Autor: Rui Jorge Cabral
Em que situação encontrou a Casa de Saúde de São Miguel, que vai dirigir nos próximos três anos?
Estamos com um grande desequilíbrio financeiro: temos um passivo de cerca de um milhão de euros, que é uma situação grave. Mas não culpo por este passivo a direcção anterior, da qual aliás fiz parte da equipa técnica. Inconscientemente, todos os que fizeram parte da anterior direcção tiveram responsabilidade nessa situação. E isto aconteceu porque as nossas despesas fixas são muito elevadas e as receitas baixas.
Quais são as áreas que mais contribuem para essas despesas elevadas?
Sem dúvida o tratamento das dependências, devido à exigência do próprio público, que implica muito acompanhamento e quadros superiores muito bem formados e com experiência na área.
Um maior apoio do Governo poderá ajudar a resolver os problemas financeiros actuais da Casa de Saúde?
Posso dizer acerca do Governo que este tem sido inexcedível nos apoios que chegam até à Casa de Saúde. Se não fosse o Governo, estaríamos numa situação muito mais complicada. A resolução do passivo actual poderia passar por uma ajuda do Governo, mas não queremos pedinchar... Queremos, sim, avaliar a situação com muita profundidade e aconselharmo-nos com pessoas experientes na área da gestão. Por isso, não posso ainda dizer como é que vamos dar a volta ao passivo. Um dos nossos grandes problemas é a reutilização dos desperdícios. Desperdiça-se muita coisa na Casa de Saúde e nunca houve até agora um trabalho de planeamento ao nível da poupança e da reciclagem.
Perante o cenário que traçou, quais vão ser as suas prioridades na direcção da Casa de Saúde de São Miguel?
Queremos muito apostar na qualificação dos nossos recursos humanos, na reorganização dos nossos serviços internos e na modernização dos nossos equipamentos, porque a Casa de Saúde nem tem sequer computadores em rede neste momento, o que dificulta muito o nosso trabalho.
Há pouco dizia que a área das dependências é a que mais despesa traz à Casa de Saúde. Tem havido um aumento preocupante deste fenómeno em São Miguel, sobretudo da droga?
Posso dizer-lhe que quando cheguei aqui há seis anos, a nossa clínica tinha cerca de 80 por cento de alcoólicos. Neste momento, os toxicodependentes são cerca de 90 por cento. Ao longo desses seis anos, houve um acréscimo muito acentuado do número de toxicodependentes, relacionado em parte com a muita cocaína que deu à costa largada por um italiano e também com o facto de os Açores serem um ponto de passagem de droga, tanto da América, como da Europa. Além disso, também o descontrolo com o Subutex teve resultados muito negativos. Hoje, entre os mais de 30 utentes da nossa clínica, praticamente já não acolhemos pessoas com problemas de heroína, mas sim pessoas com problemas de Subutex. Já é raro aquele utente que chega aqui com consumos de heroína. Esperamos uma melhoria agora com a introdução do novo medicamento, o Suboxone que, se for injectado, provoca ressaca e não dá o “flash” que o Subutex dá.
A saída de Suzete Frias da direcção da Casa de Saúde para liderar um novo projecto gerou receios de esvaziamento de competências nesta instituição, que se tornaram públicos. Como avalia esta situação?
Não há receio nenhum. Houve, de facto, uma carta anónima a dar conta disso, mas duvido até das intenções que levaram essa pessoa a fazê-la, que nem sabemos se faz parte da Casa de Saúde. Agora, o que posso dizer é que a direcção, a equipa técnica e os funcionários da Casa de Saúde não se revêem no que foi escrito naquela carta. Posso também garantir que temos excelentes relações com a anterior directora e somos parceiros na Rede de Suporte à Mobilidade Humana.
Se for possível responder telegraficamente a esta questão, responda: a doença mental é curável?
Não é curável, mas tendo em conta o desenvolvimento da medicina, neste momento, é possível controlá-la e dar aos doentes uma qualidade de vida muito superior à que tinham anteriormente.
“Descurou-se um pouco a formação”
Quer apostar muito na formação do pessoal da Casa de Saúde. Também nele permanece a imagem do “Egipto” como uma “casa de doidos”, em vez de uma clínica onde se trata a doença mental?
Não... Aliás, já a direcção anterior fez um trabalho muito meritório na abertura da Casa de Saúde ao exterior. Desmistificou-se muito a ideia que se tinha dos doentes mentais e mesmo dos toxicodependentes. Contudo, descurou-se um pouco a formação permanente, porque as pessoas devem actualizar-se quanto às novas metodologias e quanto ao conceito de reabilitação psicossocial, que passa pelas competências dos utentes, no sentido de os integrar na comunidade. Temos pessoas que dão muito por esta casa, mas precisam agora actualizar-se.
Estamos com um grande desequilíbrio financeiro: temos um passivo de cerca de um milhão de euros, que é uma situação grave. Mas não culpo por este passivo a direcção anterior, da qual aliás fiz parte da equipa técnica. Inconscientemente, todos os que fizeram parte da anterior direcção tiveram responsabilidade nessa situação. E isto aconteceu porque as nossas despesas fixas são muito elevadas e as receitas baixas.
Quais são as áreas que mais contribuem para essas despesas elevadas?
Sem dúvida o tratamento das dependências, devido à exigência do próprio público, que implica muito acompanhamento e quadros superiores muito bem formados e com experiência na área.
Um maior apoio do Governo poderá ajudar a resolver os problemas financeiros actuais da Casa de Saúde?
Posso dizer acerca do Governo que este tem sido inexcedível nos apoios que chegam até à Casa de Saúde. Se não fosse o Governo, estaríamos numa situação muito mais complicada. A resolução do passivo actual poderia passar por uma ajuda do Governo, mas não queremos pedinchar... Queremos, sim, avaliar a situação com muita profundidade e aconselharmo-nos com pessoas experientes na área da gestão. Por isso, não posso ainda dizer como é que vamos dar a volta ao passivo. Um dos nossos grandes problemas é a reutilização dos desperdícios. Desperdiça-se muita coisa na Casa de Saúde e nunca houve até agora um trabalho de planeamento ao nível da poupança e da reciclagem.
Perante o cenário que traçou, quais vão ser as suas prioridades na direcção da Casa de Saúde de São Miguel?
Queremos muito apostar na qualificação dos nossos recursos humanos, na reorganização dos nossos serviços internos e na modernização dos nossos equipamentos, porque a Casa de Saúde nem tem sequer computadores em rede neste momento, o que dificulta muito o nosso trabalho.
Há pouco dizia que a área das dependências é a que mais despesa traz à Casa de Saúde. Tem havido um aumento preocupante deste fenómeno em São Miguel, sobretudo da droga?
Posso dizer-lhe que quando cheguei aqui há seis anos, a nossa clínica tinha cerca de 80 por cento de alcoólicos. Neste momento, os toxicodependentes são cerca de 90 por cento. Ao longo desses seis anos, houve um acréscimo muito acentuado do número de toxicodependentes, relacionado em parte com a muita cocaína que deu à costa largada por um italiano e também com o facto de os Açores serem um ponto de passagem de droga, tanto da América, como da Europa. Além disso, também o descontrolo com o Subutex teve resultados muito negativos. Hoje, entre os mais de 30 utentes da nossa clínica, praticamente já não acolhemos pessoas com problemas de heroína, mas sim pessoas com problemas de Subutex. Já é raro aquele utente que chega aqui com consumos de heroína. Esperamos uma melhoria agora com a introdução do novo medicamento, o Suboxone que, se for injectado, provoca ressaca e não dá o “flash” que o Subutex dá.
A saída de Suzete Frias da direcção da Casa de Saúde para liderar um novo projecto gerou receios de esvaziamento de competências nesta instituição, que se tornaram públicos. Como avalia esta situação?
Não há receio nenhum. Houve, de facto, uma carta anónima a dar conta disso, mas duvido até das intenções que levaram essa pessoa a fazê-la, que nem sabemos se faz parte da Casa de Saúde. Agora, o que posso dizer é que a direcção, a equipa técnica e os funcionários da Casa de Saúde não se revêem no que foi escrito naquela carta. Posso também garantir que temos excelentes relações com a anterior directora e somos parceiros na Rede de Suporte à Mobilidade Humana.
Se for possível responder telegraficamente a esta questão, responda: a doença mental é curável?
Não é curável, mas tendo em conta o desenvolvimento da medicina, neste momento, é possível controlá-la e dar aos doentes uma qualidade de vida muito superior à que tinham anteriormente.
“Descurou-se um pouco a formação”
Quer apostar muito na formação do pessoal da Casa de Saúde. Também nele permanece a imagem do “Egipto” como uma “casa de doidos”, em vez de uma clínica onde se trata a doença mental?
Não... Aliás, já a direcção anterior fez um trabalho muito meritório na abertura da Casa de Saúde ao exterior. Desmistificou-se muito a ideia que se tinha dos doentes mentais e mesmo dos toxicodependentes. Contudo, descurou-se um pouco a formação permanente, porque as pessoas devem actualizar-se quanto às novas metodologias e quanto ao conceito de reabilitação psicossocial, que passa pelas competências dos utentes, no sentido de os integrar na comunidade. Temos pessoas que dão muito por esta casa, mas precisam agora actualizar-se.