Açoriano Oriental
“Alterações climáticas não se combatem com obras de engenharia, mas com ordenamento do território e plantação de árvores”

Teófilo Braga. Nascido na Ribeira Seca, o professor tem, através da educação, do ativismo e de um projeto pessoal de reintrodução de plantas nativas, dedicado a sua vida à conservação ambiental


 “Alterações climáticas não se combatem com obras de engenharia, mas com ordenamento do território e plantação de árvores”

Autor: Ana Carvalho Melo

Teófilo José Soares de Braga nasceu na Ribeira Seca, Vila Franca do Campo, uma localidade que, à época, era um lugar da freguesia de São Miguel. Filho de Teófilo de Braga, agricultor e emigrante no Canadá durante dez anos, e de Ursulina Soares, doméstica, Teófilo Braga cresceu num ambiente humilde, ainda que reconheça que era, de alguma forma, privilegiado em relação aos seus vizinhos devido ao trabalho e esforço dos seus pais.

A infância de Teófilo foi marcada pelo trabalho no campo, principalmente nas colheitas de uvas, o que desde cedo despertou nele um profundo apreço pela natureza. “Desde criança, habituei-me a ir para as terras, sobretudo para as colheitas, principalmente, a apanha das uvas. Por isso, a minha forte ligação ao campo e à natureza”, recorda.
Ávido leitor, a formação académica de Teófilo Braga foi impulsionada por um gosto precoce pela leitura, um hábito que, embora não fosse habitual na sua família, enriqueceu a sua vida e abriu portas para um futuro educacional sólido.

“Foi através da Biblioteca Itinerante da Fundação Calouste Gulbenkian, que parava no largo, num dos extremos da minha rua, que comecei a ler. Ainda hoje, grande parte do meu tempo é ocupado com a leitura. Foi um hábito que adquiri muito jovem”, relata.

Após concluir o antigo sétimo ano na Escola Secundária Antero de Quental, Teófilo Braga enfrentou um dilema comum a muitos jovens da sua época: a decisão de prosseguir estudos no continente, dificultada pelas instabilidades do período pós-25 de Abril e pelas limitações financeiras familiares. Acabou por permanecer nos Açores, tendo-se inscrito na Escola do Magistério Primário, embora não encontrasse ali a sua verdadeira vocação. Com a abertura do Instituto Universitário dos Açores, ingressou no curso de Matemática, Física e Química, escolhendo finalmente a especialização em Físico-Química. Esta escolha deu início à sua carreira como professor, onde pôde combinar o seu amor pela ciência com o seu crescente interesse pela conservação ambiental.

Teófilo Braga foi fortemente influenciado por figuras como o engenheiro Duarte Furtado e o Doutor Gerald Le Grand, com quem colaborou na atividade do Núcleo Português de Estudos e Protecção da Vida Selvagem, Delegação dos Açores, na década de 1980. Esta associação, pioneira em questões ambientais nos Açores, publicou o boletim “Priolo” e destacou-se na redescoberta e proteção do priolo, uma ave endémica da região.

Ao longo da sua vida, Teófilo Braga esteve ativamente envolvido em várias associações ambientais, como a Luta Ecológica em Angra do Heroísmo, os Amigos da Terra Açores, fundada em janeiro de 1984 e que mais tarde se tornaria Amigos dos Açores, e o Núcleo Regional dos Açores da Íris - Associação Nacional de Ambiente. Mas as suas atividades não se restringiram ao ativismo; Teófilo Braga também contribuiu significativamente para a formação de professores e a sensibilização ambiental entre os jovens.

Aposentado, Teófilo Braga dedicou-se a um projeto ambicioso e visionário: a plantação de mais de 1500 plantas nativas e endémicas no seu terreno na Ribeira Seca. Este projeto, iniciado com a plantação de 1300 plantas no primeiro ano e mais 300 no segundo, visa reintroduzir e valorizar a flora primitiva dos Açores. Para Teófilo Braga este é um legado a longo prazo, uma contribuição essencial para a conservação ambiental que vai além da sua própria vida.

“O objetivo global é a longo prazo. António Borges possivelmente não viu o seu jardim com as plantas adultas, nem José do Canto ou José Jácome Correia. Eu não me comparo com eles em termos de posses, mas com certeza que também não vou ver as plantas no auge da sua vida. O que me interessa é tentar criar a floresta que existia nos Açores, quando foram descobertos. Será o meu contributo para combater as alterações climáticas, porque não é com obras de engenharia, com mais muros ou fossas, que se combate as alterações climáticas, mas com a alteração do ordenamento do território e com a plantação de árvores”, defende.

Paralelamente ao seu trabalho ambiental, Teófilo Braga publicou vários livros dedicados ao ambiente e à história da Região, refletindo o seu contínuo interesse pela história e pela luta por justiça social.

Contudo, Teófilo Braga não esconde a sua desilusão com a sociedade e a política atuais. O ambientalista sente que, apesar de haver uma maior consciência ambiental, os esforços para a conservação são frequentemente minados por políticas públicas inadequadas e pela influência dos interesses económicos. “Os poderes económicos e as tecnologias são capazes de fazer alterações na natureza e no ambiente que antes não eram possíveis“, lamenta, acrescentando considerar que as políticas públicas falham mais do que as ações individuais e criticando a falta de compromisso real com a redução de resíduos e a proteção ambiental.

A sua desilusão também se estende ao campo político, dando como exemplo a sua experiência com petições à Assembleia Regional dos Açores: “De há um tempo para cá, com a entrada de um partido político, sinto-me insultado e recuso-me agora a fazer petições.”

Apesar do pessimismo, Teófilo Braga continua a lutar pela causa ambiental, sabendo que os seus esforços poderão não ser totalmente recompensados em sua vida. No entanto, vive como um exemplo de como a dedicação à educação e ao ambiente pode criar um legado duradouro.

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