Açoriano Oriental
“A exigência de provas sem público não será de forma alguma a melhor opção”

António Medeiros, diretor de prova do Grupo Desportivo Comercial esteve em três provas internacionais ao serviço da FIA e viu no terreno as dificuldades de organizar ralis na Europa em tempo de pandemia. Admite que os ralis nos Açores se realizem ainda com restrições em 2021 e defende um maior controlo do público, mas não a sua proibição

“A exigência de provas sem público não será de forma alguma a melhor opção”

Autor: Rui Jorge Cabral

Desempenhou este ano a função de Comissário FIA em três provas internacionais: o Rally di Roma Capitale, em Itália e o Rally Princesa de Asturias, bem como o Rally La Nucía, em Espanha. Qual foi o seu trabalho nessas provas e em que decisões importantes esteve envolvido?

Efetivamente este ano estive envolvido em três provas FIA que contam para dois campeonatos diferentes, ERC (European Rally Championship) e ERT (European Rally Trophy), sendo que no Rally di Roma Capitale - que pertencente ao ERC - estive como Comissário Desportivo FIA e no campeonato ERT como Comissário Desportivo / Observador FIA no “Rally Princesa de Asturias” e Observador FIA no “Rally La Nucía”, esta última prova a ser observada e avaliada para integrar o campeonato ERT em 2021.
A função de Comissário Desportivo prendeu-se com decisões no âmbito regulamentar das provas, garantindo o seu cumprimento e, na eventual existência de infrações, aplicar as sanções previstas nos regulamentos FIA e no regulamento particular de cada prova. Como Observador, temos a incumbência de avaliar a prova em todas as suas vertentes, desde a segurança, provas especiais, organização geral, entre outros e elaborar o respetivo relatório da prova para a FIA.

Como compara o nível organizativo destas duas provas com aquele que o Azores Rallye já atingiu?

Neste caso só poderemos comparar com o Rally di Roma Capitale e, apesar da comparação ser algo subjetiva, pois contrariamente à nossa, a prova italiana conta com uma estrutura organizativa profissionalizada, pode-se dizer que a nossa prova, em termos organizativos, está mais bem estruturada e operacionalizada.

Que medidas tiveram de tomar as organizações desses ralis para fazer face à pandemia de Covid-19? Houve aspetos de salvaguarda da saúde pública que correram mal nesses ralis?

Gostaria de começar por realçar o esforço monumental que as organizações tiveram de despender este ano devido à pandemia, por forma a conseguirem colocar as suas provas na estrada, pois as exigências por parte das Autoridades de Saúde foram sendo alteradas com o passar do tempo, o que obrigou algumas organizações a refazerem o seu rali mais de três vezes e, obviamente, com custos acrescidos para que tudo fosse cumprido. As medidas que as organizações destas provas tiveram de tomar são em tudo idênticas às que se pretendem praticar por cá, desde a elaboração de planos de contingência a medidas que vão desde o cancelamento de Super-Especiais e cerimónias que habitualmente juntavam muito público (partida e chegada do rali); a proibição de público nos parques de assistência; um forte incremento em meios audiovisuais para transmissão ‘live’ das PE’s e campanhas de sensibilização por forma a minimizar a presença de público nas estradas, evitando desta forma grandes aglomerações de público.
Com a aplicação de todas as medidas definidas nos vários planos de contingência, julgo que tudo correu da melhor forma e sem qualquer consequência negativa para a salvaguarda da saúde pública.

Desta sua experiência no estrangeiro, há exemplos que podem ser retirados para a organização do Azores Rallye de 2021, sobretudo se a prova ainda for disputada em contexto de pandemia?

Julgo que estas deslocações a outras provas são muito importantes, pois dão-nos a possibilidade de conhecermos outras realidades e formas de fazer as coisas, o que nos permite sempre retirar algo que possa ser implementado ou alterado para que a nossa prova possa sempre ser melhorada. Este ano, por força da, pandemia certamente existem exemplos que poderemos implementar no próximo ano.

Na sua opinião, que condições serão necessárias para que os ralis possam ser retomados nos Açores em 2021?

Infelizmente, julgo que em 2021 os ralis ainda terão de ser realizados com algumas restrições inerentes à pandemia de Covid-19, pelo que as organizações deverão implementar medidas em tudo semelhantes às que se iriam implementar este ano, caso as provas se tivessem realizado, pois todos os clubes já tinham os seus planos de contingência elaborados. Convém referir que estas provas decorrem ao ar livre e que se realizam na sua maioria em zonas de terrenos privados, pelo que a exigência da realização de provas sem a presença de público não será de forma alguma a melhor opção, até porque é impossível de controlar.

Devem, sim, ser implementadas medidas que minimizem a possibilidade de aglomerações de público na mesma área por forma a manter os distanciamentos e garantir a salvaguarda da Saúde Pública, aplicando para isso medidas definidas nos planos de contingência específicos para os ralis.

Para que tudo isto seja possível é de extrema importância que o público cumpra de forma escrupulosa com o que lhe é solicitado e, por isso, apelo ao sentido de responsabilidade e civismo de todos os amantes desta modalidade, pois só assim teremos a possibilidade de ter provas na estrada em 2021. 






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