Autor: Lusa/AO online
Na intervenção final no debate das propostas de Plano e Orçamento para 2018, no parlamento regional, na Horta, ilha do Faial, Paulo Estêvão começou por dizer que este ano se assinala os 100 anos da Revolução Russa, que ocorreu no mês de novembro, mas também a “não menos importante revolução”, ocorrida também num mês de novembro, mas de 1996, quando o primeiro governo socialista dos Açores tomou posse, ao derrotar o PSD que liderou a região entre 1976 e 1996.
Reconhecendo a “enorme dificuldade que encerra o exercício de analisar estes três factos transcendentais, a Revolução Russa, a Revolução Socialista Açoriana e o Novo Ciclo orçamental, num só discurso”, Paulo Estêvão socorreu-se do livro “O Triunfo dos Porcos”, de George Orwell, e integrou, além dele próprio, um segundo narrador, o líder parlamentar do PS, André Bradford, em parte da história.
“George Orwell conta a história dos animais de uma quinta que se revoltam contra o homem que os tiraniza. Os animais são liderados por dois porcos, Bola de Neve e Napoleão, que os conduzem à vitória revolucionária”, referiu, explicando que “a Revolução Socialista de 1996 iniciou-se com um discurso memorável de Napoleão”, numa alusão a Carlos César: “Vinte anos em qualquer parte do mundo é demais, criam-se clientelas e favoritismos, é tempo de mudar a quinta dos Açores”.
Segundo o deputado monárquico, Napoleão disse ainda que “é mau e acarreta muitos males votar no mesmo partido depois de 20 anos de governo do mesmo”, sendo que os laranjas “já não conseguem esconder tendências que indiciam clientelismo e outras perversidades instaladas que, depois de tanto tempo no poder, acabam por ser normais”.
Porém, relatou o parlamentar, “logo no início da Revolução Socialista de 1996, as coisas começaram a correr mal” porque, “ao contrário do prometido no auge da revolução, os rosas cederam à tentação do poder e iniciaram práticas em tudo semelhantes às que tinham praticado os odiados laranjas”.
Continuando a “descrever” a recente História política dos Açores, Paulo Estêvão explicou que, na “primavera de 2012, Napoleão transferiu-se para a promissora quinta de Lisboa, mantendo, no entanto, a suserania total na quinta açoriana”, nomeando para seu sucessor o jovem Gengiscão, “um antigo e espigado presidente da juventude do partido rosa”, referindo-se a Vasco Cordeiro, eleito presidente do Governo dos Açores no final de 2012, que repetiu a vitória no ano passado.
Segundo o deputado, “nos últimos cinco anos, Gengiscão prosseguiu e aprofundou, em muitos aspetos a política autocrática de Napoleão”, assinalando que “o seu propósito é conquistar os derradeiros oásis de liberdade que ainda subsistem na quinta dos Açores e manietar todos os que, no terreno económico, não dependem das benesses do poder do partido rosa”.
E, se na história original, “O Triunfo dos Porcos”, a grande obra do regime era um moinho, na quinta dos Açores, “o Orçamento do Novo Ciclo prevê a conclusão da Casa da Autonomia”, uma obra para “imortalizar o regime e acolher os sarcófagos da elite da Revolução Socialista Açoriana de 1996”, sendo que, “esta decisão orçamental define tudo o resto”, considerou Paulo Estêvão.
“Resta-nos esperar a aurora de uma nova revolução. (…) Nascerão novos heróis e um mundo radioso de oportunidades surgirá à frente dos que o regime esqueceu e maltratou”, ocasião em que “serão impressas resmas de cartões partidários com novas cores”, disse, terminando o discurso com um “até amanhã, camaradas”.