das Pescas dos Açores. Ao lado, neste projeto, está o namorado João Rocha de 28 anos. É natural da Conceição, vive em Angra do Heroísmo e frequenta o último ano do Curso de Licenciatura em Enfermagem.
Raquel gosta de ler
conteúdos científicos, ver documentários, fazer mergulho, paddle, andar de
bicicleta, trilhos pedestres, observar aves e limpar zonas costeiras. João privilegia
os passeios pelo litoral, gosta de fotografia e de praticar desportos de
natureza, como BTT, corrida, canoagem de mar, paddle, pesca submarina e limpar
a Costa e o Mar “é quase um desporto também!!”, garante o jovem.
Em comum têm a paixão
pelo ambiente e pelo mar. E é dessa paixão que surge o projeto “Marine Waste on
Terceira” (Lixo Marinho na Terceira): “surge numa ideia entre um grupo de
amigos, antes da pandemia. Nós já realizávamos limpezas costeiras individuais
regularmente. A cada ano, temos verificado, que o problema dos plásticos e do
lixo marinho, tem se intensificado nas nossas costas, sendo já um flagelo à
escala Global. Quando tivemos essa noção, pensámos que juntando mais pessoas,
as ações tornar-se-iam mais eficazes e, sobretudo, poderíamos incutir algum
sentido de ‘’dever cívico’’ em todos nós, promovendo a educação/sensibilização
ambiental para esta problemática”, disse Raquel Rodrigues ao Açoriano Oriental.
“A nossa primeira limpeza
costeira, como grupo realizou-se na Caldeira das Lajes, Praia da Vitória, onde
em 2 horas, 7 pessoas retiraram mais de 200kg de lixo marinho. No imediato,
percebemos que se tratava de uma zona de acumulação de lixo, e como tal, já
realizámos mais ações de limpeza costeira nesta zona”, continuou.
O grupo garante que os
voluntários são de todas as idades: “são, sobretudo, de uma faixa etária mais
jovem, como estudantes do ensino básico/secundário e universitários. Chegam de
diversas áreas, como a Educação (professores, interessados em introduzir a
temática nas suas aulas) mas preocupados e interessados em mitigar este
problema. Assim como, a população mais adulta que aproveita estes encontros
para sensibilizar os filhos e ou netos”, diz a bióloga que refuta a acusação de
que os jovens não se interessam pelas questões ambientais. “Não concordamos com
essa ideia. Os jovens, cada vez mais, se preocupam com o “bem-estar” do
ambiente. Reflete-se na educação que vem de casa e na informação que adquirem
nas escolas. No entanto, é verdade que existem sempre alguns que não se
interessem por este assunto. O mesmo acontece nas outras faixas etárias, e cabe
a cada um de nós mudar este lado menos positivo”.
O
grupo assume-se muito ativo nas ações de recolha de lixo: “Realizamos pelo
menos uma ação por mês e complementamos com as nossas ações individuais, quase
semanais e sempre que temos oportunidade”.
Raquel Rodrigues admite que nem sempre
é fácil conseguir voluntários para as ações: “o nosso grupo tem alguns
voluntários “fixos” ou “da casa”. Mas na verdade, às vezes, torna-se difícil
conseguir mais voluntários para o nosso projeto. Sabemos que temos mais
voluntários quando convidamos os agrupamentos de escuteiros, turmas, Juntas de
Freguesia, e outras entidades”.
O trabalho da “Marine
Waste on Terceira” já é reconhecido por diversas instituições. “Somos todos
voluntários, este é um grupo informal, sem sede, sem ajudas monetárias. O
trabalho que temos desenvolvido em prol da conservação e da sustentabilidade
dos Oceanos, levou-nos a ser embaixadores do projeto OceanLit desde 2021. Contamos
com ajuda de várias entidades, através de parcerias para a divulgação e
participação nas ações de limpeza costeira, para diversas formações e doações
de material para as limpezas. Nomeadamente, a Direção Regional das Políticas
Marítimas, Fundação Oceano Azul, TerceiraTours, Water4fun, Gê-Questa, SPEA,
Flip to Green, Municípios, Juntas de Freguesia, etc…”, conclui.
Mas a vontade de limpar a
orla costeira não pode sobrepor-se à segurança dos voluntários. “Existem muitos
grupos, associações, ONG’s que já fazem este tipo de atividade há muitos anos. Como
tal, servem de orientação para atividades futuras, como por exemplo, limpar
baías de acesso difícil por terra, com o auxílio de embarcações e ou caiaques
de mar. Claro que existem lugares
perigosos, a morfologia irregular das nossas Ilhas, cria pequenas baías e
recantos cercados por mar, onde ao longo dos anos se tem acumulado uma enorme
quantidade de lixo marinho. Temos conhecimento de várias zonas de acumulação,
mas não possuímos os meios necessários nem a capacidade para lá intervir. É
necessário, que as entidades competentes façam alguma coisa neste sentido”,
apela a bióloga.
Um
trabalho de continuidade é, para já, o grande sonho para o projeto, mas há
também a vontade de alargar a limpeza ao fundo do mar: “temos o desejo de
conseguirmos realizar limpezas subaquáticas, termos mais voluntários, apoios,
formações, e colaborarmos com entidades de outro locais (continentais e
estrangeiros) para desenvolvermos visões e perspetivas diferentes. Devemos
Pensar Globalmente e Agir localmente”, concluiu a jovem ao Açoriano Oriental.