Autor: Rui Jorge Cabral
Desempenhou este ano a função de Comissário FIA em três provas
internacionais: o Rally di Roma Capitale, em Itália e o Rally Princesa
de Asturias, bem como o Rally La Nucía, em Espanha. Qual foi o seu
trabalho nessas provas e em que decisões importantes esteve envolvido?
Efetivamente
este ano estive envolvido em três provas FIA que contam para dois
campeonatos diferentes, ERC (European Rally Championship) e ERT
(European Rally Trophy), sendo que no Rally di Roma Capitale - que
pertencente ao ERC - estive como Comissário Desportivo FIA e no
campeonato ERT como Comissário Desportivo / Observador FIA no “Rally
Princesa de Asturias” e Observador FIA no “Rally La Nucía”, esta última
prova a ser observada e avaliada para integrar o campeonato ERT em 2021.
A função de Comissário Desportivo prendeu-se com decisões no âmbito
regulamentar das provas, garantindo o seu cumprimento e, na eventual
existência de infrações, aplicar as sanções previstas nos regulamentos
FIA e no regulamento particular de cada prova. Como Observador, temos a
incumbência de avaliar a prova em todas as suas vertentes, desde a
segurança, provas especiais, organização geral, entre outros e elaborar o
respetivo relatório da prova para a FIA.
Como compara o nível organizativo destas duas provas com aquele que o Azores Rallye já atingiu?
Neste
caso só poderemos comparar com o Rally di Roma Capitale e, apesar da
comparação ser algo subjetiva, pois contrariamente à nossa, a prova
italiana conta com uma estrutura organizativa profissionalizada, pode-se
dizer que a nossa prova, em termos organizativos, está mais bem
estruturada e operacionalizada.
Que medidas tiveram de tomar as
organizações desses ralis para fazer face à pandemia de Covid-19? Houve
aspetos de salvaguarda da saúde pública que correram mal nesses ralis?
Gostaria
de começar por realçar o esforço monumental que as organizações tiveram
de despender este ano devido à pandemia, por forma a conseguirem
colocar as suas provas na estrada, pois as exigências por parte das
Autoridades de Saúde foram sendo alteradas com o passar do tempo, o que
obrigou algumas organizações a refazerem o seu rali mais de três vezes
e, obviamente, com custos acrescidos para que tudo fosse cumprido. As
medidas que as organizações destas provas tiveram de tomar são em tudo
idênticas às que se pretendem praticar por cá, desde a elaboração de
planos de contingência a medidas que vão desde o cancelamento de
Super-Especiais e cerimónias que habitualmente juntavam muito público
(partida e chegada do rali); a proibição de público nos parques de
assistência; um forte incremento em meios audiovisuais para transmissão
‘live’ das PE’s e campanhas de sensibilização por forma a minimizar a
presença de público nas estradas, evitando desta forma grandes
aglomerações de público.
Com a aplicação de todas as medidas
definidas nos vários planos de contingência, julgo que tudo correu da
melhor forma e sem qualquer consequência negativa para a salvaguarda da
saúde pública.
Desta sua experiência no estrangeiro, há exemplos que
podem ser retirados para a organização do Azores Rallye de 2021,
sobretudo se a prova ainda for disputada em contexto de pandemia?
Julgo
que estas deslocações a outras provas são muito importantes, pois
dão-nos a possibilidade de conhecermos outras realidades e formas de
fazer as coisas, o que nos permite sempre retirar algo que possa ser
implementado ou alterado para que a nossa prova possa sempre ser
melhorada. Este ano, por força da, pandemia certamente existem exemplos que poderemos implementar no próximo ano.
Na sua opinião, que condições serão necessárias para que os ralis possam ser retomados nos Açores em 2021?
Infelizmente,
julgo que em 2021 os ralis ainda terão de ser realizados com algumas
restrições inerentes à pandemia de Covid-19, pelo que as organizações
deverão implementar medidas em tudo semelhantes às que se iriam
implementar este ano, caso as provas se tivessem realizado, pois todos
os clubes já tinham os seus planos de contingência elaborados. Convém
referir que estas provas decorrem ao ar livre e que se realizam na sua
maioria em zonas de terrenos privados, pelo que a exigência da
realização de provas sem a presença de público não será de forma alguma a
melhor opção, até porque é impossível de controlar.
Devem, sim, ser
implementadas medidas que minimizem a possibilidade de aglomerações de
público na mesma área por forma a manter os distanciamentos e garantir a
salvaguarda da Saúde Pública, aplicando para isso medidas definidas nos
planos de contingência específicos para os ralis.
Para que tudo
isto seja possível é de extrema importância que o público cumpra de
forma escrupulosa com o que lhe é solicitado e, por isso, apelo ao
sentido de responsabilidade e civismo de todos os amantes desta
modalidade, pois só assim teremos a possibilidade de ter provas na
estrada em 2021.